IV
Revolta
Agora me encontrava em um ambiente sujo e malcuidado. Lâmpadas amareladas iluminavam o cômodo cinza. Em minha frente tinha um painel de vidro, antes mesmo de dar algum passo, dois homens altos e fortes vieram em minha direção. Um vestia calça preta com um suspensório e uma camisa vermelha por baixo, junto com uma boina, o outro era idêntico em todos os aspectos, mas sua roupa era de cor azul. Apesar de parecerem humanos, era possível ver feridas expostas em seus braços e rostos, mas agiam como se não tivessem as feridas hórridas.
— Chegou na hora certa, amigo! — Disse o homem de vermelho empolgado, apanhou meu braço com força e me puxava até o painel de vidro.
— Estamos prestes a fazer uma punição em nome da Justiça e por aquilo que é mais justo. — Completou o outro, de azul, acompanhando a caminhada.
— Finalmente vamos varrer esse mundo da maldade! — Disse o eufórico homem de vermelho mostrando o painel escuro como se fosse sua obra prima.
— A maldade e a injustiça! — O calmo homem de azul contemplou o painel de vidro — Veja você mesmo. — Com uma força absurda ele forçou minha cabeça para olhar o painel que nada mostrava por enquanto.
As luzes ligaram e era possível ver uma besta completamente medonha. Lembrava-me lobos gigantes, só que sem pelos e parecia não ter olhos. Fazendo sua boca com dentes afiados parecer gigante. A fera estava presa em correntes, nunca tinha visto ser tão bravo. Após alguns minutos a correntes foram eletrocutadas fazendo a besta se contorcer e queimar aos poucos. Os gêmeos admiravam a cena com triunfo. Em seguida era visível mais outro mostro, mas esse foi queimado vivo ali mesmo, e assim apareceram outros e outros e outros. Cada um era morto de diferentes formas e do pior jeito possível de se imaginar.
— Mantenha a cabeça erguida — Disse o homem de azul percebendo que meu rosto tentava desviar, para não assistir as cenas violentas.
— Está gostando? — Disse o homem de vermelho. — A maravilhosa violência revolucionária.
— Eu... Não acho certo. — Respondi – Essa não deve ser a melhor forma de...
A felicidade desapareceu do rosto do homem de vermelho. Ele me lançou no chão violentamente, e com sangue nos olhos me respondeu.
— Você vai sentir pena desses monstros?
— Tolo! — Disse o homem de azul.
— Parvo! Isso que estamos fazendo não chega aos pés do que eles fazem. Estamos levando justiça para aqueles que foram mortos injustamente. E você sabe muito bem o que é isso, não é Sr. Tânato?
Tânato? Me perguntei. Teriam eles me confundido. Seria esse o meu nome?
— Ele tem muito que aprender ainda, irmão. — Disse o mais calmo. — Ainda irá lutar ao lado da justiça e ser parte da família. — Ele me estendeu a mão e me ajudou a levantar. — Irei colocar mais prisioneiros lá, para mostrar nosso novo método criado, aguardem.
As luzes da sala do painel se apagaram. Fiquei na sala com o homem de vermelho, que aguardava ansiosamente pela próxima leva de torturas.
Após um tempo, as luzes começaram a ligar, mas o homem de azul ainda não havia voltado. Estranhando a situação o seu irmão ficou um pouco inquieto. Um barulho estranho dentro da sala de tortura se inicia e quem apareceu amarrado na cama era o próprio homem de azul. Desesperado o homem de vermelho espancava o painel numa tentativa estúpida de tirar seu irmão de lá. Tentou apertar os botões e cortar os fios, mas de nada adiantava. Enquanto isso uma serra se aproximava do pobre homem de azul para cortá-lo na horizontal, e durante esse tempo ele levava breves choques fortes. Os dois irmãos estavam desesperados, tanto o ameaçado de morte, quanto o espectador de tal ato. Em meios a gritos, as lâminas chegavam mais perto e o homem de vermelho lamentava por não consegui fazer nada sobre o fim de seu irmão.
Não ouve tempo do homem de vermelho chorar e ver como aquilo terminava, pois a porta pelo qual havia entrado estava sendo amassada por empurrões.
— Os desgraçados nos acharam, mas que droga! — Ele socou a parede. — Corre Tânato! Fuja!
— Fugir? — Respondi confuso.
— Vai logo! — Disse ele procurando algo na escuridão.
— Para onde?
— Ah droga! — Ele sacou uma espingarda na mão — Vamos logo, me segue!
Enquanto o seguia, o portão estourou e saíram vários daqueles monstros que estavam sendo torturados. Pareciam cães ferozes e famintos. Eram muitos. Antes de deixar a sala conseguimos ouvir um som do grito do irmão torturado.
Corríamos em corredores que pareciam infinitos, que sempre terminava em uma bifurcação. O homem levando a espingarda na frente parecia saber o caminho de cor.
— Virando à esquerda, vamos ter que pular para o trem! — Disse ele gritando, pois os monstros ao fundo rugiam horrivelmente
— O quê?!
De jeito inusitado o trem surgiu ao nosso lado como se fosse as portas dos corredores.
— Agora!
Logo após do homem de vermelho se jogar em uma das portas eu fiz o mesmo. Agora estávamos em um vagão de um trem, o homem atirava com sua espingarda para matar as bestas que conseguiram nos alcançar.
— Liberdade, igualdade e paz! — Gritou após o último tiro. — Seus desgraçados.
Naquela cena, encontrava-me no chão do vagão. Eu estava a uma gota de perder minha sanidade. Estava tentando raciocinar o que tinha ocorrido. Enquanto isso, o homem que havia perdido seu irmão gêmeo me estendeu sua mão. Antes que eu pudesse segurar, três daquelas bestas entraram no vagão e avançaram nele de forma covarde. Na minha presença eles o mataram arrancando pedaços do corpo dele. Após se satisfazer com a morte do homem, uns dos três se aproximou de mim e eu me afastei lentamente. Ele me deu um golpe violento com sua garra, não queria me matar, me achava um oponente fraco demais, após isso fugiu junto com os outros. O vagão onde estava o corpo do homem de vermelho se soltou e ficou para trás até desaparecer.
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A Mansão Lúgubre
ParanormalEle desperta em um cômodo vazio, sem saber seu nome, onde está ou o motivo estar ali. Então vai procura de respostas, explorando a mansão e encontrando seus estranhos moradores, encarando momentos que põe sua vida e sua sanidade em jogo.