Capítulo 2

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Kageyama não tinha melhorado muito o comportamento desde aquela noite, muito menos tinha me dado algum outro elogio. Na verdade, parecia mais tenso do que nunca, e eu sempre o pegava me olhando de um jeito esquisito. Quando isso acontecia, de eu pegá-lo me olhando daquele jeito, ele desenvolveu o estranho costume de simplesmente desviar o olhar como se tivesse cometido um crime. Depois daquela cena na rua, foi fácil identificar que ele fazia isso porque estava envergonhado, com direito até a uma coloração meio rosinha no alto de suas bochechas. Eu só ria e voltava a fazer o que quer que estivesse fazendo, às vezes ouvindo-o bufar alto do meu comportamento.

Suas agressões também estavam meio estranhas, se é que isso é possível. Ele não me batia mais tão forte, mas em compensação a frequência com que ele vinha para cima de mim ficou muito alta. Ele também evitava segurar a minha cabeça como ele costumava fazer e, depois de alguns dias, seu aperto de ferro começou a vir com muitos xingamentos, por mais que a pseudo-agressão parecesse mais uma carícia leve do que qualquer outra coisa, já que ele não apertava minha cabeça de fato. Eu não tinha coragem de rir dele nesses momentos, então só dava um sorriso divertido para não desmotivar ele a ser mais, sei lá, carinhoso com o time.

Porque, mesmo antes do dia da rua, ele também havia começado a se comportar de forma mais amena com os outros, trocando toquinhos mais frequentemente e parando de fingir que preferia a morte no lugar dos abraços doidos de Nishinoya e Tanaka, por mais que ainda não os retribuísse direito. Mas não pude deixar de perceber também que Suga começou a acariciar seus cabelos de forma mais frequente e intensa do que o próprio Kageyama fazia comigo e, conhecendo meu senpai como eu conhecia, cheguei a conclusão que aquilo era mais uma forma de incentivá-lo com aquelas pequenas mudanças do que qualquer outra coisa.

De qualquer forma, duas semanas não tinham sido o suficiente para tirar um tiquinho que fosse do êxtase que eu sentia por ter sido elogiado daquela forma tão pacífica. Tinha sido tão legal! Naquele dia, depois de ter saído do torpor, fui quase voando para casa tamanha a minha satisfação, essa que eu descontava totalmente nos pedais debaixo de meus pés.

Agora eu fazia de tudo para escutar algo como aquilo de novo, para sentir o peito ficando quentinho e o estômago revirar. Nada se compararia a receber um elogio daquele do Rei da Quadra, nada fora de uma partida de vôlei, pelo menos. Era como um certificado da minha evolução, um presente por todo o meu esforço. Por isso, comecei a me concentrar o máximo possível nos treinos, tentando inovar cada vez mais e pensar mais nas minhas jogadas também. Eu tinha chamado a atenção de mais alguns dos meus companheiros, e o treinador também me era só sorrisos. Eu nunca estive com tanto gás.

Naquela sexta feira à noite estávamos todos reunidos na frente da escola, com malas na mão, apenas esperando para embarcarmos num ônibus rumo à Tóquio para alguns treinos e amistosos. Eu estava ansioso para jogar e ver meus amigos, à muito tempo não via Bokuto-san ou Kenma ou Lev, e não via a hora de reencontrá-los.

Eu sentia o corpo vibrar em pura energia, e Suga-san tentava me acalmar e manter Tanaka e Nishinoya longe de mim e sob a supervisão de Ennoshita-san, uma vez que os dois estavam tão animados quanto eu. Sabia que deveria sossegar um pouco ou não conseguiria descansar durante o percurso e ficaria um caco no dia seguinte, mas não conseguia me conter. Digo, não até uma certa ceninha furar o balão que era a minha felicidade, fazendo toda a minha animação voar pelos ares.

Kageyama estava parado perto do ônibus com uma cara de tapado, olhando para um papel laranja em suas mãos como se ali estivesse escritos os segredos para ser o melhor jogador de vôlei do mundo. Eu não fui o único a perceber, e logo Tsukishima arrancava o papel de suas mãos, rindo alto para todo mundo escutar de o Reizinho tinha ganho uma declaraçãozinha de amor, fazendo questão de destacar o número absurdo de corações desenhados no papel, além do perfume doce que ele exalava.

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