Capítulo 1

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Kageyama me olhava de um jeito bizarro, de uma forma que me fazia tremer na base mesmo, sua aura negra preenchendo o seu redor todinho. Suas mãos apertavam a bola de vôlei com força e eu me perguntava se ele estava imaginando o meu pescoço no lugar. Parecia um doido. Será que ele tinha enlouquecido de vez?

Porque parecia. Ele estava ali, me olhando ainda mais estranho que o normal, e eu nem tinha feito nada. Quer dizer, eu tinha, mas tinha feito certo, poxa! Eu tinha recebido a bola direitinho, como o Nishinoya-senpai tinha me ensinado, e depois ainda tinha cortado certinho quando ele levantou para mim.

Eu jurava que tinha feito tudo certo, aí virei para comemorar com ele e me deparei com aquela bizarrice negra me encarando, os olhos transbordando uma intensidade mortífera. Se isso tivesse acontecido há alguns meses, meu estômago já estaria se contorcendo todinho com a possibilidade de ser substituído por algum erro que eu nem tinha notado cometer, mas agora eu só estava confuso. O que eu tinha feito, afinal?

"Ei, Kageyama". O capitão apoiou as mãos em seus ombros, mas os olhos azuis não desgrudavam de mim. "A gente tem que terminar esse jogo antes que fique muito tarde, sim?"

Kageyama pareceu voltar a si e me deu as costas, sem mais nem menos, sem nem um comentáriozinho sequer. Olhei para Daichi-san, que apenas deu de ombros, também estranhando todo aquele comportamento bizarro.

É, acho que ele endoidou de vez mesmo.

Me esforcei ainda mais durante o resto do jogo, querendo evitar todo aquele climão novamente. Havia conseguido até mesmo bloquear um corte do Tanaka-senpai, mas tudo o que recebi do meu companheiro de equipe foi um olhar irritado, de novo. Será que não era para eu ter bloqueado totalmente para não deixar o Tanaka chateado? Mas não era para jogar sério? E se fosse por isso,se não fosse pra eu ter bloqueado, por que o treinador tinha me elogiando?

Aqueles pensamentos não deixavam de me atormentar. Mas que saco! Kageyama tava agindo dessa forma mais psicopata que o normal há alguns dias, aproveitando toda oportunidade possível para me fuzilar com o olhar, como nas vezes que nos trocávamos no vestiário. Ele me encarava enquanto eu tirava a camiseta, e pelo olhar que ele me dava parecia que ele queria mesmo era que meu uniforme de treino se transformasse em uma cobra e me estrangulasse até a morte me fazendo estremecer toda vez. Doido de pedra.

Mesmo quando andávamos lado a lado na rua, eu conseguia sentir seus olhares maquiavélicos de esgueio em minha direção. Ele ficou bem quieto, como o normal, mas eu tentava me distrair com Noya-san e Tanaka-san, prestando atenção no que eles diziam sobre seus jogos ainda no fundamental e tentando não me aterrorizar com aquele surtado.

Foi rindo por suas histórias que acenei uma despedida para os senpais, virando a esquina que dividia nossos caminhos. Assim que virei as costas para os mais velhos, o clima ao redor pareceu perder toda a leveza, o mal humor do meu levantador pesando como uma tonelada sobre nós dois.

Suspirei, cansado. Eu costumava adorar nossas idas para casa, pois era o momento mais tranquilo do meu dia. Eu acordava já correndo para não me atrasar, pedalava como louco pela montanha e, desde da vez quando quase levei bomba nas provas, passava meu dia inteiro tentando me concentrar ao máximo em meus professores, diminuindo muito meu número de sonecas durante as aulas. Depois, eu dava meu sangue e suor nos treinos e, enquanto caminhava com meus companheiros de time pelas ruas nos fins de tarde, sentia todo o peso do dia se evaporar de meus ombros. Na parte do caminho onde só estávamos eu e Kageyama, o clima parecia ficar leve, mesmo quando competimos por alguma coisa besta. Parecia que simplesmente estávamos soltando todo fôlego do dia e isso era, por algum motivo, reconfortante.

Agora, com ele estranho desse jeito, nem isso eu tinha. Era tensão o dia inteiro, já que enquanto caminhávamos na rua escura eu quase podia ouvir seus pensamentos malignos, e a cada dia que passava eu me perguntava se devia realmente me preocupar. Nossa última briga ainda estava fresca em minha memória, quando ficamos semanas sem nos falar após sairmos no tapa na quadra. De tudo aquilo, a única coisa boa que conseguimos fora o up-grade no nosso ataque doido, mas eu não estava disposto a uma briga daquelas de novo apenas para melhorarmos no vôlei.

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