Capítulo 10 - Despedida

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Nos últimos sete dias Hendery teve dificuldades em sair da cama. Ten tentava ignorar esse comportamento o máximo que podia fechando os olhos para os grãos de areia que continuavam a escorrer pela ampulheta. Entretanto era impossível não pensar sobre o tempo se esgotando e ele irradiava de alegria toda vez que Hendery se mantinha de pé ou com um maior esforço inventava diversas brincadeiras com Yuta.

O sétimo dia foi em uma quinta-feira. Ten sempre irá lembrar. Ele havia acabado de chegar da faculdade e segurava uma sacola cheia de brinquedos. "Yuta precisa de brinquedos novos. Ele é um bom cachorro, merece brinquedos novos." Hendery havia se queixado pelo filhote ter apenas um ossinho de borracha e uma bola para se divertir. 

– Ten…? – a voz fraca do robô arrasta o garoto rapidamente para o quarto. Ele havia estranhado aquele silêncio. Geralmente quando chegava em casa depois da aula podia sentir a energia de duas criaturas carregando o ambiente. Isso quando não se deparava com almofadas ou o que quer que Yuta espalhasse pelo chão.

– Hendery, você… – ele paralisa ao observar o companheiro. Hendery estava do mesmo modo que Ten o havia deixado antes de sair, exceto que agora aparentava estar com muita dor, mesmo que não fosse capaz de sentir nada parecido. Yuta se encontrava deitado ao lado dele com a cabeça sobre seu peito. – Eu estou aqui. Eu estou aqui. – ele diz se ajoelhando ao lado da cama e segurando a mão do robô com uma das suas enquanto a outra acarinhava seu cabelo.

– Eu não quero ir. – Hendery diz com uma voz abafada. 

Ten beija a mão de Hendery. Ele estava demasiadamente gelado.

"Eu não quero que você vá." O garoto pensava, mas não poderia deixar que escapasse em palavras. Ele não queria que Hendery partisse sabendo que o havia deixado com aqueles sentimentos.

Ele havia controlado as palavras, mas suas reações o traíram. Hendery não conseguia olhar para Ten, uma vez que estava tendo dificuldade em abrir os olhos, mas sentiu algo quente pingando em sua pele fria. As lágrimas que Ten estava esforçando em manter para si acabaram por escorrer em seu rosto até tocarem Hendery. 

– Me desculpe, Ten. Penso agora que talvez não devesse tê-lo cativado.

– Me cativar foi a melhor coisa que você fez.

– Mas você vai sofrer. "Mas tu vais chorar! Então, não terás ganhado nada! – disse o princepezinho." – Então não terá ganhado nada.

 Terei sim. "Terei sim. – disse a raposa. – Por causa da cor do trigo." – Por causa das lobélias azuis.

Hendery mal consegue movimentar os músculos de sua face, mas felizmente movimenta o suficiente para que Ten veja um pequeno sorriso brotando depois de seu comentário. – Fico feliz por isso. – ele diz.

A vontade de Ten era se acabar em prantos ali mesmo, gritar descontroladamente, abraçar Hendery fortemente e dizer que ele não poderia ir. Ele deveria ficar. Eles não haviam aproveitado o suficiente. Havia lugares que Ten gostaria de mostrar a ele. Histórias que gostaria de contar. Hendery se encantava facilmente com as coisas. Ele queria mostrar o quão o mundo lá fora era belo. Mas ele não poderia. Hendery passara todo o tempo de sua curta vida naquele apartamento. O máximo de contato que havia tido era com a faculdade de Ten e pequenos lugares sociais. Ele não conheceria o mundo que Ten gostaria de mostrar a ele. O garoto se arrependeria o resto de sua vida por não poder proporcionar esses momentos ao companheiro. 

– Você merecia alguém melhor do que eu. – Ten se lamenta com cabeça baixa. 

Silêncio.

– Nunca. – Hendery diz quase sussurrando. 

Boyfriend Material | tenderyOnde histórias criam vida. Descubra agora