Capítulo 7

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⚠️ Gatilho para agressão verbal e física ⚠️

Any

- Onde você passou a porra do dia todo? – a voz de Lincoln ecoa por todo o cômodo e me arrepio por inteira.

Sabe aquele momento em que o mundo entra em pausa e toda a sua vida passa diante dos seus olhos? Pode parecer exagero, mas é assim que me sinto quando vejo Lincoln sentado no sofá da minha sala. Eu travo. Congelo.

Passo meus olhos pelo ambiente e por todo o seu corpo, tentando decifrar suas emoções para que eu saiba como agir. Conto quatro garrafas vazias de cerveja sobre a minha mesa de centro na, a única luz acessa é a da cozinha atrás de mim. Meu namorado balança os pés freneticamente e me olha com raiva. Seus olhos verdes apresentam um tom avermelhado, o que indica que ele havia fumado.

- Você perdeu a voz? – Ele pergunta com um tom irônico.

- Não acordei me sentindo bem, então fui passar o dia com Sabina. – Minha voz sai quase que em um sussurro.

Lincoln balança a cabeça em sinal afirmativo e se levanta vindo em minha direção e abaixando uma manga da minha blusa, logo em seguida ele puxa a alça do meu maiô e a solta com força, deixando uma sensação ardida em minha pele.

- Não estava se sentindo bem e mesmo assim foi a praia? – Ele cruza os braços e fica parado em minha frente com uma cara de quem espera explicações.

Mas que droga, eu precisava ser mais inteligente.

– Foi ideia da Sabina. – Minha voz vacila. – Ela queria que eu me sentisse melhor, só isso.

- Eu já estou tão cansado de escutar suas mentiras.

Minhas mentiras? Ele não pode estar falando sério.

- Veja pelo lado bom. – O encaro. – Pelo menos eu não estava fodendo com alguém no banco de trás do carro.

Era a segunda vez que jogava sobre ele o fato de estar me traindo. A primeira, e que jurei ser a última vez, fugiu do meu controle e não consegui “ganhar” aquela discussão.

- Não preciso me preocupar com isso. – Ele sorri de um jeito debochado e segura meu rosto com as duas mãos de forma rude. – Você é estupida, mas não ao ponto de me trair.

Estúpida. Estúpida. Estúpida.

Odeio essa palavra.

- Você tem razão. – Olho nos seus olhos pela primeira vez desde que essa discussão começou. – Não te trairia porque sou um ser humano infinitamente melhor que você.

Por um segundo me senti forte pelas minhas palavras, estava conseguindo responder a altura.

- Não, Any. – Ele ri e suas mãos puxam meu cabelo enquanto sua boca se aproxima do meu ouvido. – Você não me trai porque seria um esforço muito grande encontrar alguém que queira te foder.

Me sinto como um ratinho pequeno e assustado sendo intimidado por um gato.

- Já chega! – Protesto e tento sair de perto dele, porém suas mãos fortes puxam meu cabelo com muito mais força.

- O que deu em você para falar comigo desse jeito? – Ele praticamente cospe na minha cara.

- Estou cansada de brigar, Lincoln, acho que você deve ir embora. – Meus olhos lacrimejam e meu coração parece que vai sair pela boca.

Lincoln respira fundo e me solta de maneira bruta. – Ok, Gabrielly, como quiser.

Odeio quando ele me chama assim.

Uma vez, quando saímos com os amigos de Lincoln logo no início do nosso namoro, um deles, de nome Luke, passou a mão em minha bunda enquanto eu pegava uma bebida. Ele simplesmente passou a mão em mim sem permissão e riu logo em seguida. Me apressei para contar ao Lincoln, que disse no meio de todos os seus amigos que se eu não quisesse ser tocada, não devia me vestir como prostituta. Todos eles riram da minha cara e meu namorado veio até mim e sussurrou em meu ouvido que Gabrielly é nome de “puta”. Odeio esse dia com todas as minhas forças. Lincoln teve a capacidade de me fazer odiar até mesmo meu próprio nome.

- Eu já falei que não gosto quando me chama assim. – Disse quando ele esteva quase saindo. Devia ter ficado quieta, mas não estava suportando a raiva que crescia em mim.

- Como se eu desse a mínima para o que você fala, não é, Any? – Ele pronunciava meu nome com nojo, e não fazia questão alguma de esconder isso.

- Sabe de uma coisa? – Me aproximei dele e ergui a cabeça, já estou cheia disso. – Se eu sou tão indiferente assim para você, por que ainda estamos juntos?

Lincoln me encara por um longo tempo e depois solta uma gargalhada alta.

- Não estou entendendo o motivo da risada.

Ele se aproxima de mim e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. – Any, Any... – Ele me olha com superioridade. – Você não é nada sem mim, amor.

Dessa vez, foi minha vez de gargalhar. Eu estava, literalmente, rindo na cara do perigo.

- Você só pode estar brincando comigo. – Rio, mas na verdade nem acho graça, só quero irritá-lo até que vá embora.

[ Play Medicine by Daughter ]

Meu namorado ri irônico junto comigo, mas para bruscamente e me olha de um jeito que jamais havia feito. Ele me empurra na parede, me prensando pelo pescoço com suas mãos fortes. Vejo a raiva nos seus olhos, o desprezo...

Não consigo respirar, nem pronunciar algo, sinto que meus pés não tocam mais o chão. Coloco minhas mãos junto as dele na esperança de conseguir tirá-las de lá o mais rápido possível. Alguns segundos, que pareciam uma eternidade se passam e os olhos de Lincoln transmitem uma coisa nova. Prazer. Ele estava gostando de me ver sufocar aos poucos.

Nesse momento, penso em Josh, e em como eu desejava que ele batesse em minha porta agora. Flashes de todos os momentos do dia passeiam pela minha memória. Se eu for morrer agora, faço questão de que essas sejam as únicas coisas que eu pense.

Lincoln me desencosta da parede e puxa para bem perto dele, ainda com as mãos em meu pescoço. – Não é tão boa agora, não é? – Ele grita. – Vamos, dê risada de mim, quero ouvir.

- Por favor...- É tudo o que consigo dizer quando ele afrouxa as mãos levemente.

Ele ri, solta meu pescoço e me empurra com a maior rapidez do mundo. Pela falta de ar e de forças que eu estava, o seu empurrão faz com que eu caia de cara na mesa de centro da sala. As suas garrafas de cerveja, juntamente com um pequeno vaso de flor que eu havia colocado lá, se espatifam pelo chão. Minha cabeça lateja, meu rosto arde e sinto algo quente escorrendo do lado direito do meu rosto. Sangue. Um corte foi feito pouco acima da minha sobrancelha.

Must have been the wind Onde histórias criam vida. Descubra agora