Inverno seco de 2016, ensino superior, Matthayom.
No momento em que todos os olhares voltaram para si e os murmúrios começaram a se espalhar com o aumento das vozes, era como se a vida tivesse o certificando de que reconheceria sua nova estrada dali em diante; ou talvez, apenas mostrando as consequências de suas escolhas. No final, não importava muito por qual ângulo que se olhava. Nem mesmo as emoções que carregava tinham algum valor para a ocasião em que estava estabelecido diante aqueles desconhecidos.
O que estava feito, não poderia mais ser mudado.
Forçando os lábios ao colocar um sorriso no rosto, de frente a seus novos colegas de turma, Mew pronuncia seu nome completo ao se apresentar formalmente. Alguns gritos de entusiasmo são ouvidos, juntamente de palmas desenfreadas. Os olhares radiantes de algumas garotas sobre seu corpo o faz querer negar num movimento lento de cabeça, desanimado. Afinal, se pudesse ser capaz de gostar sexualmente de garotas como aquelas, em resumo, era óbvio que não estaria de frente a elas hoje. Tudo estaria perfeito, como sempre havia sido.
Deste modo, ainda estaria na casa de seus pais, brigando com seu irmão caçula pelo tempo em que demora no banheiro. Estaria rindo vestindo o uniforme as pressas enquanto sua mãe brigava consigo por pular o café da manhã outra vez e preferir comer qualquer coisa na rua, a caminho da escola. Sendo que ela mesma já havia lhe dado o dinheiro para tal ato. Uma ligação de seu melhor amigo receberia assim que pisasse o pé para fora de casa, informando que o esperaria na mercearia de frente a escola. As conversas altas dos outros estudantes soariam ao seu lado, atrapalhando entender a maioria das palavras que poderia apostar que se tratava de outra garota ao qual estava apaixonado. E então, como todas as vezes, seu pai teria gritado da cozinha para tomar cuidado na rua, depois de perceber o fechar da porta principal... Independentemente de que para muitos possa ser um tanto enfadonho, sempre a mesma coisa; agora, a parte enfadonha era tudo o que gostaria que continuasse a acontecer em sua vida.
No entanto, infelizmente, a sorte e a compreensão que tanto esperava por parte de seu pai; e, tudo o que havia planejado com cautela, se esvaziou tão rápido quanto um copo de sorvete na mão de uma criança. Mesmo que tenha se preparado para todos os tipos de reações, em sua cabeça, jamais imaginou que poderia ser tratado como algo sujo, podre, no meio de sua família. A possibilidade de ser expulso da própria casa era o que menos esperaria do homem cujo tanto se orgulhava em mostrar para seus amigos.
— Pode se sentar ali - O professor indica atrás de seu corpo, dando dois tapas de consolo em seu ombro esquerdo ao mostrar a ultima carteira perto da janela.
Perfeito, Mew pensa, realmente satisfeito com o lugar vago ao qual foi designado a ficar. Andando até a carteira, a voz enfática do professor anuncia o verdadeiro inicio das aulas ao recitar a página 106 do livro de geografia. Os olhares se desviam de seus movimentos enquanto se sentava na cadeira nada confortável, digna de qualquer escola.
De repente, o ar de alivio é solto numa lufada pesada.
A força de vontade de abrir a mochila e retirar algum pertence que seja soava como um grande desafio para o corpo que apenas se inclina na mesa, deitando parte do peito sobre a estrutura enquanto a cabeça se apoia na bolsa preta. O pesar do corpo sobre o objeto o arrasta por alguns centímetros a frente. Era desgastante. Embora todo inicio tenha seu valor e sua adrenalina, tudo o que Mew conseguia sentir, em certa raiva, se tratava da pura exaustão e amargor; ao qual, consequentemente, desejava com seu tamanho orgulho obstinado, não estar tão visível em seu semblante.
Enfiando as mãos debaixo da mesa oca, numa pequena distração para a preguiça óbvia, Mew subitamente se surpreende ao tocar em algo sólido e plano. O cenho se franze. Chamando sua atenção, a coluna se endireita ao puxar o que parecia ser um pequeno caderno. No entanto, sem que pudesse ser capaz de averiguar sua suposição, logo as enormes escrituras em sua capa, explicitamente lhe informa do contrário.
'Isto é um diário, não abra!'
Confuso por um instante, Mew permanece com diário escondido da vista de todos, preferindo colocar o objeto em seu colo do que em cima da mesa. Depois de ajeitar a bolsa para tampar ainda mais seu próximo movimento, verificando os lados direito e esquerdo, o mesmo acaba por se questionar se teria caído numa espécie de pegadinha. Afinal, no mínimo, era estranho. Que tipo de pessoa coloca bem grande as palavras 'diário' e 'não abra' numa mesma frase? Tudo apenas soava como um grande convite para abrir e ver seu conteúdo por dentro. E no fim, é isso o que acabou por fazer.
Sem que houvesse uma tranca ou algo para mantê-lo mais 'privado', Mew olhou a oferta em certa dúvida, tentando relembrar se teria ouvido alguém procurando por algo perdido a caminho da sala; contudo, nada lhe vinha a mente. Decidido a abrir por impulso da curiosidade de uma simples espiada, pela primeira vez dentre os cinco dias de puro tormento, Mew conseguiu sorrir, e então, se pôs a rir em seguida. Os lábios são tampados, o riso baixo e sincero que soa de sua boca deixa um ligeiro rastro de bem-estar em seu peito.
Naquele momento, tudo o que gostaria de gritar para os quatro ventos estavam descritos perfeitamente no papel amarelo de tom mais pastel.
Todos os tipos de xingamentos estavam expressos na folha, em três línguas diferentes; alguns de letras mais delicadas, outros mais desleixados, de modo como se pudesse ser visível toda a sua raiva. Como se duas pessoas diferentes tivessem escrito no pedaço de folha. Todas com raiva e ódio, o mesmo tipo de sentimento que estava sentindo e guardando silenciosamente para si.
Admirado e sossegado, Mew respira fundo, deixando de rir aos poucos, mas ainda mantendo o sorriso em sua expressão. Seja quem fosse a pessoa, certamente teria que agradece-la pela cortesia das locuções usadas. Possivelmente, ninguém nunca havia sido tão sincera ao ter um diário quanto o dono daquelas letras bagunçadas. Era engraçado, mas também acolhedor. Folheando outras folhas e parando em outras, Mew nota um detalhe que havia lhe passado despercebido.
Logo a atenção volta para a primeira folha rabiscada.
Debaixo de toda escrita, de cada folha usada a sua maneira, quatro letras quase invisíveis se 'destacam' de caneta amarela; todas somente escritas na ultima linha de cada página.
— Gulf.
Sendo minha primeira estória a ser postada nesta plataforma, espero sinceramente que tenham gostado! Sinto muito por qualquer erro ortográfico que o capitulo conter, e obrigada aos que leram até aqui ❤.
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Sua Cor
RomanceQuando Mew Suppasit havia encontrado aquele pequeno diário amarelo debaixo de sua carteira, o riso não pôde ser contido diante as palavras de alerta grifadas de vermelho. Na folha de apresentação, como todo diário que se preze, pelo menos um verso s...