Capítulo 7

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ALERTA DE GATILHOS:

homofobia, agressão, palavras de baixo calão, crises de pânico e ansiedade, abandono. rejeição familiar

esses temas serão muito presentes na fic então, por favor, leiam com cuidado!

***

Eu observava preocupado a figura ruiva em minha frente, o corpo trêmulo, o rosto inchado pelo choro, os soluços sendo sufocados na garganta. Nada muito diferente dos últimos dias daquela semana infernal.

Suspirei pela décima vez, passando a mão por seu rosto em uma tentativa miserável de limpar suas lágrimas. Hinata se limitou a tombar a cabeça para frente para apoiar o rosto em meu ombro, fazendo minha mão acabar em seu cabelo, onde eu continuei com os carinhos. Me inclinei para frente, prensando seu corpo na parede e passando minha mão livre por sua cintura.

"Tá melhor, boke?"

Ele só resmungou uma confirmação, a cara ainda enfiada em minha camiseta. Percebi que seus tremores tinham diminuído e que sua respiração voltava ao normal, então tentei me acalmar um pouco também.

Merda, aquela situação estava acabando comigo.

Desde que Suga-san passou mal na quadra e surtou na enfermaria, Hinata tinha se enfiado em uma espiral de culpa e dor que eu não conseguia entender muito bem o motivo. Pelo o que eu consegui compreender por conta de suas lamentações, ele se sentia culpado de não ter apoiado o nosso senpai quando ele, em um rompante de fúria, acabou "saindo do armário", além de se sentir ainda pior por não ter se assumido quando Asahi-san e Nishinoya-san o fizeram.

Foi pela culpa que ele iniciou todo o movimento para tentar alegrar o nosso senpai enquanto ele estivesse longe, propondo uma foto em grupo e um cartaz com depoimentos nossos. Ele também estava se dedicando para acalmar os outros caras porque, segundo ele, a última coisa que Sugawara iria querer agora era que entrássemos em confusão (pelo menos não sem ele). De repente, Hinata era um dos mais quietos e responsáveis do time, e o treinador Ukai chegava até a dizer que estava orgulhoso da evolução dele.

Mas eu não. Eu só sentia preocupação, porque sabia que aquilo não era maturidade, mas uma culpa infundada que consumia aquele baixinho idiota. Eu já tinha tentado explicar para ele que não tinha motivo nenhum para ele se sentir daquele jeito, mas Hinata era cabeça dura como o inferno, então me limitei a consolá-lo o melhor que eu podia, tentando controlar minha própria culpa em relação a ele.

Porque, porcaria, eu já estava enrolando há quase dois meses.

Quero dizer, eu não tinha nenhuma intenção ruim com ele, claro que não! Só que, depois daquele acampamento, nos estabelecemos em um relacionamento que não era, nem de longe, um relacionamento oficializado e resolvido de verdade. Só foi algo quase inconsciente: a gente se abraçava quando se encontrava e para se despedir, aqueles abraços longos mesmo, que duram uma eternidade e aquecem o coração da gente. E passávamos muito tempo juntos também, almoçando no terraço e dormindo com mais frequência na casa um do outro. Fora que ele tinha a embaraçosa mania de me seguir sem que eu percebesse e agarrar a minha cintura por trás quando eu estivesse distraído, dando beijos em minha nuca na maioria das vezes.

Mas os beijos na boca, por exemplo, eram quase inexistentes, e isso era mais um motivo para eu me apaixonar mais e mais por aquela besta. Não porque não nos beijássemos, ah cara, longe disso. Mas porque ele não me beijava para não me pressionar nem nada, e isso era bem óbvio para mim. Era como se ele estivesse dando o meu tempo para continuar com tudo aquilo que a gente desenvolveu.

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