Alguém em fuga

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 Meu vôo não teve atrasos, o que foi um péssimo sinal. Eu precisava de um tempo a mais.

É, eu estou surtando. Quem não estaria? Estou me jogando em uma situação para a qual não estou nada preparado e não sei se em algum momento eu estaria. Meus pais estão mortos, então não posso recorrer a eles para me ajudar nesse momento. O que aconteceu na minha antiga universidade não pode me perseguir para sempre, preciso seguir em frente.

Me mudei para o outro lado do país na esperança de deixar tudo para trás, mas duvido que algum dia eu consiga fazer simplesmente esquecer.

Preciso, nesse momento, me concentrar em fazer o que aceitei fazer.

Oficialmente eu não sou sozinho no mundo. Tenho um tio, mas ele vive na Inglaterra e não temos muito contato. Meus pais morreram há 2 anos e deixaram tudo o que tinham para mim, o que inclui várias casas espalhadas pelo país e muito, muito dinheiro. Eu sou um cara de 20 anos cheia da grana.

Sou também um atleta, e só por causa disso consegui uma oportunidade tão boa de me transferir para a Universidade de Palmetto, para jogar no time das raposas. Eles foram campeões no ano anterior, e acompanhei o desempenho deles como um lunático desde o início - mesmo que nossos times não estivessem na mesma liga.

Wymack, o treinador do time, entrou em contato comigo no momento em que foi divulgado minha procura por um time novo. Sem perguntar por detalhes do porquê de eu estar me transferindo de uma das melhores universidades do país, ele me ofereceu uma posição em seu time e a oportunidade de me mudar o quanto antes. Aceitei na mesma hora.

E é por isso que agora estou aqui, no aeroporto, dois dias antes do semestre iniciar. Perdi as semanas de treino do fim do verão pois ainda estava em terapia na minha cidade antiga, e precisava ter meu apartamento pronto para o momento em que chegasse aqui. É, eu me nego a ficar em um dormitório. Depois de tudo o que passei, preciso ter a certeza de que estarei em um espaço só meu.

Quando pego minha bagagem na esteira e vou em direção onde as pessoas ficam esperando, procurando por um rosto conhecido. Decorei a fisionomia de cada jogador do time, do ano anterior e dos novatos, para me sentir mais confortável quando fosse a hora de conhecer o time. Então, mesmo se ele não estivesse segurando uma folha tosca com meu nome escrito, eu saberia quem é.

Bom, saber eu não sei. Porque infelizmente mandaram um dos gêmeos Minyard.

- Oi. - Falo assim que chego próximo. Ele amassa a folha com meu nome, sai andando como se tivesse a certeza de que vou segui-lo e me ignora até chegarmos no carro. Pelo mal humor, eu suponho que seja o Andrew, o gêmeo tido como problemático por todos.

Ele destrava um carro esportivo, chique, do tipo que meus antigos amigos teriam. Sinto receio e travo, sem ter coragem de me aproximar. Quando ele abre a porta do motorista, percebe que eu estou afastado e encarando seu carro.

- Vai entrar ou não, Josten?

- Esse é o seu carro?

- É. Algum problema?

Sim?! Mas como eu digo para ele que na última vez em que entrei em um carro assim, eu acabei sendo drogado e abusado?

Prefiro não comentar nada, o que me faz jogar minha bagagem no porta malas e sentar no banco do passageiro. Coloco o cinto e fecho os olhos, apoiando a cabeça no encosto atrás de mim. Respiro fundo algumas vezes, como meu terapeuta me ensinou.

- Você tá passando mal, por acaso?

Nego com a cabeça, e com isso ele liga o carro e dirige, indo em direção à saída do aeroporto.

Vertrau mir || AFTGOnde histórias criam vida. Descubra agora