Capítulo 4

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Eu não acho que a minha cabeça estava funcionando direito quando finalmente saí de trás da quadra e fui, automaticamente, para o único lugar que eu conseguiria comida facilmente. Talvez comer diminuísse os gritos desesperados que meu cérebro dava.

Eu também tinha noção de que estava andando meio estranho, mas não podia fazer muita coisa além de esperar a minha morte com a barriga cheia. Porque era isso que eu estava pensando que iria acontecer comigo em consequência de tudo que eu estava sentindo: eu ia morrer. Meu estômago revirava de forma dolorosa, minha estava quente e fria ao mesmo tempo, e eu suava em bicas e tremia como vara verde. Fora que eu parecia ter subido uma montanha, de tão rarefeito que o ar parecia estar.

Ou eu apenas estivesse surtando.

Poderia ser isso.

Era isso.

É.

Eu estava surtando demais.

Kageyama gostava de mim, tipo, que diabos? Como? Quando? E, pelos céus, por quê? Eu não sabia como reagir. Ninguém tinha se declarado para mim antes!

Quer dizer, como eu deveria agir daqui em diante? Ele era meu amigo, eu deveria tratá-lo normalmente, então? Ou deveria me afastar, para não magoá-lo? Mas eu não queria me afastar, poxa! Será que eu devia conversar com ele? Para ver se os sentimentos dele não eram só um mal entendido?

Ah, céus. E se tivesse sido eu a entender as coisas errado?

Isso seria constrangedor, porque eu me conhecia bem o suficiente e sabia que sempre teria essa pulga atrás da orelha.

Merda.

Eu não ia conseguir agir normalmente! Como eu iria treinar com ele agora? Como iria encará-lo? Ele riria tanto da minha cara se eu tivesse concluído tudo errado!

Isso seria tão... tão... decepcionante?

Soltei um grito estrangulado quando senti uma mão em meu ombro, me virando rapidamente, pronto para ter um infarte. Lev me encarava curioso e, sentindo as bochechas arderem, vi que boa parte do refeitório me olhava.

"Shouyou?", chamou Kenma, aparecendo ao lado do gigante albino. "Você tá bem?"

Eu engoli em seco e sacudi a cabeça de forma afirmativa, quase correndo para uma máquina de comida e pegando o primeiro salgadinho em que botei os olhos. Quando percebi que Kenma me esperava, ainda preocupado, forcei um sorriso e o segui para uma mesa, sentando-me com ele.

Olhei ao redor, nenhum sinal de Kageyama, e eu não sabia se me aliviava ou não com isso. Tentei me intrometer na conversa algumas vezes, mas sempre falava coisas sem sentido, pois não estava realmente prestando atenção. Resolvi ocupar a boca com os salgadinhos, tentando me livrar dos olhares preocupados que os demais jogadores me davam.

Minha atenção foi completamente tomada de volta para o assunto ao meu redor quando a voz de Kuroo se sobressaiu às outras, fazendo uma nova idéia pipocar em minha mente:

"O Tsukki foi para o cinema com o Yamacutie e nem me deixou ir junto, acredita?", ele riu enquanto Kenma se remexia ao meu lado. "Me disse que eu não o deixaria assistir o filme em paz! Um absurdo, é o que eu digo."

Pulei do banco assim que ele terminou de falar, despedindo-me de qualquer forma e correndo em direção ao alojamento. Tsukishima e Yamaguchi estavam fora e Kageyama não estava no refeitório. Se ele estivesse sozinho, se eu o encontrasse, eu ia colocar toda essa história a limpo.

Ele foi muito maldoso de não me explicar direito, só ter surtado e sumido como ele fez, porque ele sabia que eu ia ficar encanado, ele me conhecia bem o suficiente para isso. E mesmo que ele precisasse de um tempo, e que esse pensamento me deixasse mais nervoso do que eu já estava, eu precisava entender, e eu tinha quase certeza que ele sabia que eu o procuraria uma hora ou outra.

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