No domingo pela manhã, já de volta à cidade maravilhosa, Henrico, sentado num dos bancos da praça Mauá, o braço esquerdo imobilizado com uma tipoia, lia a reportagem especial do jornal, que explicava com detalhes como havia sido a ação da Interpol e da Polícia Federal que tinha se tornado notícia no Brasil e no mundo durante aquela semana.
Em resumo, terroristas estrangeiros haviam sido mortos ou presos e uma carga de explosivos, que partiria para a Europa, fora impedida de deixar o Brasil.
Henrico pensava que um dos grandes heróis, um herói anônimo como ele mesmo, tinha sido o Antônio, um dos técnicos da logística.
Quando ele atendeu o telefone na superintendência naquela fatídica tarde e ouviu o código do bilhete, repetido por Henrico, logo respondeu:
– Este é um BIC-Code, um código internacional de contêineres. As palavras "Pompeu" e "Virgem Minerva" devem ser nomes de navios... deixe-me ver... – E Henrico ouviu, pelo viva-voz do celular de Assis, o som do teclado de Antônio, até que este continuou – sim, tem um navio grego de nome Minerva Virgo no porto de Suape aí mesmo na região ao sul de Recife. Nada de Pompeu... Espera! O Minerva vai zarpar hoje mesmo e a última de suas paradas previstas será na cidade de Portsmouth, na Inglaterra. Uma vez trabalhei com um inglês de lá que chamava o lugar por outro nome. O apelido da cidade, entre os ingleses, é Pompey; só pode ser o tal "Pompeu" do bilhete traduzido de vocês.
Assim que Assis terminou de ouvir as explicações do técnico de logística pelo celular, desligou e fez contato com os agentes que dirigiam como baratas tontas pela cidade, ordenando que se encaminhassem para o porto da cidade vizinha.
Após a ação, e o retorno do Minerva Virgo que já zarpava, o esquadrão antibombas foi acionado para abrir o contêiner indicado no BIC-Code enquanto Henrico e outros policias feridos eram atendidos por médicos socorristas em duas ambulâncias que haviam chegado logo após o carro da equipe antibombas.
O contêiner estava carregado de flores de plástico e, bem embaladas entre elas, estavam dezenas de quilos de explosivo plástico, o C4 queridinho dos terroristas, preparado por Radmilo em um laboratório clandestino na própria região portuária.
Em poucas horas os agentes descobriram o laboratório e o invadiram, o que não tinha sido difícil. O que ocorre é que o C4 é um explosivo muito confiável. Você pode acender um isqueiro sob um tablete do explosivo em sua mão que ele permanecerá intacto. Mas não aproxime uma pilha ou bateria dele. O C4 somente explode sob ação de eletricidade. Portanto, bastou encontrar o galpão daquela região com o maior número de para-raios sobre o teto.
Os jornais nacionais e internacionais noticiaram, naquela mesma noite, a cinematográfica ação da Interpol e da Polícia Federal brasileira. Com imagens em vídeo das câmeras de segurança do porto.
E isso foi péssimo.
O diretor Neville Simonet ligou, da sede da Interpol em Lyon, para o superintendente Oliveira no dia seguinte à ação policial. O Francês estava muito zangado. Muito zangado mesmo. Ele disse que se a ação tivesse ocorrido em sigilo absoluto, o navio zarparia sem a carga e, quando chegasse na Inglaterra, os terroristas que iriam ao porto de Portsmouth para pegar os explosivos teriam uma surpresa. Mas agora, por conta de toda a repercussão internacional, eles não dariam as caras na Terra da Rainha.
"Quanto à Mão Negra", dissera ainda Simonet ao superintendente, "é melhor manter este assunto em sigilo. Está entendido? Vamos deixá-los acreditando que ainda estão nas sombras."
'Às vezes, me pergunto por que pensei em falar com alguém da logística.' – pensava o agente especial Henrico Spada – 'Imagino que o símbolo pirata tenha me inspirado a pensar em algum tipo de carga marítima.
Ou talvez esta seja uma das "coisas estranhas e coincidências inexplicáveis" de que falara o Francês. Melhor manter mesmo a mente aberta.
E eu, bem, eu tô muito satisfeito com minha primeira missão de campo.'
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Mão Negra (Conto em 10 capítulos - Completo)
Misterio / SuspensoO agente especial Henrico Spada investiga, na equipe de análise de perfis criminais, dossiês de alguns balcânicos suspeitos de envolvimento com o terrorismo internacional. Uma explosão no restaurante Inpek, em Podgorica, capital de Montenegro, em 20...