No dia seguinte foi a minha vez de ficar nervoso, o que era um saco. Eu conseguia me concentrar no que estava fazendo, mas estava mais eufórico que o normal, e Kageyama começou a me mandar uns olhares de preocupação e culpa, porque ele sabia que eu estava avoado por sua causa.
Mas não tinha muito o que eu pudesse fazer, a nossa conversa de ontem simplesmente não saia da minha cabeça. Eu continuava meio confuso e nem sabia o por quê. Acho que eu tava mesmo era com vontade de pegar Kageyama pela mão e arrastar ele da quadra para gente conversar daquele jeitinho de novo, e esse pensamento era muito estranho porque, assim, desde quando eu escolhia bater papo no lugar de jogar?
Perturbado por conta disso, me esforcei ainda mais, e eu não parecia ser o único: o próprio Kageyama parecia estar se exibindo, exalando toda a sua técnica e concentração em quadra, acho que para compensar os dias anteriores ou sei lá. Só sei que tinha bastante gente impressionada com a recuperação dele, inclusive eu. Os treinadores voltaram a se preocupar com ele e o Ukai não parava de dar aqueles sorrisos esquisitos.
Eu gostava de pensar que ele tava melhor por causa da nossa conversa, mas ao mesmo tempo que isso me animava mais para jogar, também me distraía com as borboletas que brotavam em meu estômago.
Fosse o que fosse, Kageyama tava brilhando em quadra. Em certo momento, depois de um rápido incrível nosso, ele veio comemorar batendo suas mãos nas minhas, e eu, já mais do que acostumado com a sua brutalidade, já aguardava a dor que aquilo traria, mas o impacto forte não veio. Ele só me deu uma batidinha rápida e bem leve antes de bagunçar meus cabelos e sair andando logo em seguida, sorrindo. Eu sorri também, pensando comigo mesmo que eu deveria parar de me surpreender com aqueles gestos dele. Não fui eu mesmo que tinha dado essa permissão na noite passada?
No almoço, me sentei em um cantinho afastado só com Kenma, que tinha uma carranca no rosto, já que Kuroo havia pego seu joguinho e ameaçava não devolver se ele não comesse tudo. Do outro lado do refeitório, o capitão do Nekoma ria junto com os outros capitães, e hora ou outra olhava em nossa direção, conferindo se o falso loiro estava mesmo comendo. Kenma só se limitava a fuzilá-lo com o olhar e mastigar com tanta força que me fazia temer por seus dentes.
Virei meu rosto, vendo Kageyama no meio de Nishinoya e Tanaka, que gritavam alguma piada que eu não podia compreender estando tão longe. Meu levantador ria no meio dos dois, tentando disfarçar com uma caixinha de leite nos lábios, mas seus olhos quase fechadinhos o denunciavam. Senti o coração aquecer e as borboletas apareceram de novo, e foi inevitável sorrir também, antes que o pensamento que me perturbou durante toda a manhã me voltasse à cabeça:
E se eu também... ah, céus.
Voltei-me para Kenma.
"Kenma?", chamei, escutando ele murmurar para que eu falasse o que queria. "Você sabe aquela baboseira que dizem sobre vídeo games influenciarem a cabeça das pessoas? Você acredita nisso?"
Eu me sentia meio besta em fazer aquela pergunta, relacionando-a com meu próprio questionamento interno, mas era o mais próximo que eu poderia chegar do assunto com alguém.
Kenma me encarou com aqueles olhos felinos e desconfiados dele, analisando meu rosto corado. Logo depois dirigiu o olhar para onde eu mesmo olhava há alguns instantes, a mesa onde Kageyama estava, e senti o rosto esquentar mais. Merda, eu odiava que ele fosse tão observador. Mas ele não podia simplesmente deduzir o que eu estava pensando, certo?
"Acho isso uma grande baboseira", ele falou, então colocou mais comida na boca de forma irritada, e eu soube que Kuroo o estava encarando. "Acho que não tem essa de você se sentir influenciado por algo ou alguém, pelo menos não para esse tipo de coisa. Acho mais fácil alguém despertar alguma coisa em você, que você não percebia antes. Tipo um gatilho ou coisa assim."
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Trigger
FanfictionHinata era viciado em vôlei, isso era um fato. Ele amava jogar, amava sentir que estava melhorando, que poderia ser um ace um dia e que tinha um time para apoiá-lo. Por isso, nunca pensou em mais nada. Não pensava em garotas, em namorar, em ficar d...