V
Loucura
O meu vagão foi parando lentamente até parar com uma porta direcionada uma espécie de quarto iluminado às velas. Levantei-me e olhei para o corredor do vagão. E lá estava novamente Tânato. Com sua postura elegante, ele me fitava com seu olhar vazio.
— O mundo está perdido, não há solução — Disse.
— O que está acontecendo? Por favor me diga!
Ele apenas apontou para o quarto, quando tentei voltar meu olhar nele. Ele já havia desaparecido. Caminhei para o quarto, com passos pesados. Depois de tudo o que eu havida passado, as coisas estavam perdendo o sentido para mim. O quarto era pequeno, porém bem arrumado e bem iluminado com velas. Olhando em volta encontrei uma pequena chave que era leve. Nela tinha amarrado um bilhete, em baixo estava a palavra "loucura" riscada e em cima dela, como se fosse uma correção, estava a palavra "Arte".
Encontrei uma porta em minha frente coloquei a chave e a abri. Eu já estava em meu limite, não conseguia compreender o que estava acontecendo. A porta abriu para um corredor com várias outras portas. Coloquei a minha mão sobre minha cabeça e corri. Gritei. Lagrimas saiam do meu rosto, e continuava correndo entre portas. E portas. E portas. E portas. E portas. E portas. Corredores, após corredores e mais corredores. O que me adiantava ter meu nome naquele lugar, o que adiantava ficar naquele lugar sem saber meu propósito.
Corri. Pela minha sanidade. Corri de mim. Enquanto corria, os corredores ganhavam cores, que começaram a formar uma plantação enorme de trigos. Era aquilo que eu queria. Liberdade e paz. Após correr tanto eu tropecei, cai em um vão na plantação e quando eu menos percebi, me encontrava em uma praça. Várias pessoas procuravam seu caminho. Um homem tinha sido enxotado de um teatro com suas fantasias no chão. "louco" gritavam "não entre mais aqui". Em meio à confusão uma criança chorava um líquido preto. Todos que passavam iam sumindo com o vento, até restar apenas criança e a sua tristeza.
Olhei em minha volta, apenas uma parte da praça estava ali, com um palco com a faixa "A morte e a humanidade". O resto era uma imensidão branca. Surge próximo de mim Tânato, que jogou no chão a bengala que carregava consigo e a sua cartola, como se visse alguém que sentia muita falta. Ele me olhou atravessado. Atrás de mim, do outro lado da praça estava a macabra mulher de boca costurada. Tânatos em passos rápidos se aproximou dela e com olhar de ternura, contemplou-a e pós sua mão no rosto dela e comentou.
— Eu me pergunto todos os dias, que tipo de monstro seria capaz de fazer algo tão cruel em uma criatura tão bela?
Após isso ele a abraçou. A mulher agora estava chorando e para minha surpresa, ela o abraçou também. Os dois começaram a dançar sutilmente, em uma dança inesperada como um casal tímido em um baile e foram sumindo na imensidão branca.
Eu me direcionei até a garotinha que estava chorando me agachei, limpei suas lagrimas negras e tentei distraí-la com uma piada e brincando com seu ursinho de pelúcia. Após de várias risadas inocentes, perguntei onde estavam seus pais e ela me respondeu sem nenhum sentimento: "Mortos". Ela me abraçou gentilmente e me perguntou meu nome. Eu entrei em uma espécie de transe e não consegui reponde-la. Ela havia voltado a chorar. Mais forte dessa vez. Saia um líquido preto pelos seus olhos, ouvidos, nariz e boca. Agora não conseguia tocá-la e nem pegar o urso de pelúcia que ela tinha deixado cair no chão. Consegui ouvir barulhos de uma confusão em língua estranha e segundos depois um barulho de tiro e outro novamente que acertou a garota. Afastei-me assustado com a cena e coloquei minha mão sobre a boca. Após isso percebi que agora eu estava com uma roupa elegante, a mesma que Tânato usava.
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A Mansão Lúgubre
ParanormalEle desperta em um cômodo vazio, sem saber seu nome, onde está ou o motivo estar ali. Então vai procura de respostas, explorando a mansão e encontrando seus estranhos moradores, encarando momentos que põe sua vida e sua sanidade em jogo.