Capítulo 08

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Henrico entrou agitado na sala do apartamento reservado pela Polícia Federal próximo ao prédio onde estavam hospedados Radmilo Plamem e seus dois comparsas. Dois agentes estavam sentados em sofás no espaçoso cômodo, com laptops às suas frentes. Outro agente estava na sacada, provavelmente fumando enquanto vigiava o edifício vizinho. Um dos agentes se ergueu e andou na direção de Henrico. Era Carlos Assis, coordenador da missão.

Antes de subir para o apartamento, Henrico se certificara de que outros agentes estavam posicionados nas ruas próximas ao Apart-Hotel Jangada e dariam continuidade na campana.

Henrico, olhando diretamente para Carlos, pegou seu notebook e, inclinando a cabeça para a cozinha, para lá se dirigiu. Assis o seguiu até a área de serviço, depois da cozinha.

– Não estamos sozinhos – disse Henrico. Percebendo o ar de incompreensão de Carlos Assis, explicou – A Irmandade Muçulmana está aqui.

Abrindo o notebook, Henrico mostrou o símbolo dos sabres cruzados sob um livro, mesma imagem que vira nas tatuagens dos dois indivíduos morenos do Restaurante Peixes do Brasil.

– Eu sei. Quando você ligou do carro pedindo apoio para a vigilância desses outros suspeitos e descreveu tanto o carro quanto os ocupantes, me debrucei sobre o sistema e descobri, entre os demais alertas biométricos dos últimos dias, que dois egípcios envolvidos com o terrorismo turco haviam entrado no Brasil. Imaginei logo, pela sua descrição, que se tratavam dos mesmos sujeitos.

Assis, então, deu as costas para Henrico e começou a andar.

– Agora, vamos para a sala – continuou Assis enquanto caminhava –, quero te mostrar o que encontramos no apartamento de Radmilo enquanto vocês estavam no restaurante.

O agente Assis, era nítido de se notar, tentava imitar os jeitos e trejeitos do superintendente Oliveira, mas com completo insucesso. Fisicamente era totalmente diferente do chefe. Assis era pequeno, magro, queixo fino e liso, tinha pele negra e, por conta de algum acidente do passado que deixara uma bela cicatriz junto ao olho esquerdo, tinha um tique constante de piscar esse olho. A voz era um tanto fina e a aparência nada imponente. Mas todos os agentes do grupo o admiravam. Então, era nítido também, que seria muito melhor se ele criasse seu estilo próprio.

Os notebooks dos agentes espalhados pela sala mostravam muitas fotos de um grande apartamento, com mobílias modernas e caras, bem bagunçado, é verdade, mas um lugar de dar inveja no seu pequeno apartamento na capital carioca.

O mais intrigante era um bilhete rasgado encontrado no lixo. Um dos agentes trabalhara com um software tradutor multilíngue e mesmo assim parecia tudo codificado e estranho.

Traduzindo, as palavras eram "Virgem Minerva" e "Pompeu", logo em seguida uma sequência alfanumérica "BRX-ICSU-0076438" e, mais abaixo, uma data, daqui a quase um mês.

– Ainda não sabemos do que se trata – disse Assis –, mas acreditamos que a Irmandade Muçulmana também está atrás disso. Enviamos a foto do bilhete para a equipe de criptografia da superintendência do Rio e também para outras superintendências. Logo saberemos do que se trata.

Nesse momento o celular de Assis tocou. Ele atendeu e, enquanto ouvia, uma expressão de espanto surgia em sua face, o olho esquerdo piscava mais rápido que o normal.

– Eles nos enganaram! – exclamou ele, agitando o braço direito, a mão esquerda ainda segurando o celular junto ao ouvido, o olho esquerdo muito piscando mais que o normal. As palavras sendo expelidas de forma desconexa – O apartamento está vazio, devem ter saído em outro carro... vamos, precisamos encontrá-los... vão! Vão!

Os demais agentes pegaram suas coisas e saíram apressadamente da sala em direção à garagem do edifício.

– Droga! Para onde foram? – e repetiu – Precisamos encontrá-los.

– Carlos – disse Henrico brandamente –, precisamos descobrir o que o bilhete significa, senão vamos ficar rodando pela cidade. Eu tenho uma suspeita... pode ligar para o setor de logística da superintendência?

– Logística? O que eles poderão fazer, se o pessoal da criptografia ainda não sabe de nada? – Carlos olhava para os olhos de Henrico, e este sustentou o olhar. Hesitou por um instante e por fim disse – Você é estranho Spada, mas tá bom... vamos ligar.

A Mão Negra (Conto em 10 capítulos - Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora