Cap 10 - Estranho

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Acordei me sentindo dolorida, foi quando me lembrei que Rico esteve lá e dormimos no sofá. Mas agora eu tinha acordado sozinha, Rico não parecia estar em lugar nenhum. Meu apartamento é pequeno e Rico é expansivo demais para passar sem que alguém notasse.

Antes que eu levantasse, vi um copo de café e dois croissants. Do lado um bilhete.

"Sei que você vai me odiar, mas tive de ir embora. Aceite meu pedido de desculpas com esse cappuccino e croissants. Prometo que mais tarde eu ligo. Obrigada por ontem, você me segura direitinho.
Te amo Vale!"

Tomei meu café da manhã correndo, uma ducha rápida e meia hora depois eu estava saindo de casa. Bendito Rico! Se não fosse por ele, estaria saindo de casa com fome. Mas alguma coisa estava muito errada naquilo tudo, mais tarde ele ia ter de me contar.

O dia na gravadora foi corrido. Parei apenas para engolir um sanduíche e tomar dois cafés, estava abrindo a boca de sono. O combinado com Clara, era de que eu teria dois dias na semana para me dedicar ao projeto, nos outros dias era expediente normal. Então naquele dia, eu nem tive tempo para pensar nos garotos da Melous.

Entre uma reunião e outra, meu telefone do trabalho tocou.

-Alô?

-Valerie querida!

Ah não!

-Oi mamãe.

-Como está? Se eu não ligo, a senhorita esquece que eu existo.

-São dias corridos e...

-E você deve viver grudada naquele bonitão do Alex!

Droga! Minha mãe adora o Alex, vive planejando nosso casamento e dando nome aos netos que acha que daremos a ela. Nesse momento eu agradeço a Deus por ela morar tão distante, pois caso contrário estaria diante da minha mesa em 20 minutos, com o que vou dizer a seguir.

-Nós terminamos mãe.

-Você terminou com o pobre do Alex????!!!!

Não era uma pergunta, era acusação mesmo.

-Não mãe... Está mais para...

-Não me venha com desculpas, você já está com 32 anos Valerie e...

Ligo meu botão automático de dispensar sermões, enquanto ela discorre demoradamente sobre meus problemas de relacionamento, e como eu perco "ótimos partidos" por pura teimosia em ser uma mulher moderna. É, minha mãe está mais pra aquele modelo convencional de que mulheres cuidam do marido, do lar e dos filhos. Nunca agradei com meu desejo de ter uma carreira.

-Mãe, estou no trabalho.

-Está vendo? Você e esse seu trabalho! O pobre Alex deve ter se sentido isolado, largado.

-Mãe, preciso mesmo ir. Eu ligo mais tarde.

-Tudo bem, devo estar mesmo sendo um incômodo. Até mais Valerie!

Minha mãe adora um drama. Faço uma anotação mental sobre ligar para ela no fim do dia, e ouvir mais sermões sobre como me comportar para achar o homem dos meus sonhos. Eu nem discuto, por mais que eu conte tudo que aconteceu, ela sempre acha que o erro foi meu. Agora guardo minha palavras e minhas histórias. Pobre Alex! Deve estar chorando e sentindo minha falta, no colo de alguma morena do bundão.

Saio da gravadora sem conseguir pensar direito, minha cabaça está fervendo e doendo horrores. Tomo um tylenol que fica na bolsa e torço pra não pegar engarrafamento, lembrei que tinha deixado o carro em casa, ia chamar um táxi quando o meu celular tocou.

-Oi Alice.

-Vale, não nos vimos desde a Zumba! Onde você está?

-Indo pegar um táxi, acabei de sair da gravadora.

-Nada disso. Eu vou te pegar. Me encontra naquele restaurante chinês no fim da rua, compramos nosso jantar e você vai lá pra casa. A noite das garotas.

-Tudo bem. Você demora?

-Não, mas vai pedindo. Quero bifum de camarão e dois rolinhos primavera. Não esquece dos molhos.

-Ok!

Alice adora dar ordem e muitas vezes ela faz isso sem perceber, não protesto porque nesse momento estou precisando de carona e de um belo jantar descontraído. Mas Rico não saiu dos meus pensamentos, ele estava estranho e ainda não deu notícias o dia inteiro. Talvez ele queira se juntar a nós. Pego o celular enquanto procuro uma mesa para sentar no restaurante, que é modesto, mas tem uma comida fantástica.

Antes de ligar pra Rico, faço o pedido e digo que é pra viagem. Espero que Alice não demore, pois meu estômago despertou com esse cheiro.

Rico atende no segundo toque.

-Eu ia te ligar agora. - Falou parecendo cansado.

-Como você ta Rico?

-Bem.

-Não foi o que pareceu ontem.

-Eu vou conversar com você Vale, mas por telefone não dá.

-Então está acontecendo algo.

Ele suspirou. Rico mudou o tom de voz e parecia tenso.

-Vale, podemos nos ver hoje então?

-Claro! Alice e eu vamos pra casa dela, estou comprando a comida, por que não se junta a nós?

Ele ficou calado.

-Outra noite. Eu não queria Alice por perto.

-Mas por quê?

-É difícil explicar. - Pareceu reticente - A amizade da Alice e da Mon são importantes pra mim, eu só... Não consigo conversar tudo com elas. É isso.

-Hum... Tudo bem, acho que entendo. Mas o que sugere?

-Não sei. - Alguém o chamou - Olha Vale, preciso ir.

-Você está de plantão?

-Não... Quer dizer, sim. Beijo, eu te ligo.

-Beijo.

Rico estava escondendo algo. E aquela reserva com as meninas? Sempre achei que ele e Alice tivessem uma relação especial, cheguei até a achar que tinha um ar de flerte entre os dois.

Não tive mais tempo de pensar, porque Alice chegou e nunca deixa que prestemos atenção em nada além dela. Essa é minha amiga, com seus defeitos e qualidades, sempre me faz bem.

Noite das meninas, lá vamos nós!!!

Ímã de Traste (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora