Capítulo 2 - A primeira vez que conversamos

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DOMINIQUE P.O.V

Porto Alegre

26 de março de 2018

     Você se lembra quando conversamos pela primeira vez? Eu lembro. Foi no dia 26 de março, exatas 3 semanas depois que nos conhecemos. Demorou, eu sei, também acho que deveríamos ter nos aproximado antes, mas não tínhamos desculpas para nos aproximar. Fazíamos todas as disciplinas juntos, mas não tínhamos amigos em comum.

     O dia que conversamos pela primeira vez foi um golpe do destino. Era uma segunda-feira, 14h, quando descobrimos que a nossa professora de Geometria Descritiva I estava doente e por isso não teríamos aula. Como eu teria outra aula depois de geometria, eu não poderia ir embora, então fiquei na faculdade fazendo trabalho com as minhas amigas. Estávamos sentadas nas mesas do hall do nosso prédio quando o Fernando, o seu melhor amigo, apareceu. Eu e ele tínhamos conversado bastante no dia do trote, então não achei que seria estranho chama-lo para sentar-se à mesa conosco. Ele se sentou na cadeira a minha frente e começamos a conversar, enquanto eu fazia o meu trabalho. Cinco minutos depois, você apareceu do meu lado e meu coração começou a bater mais rápido.

—Desistiu de ir para casa?

     O Fernando perguntou quando você parou ao meu lado na mesa.

—Sim.

     Você respondeu ainda parado ao meu lado. Eu comecei a ficar nervosa. Aquela era a minha chance de me aproximar de ti e eu sabia disso.

—Você não quer se sentar conosco?

     Perguntei te olhando. Você sorriu para mim e disse que queria. Deu a volta na mesa e sentou-se na minha diagonal, entre o Fernando e a Duda, a minha amiga apaixonada por ti (que não sabia que eu também gostava de você).

     Em poucos minutos, eu e você já tínhamos engatado uma conversa e já nos sentíamos à vontade, rindo e brincando com o outro. A essa altura, tínhamos esquecido que não estávamos sozinhos e você já tinha virado o seu corpo para ficar de frente para mim, o que te deixou de costas para Duda, que ficou um porre de chata com o seu mau humor.

     Aquela foi a primeira vez que te vi me colocando como prioridade e gostei da sensação. Assim como gostei de ouvir por horas o seu sotaque.

—Eu moro sozinho, então estou tendo que aprender a cozinhar –você falou.

—Eu também moro sozinha! Só não cozinho –respondi rindo.

—Em que bairro tu mora? –você me perguntou.

—Petrópolis –respondi.

—Eu também moro no bairro Petrópolis –você falou sorrindo.

     Só podia ser coisa do destino.

—Em que rua tu mora? –você perguntou.

—Coronel Corte Real. Fica atrás da Lucas de Oliveira –respondi.

—Eu moro na avenida Alegrete. Vamos pesquisar para ver se é perto.

     Você falou e se levantou da sua cadeira, dando a volta na mesa e parando ao meu lado. Abrimos o mapa do seu celular e começamos a procurar pela rua que eu morava e a rua que você morava. Vimos que morávamos há 2 ruas de distância um do outro.

—Dá para ir a pé –foi o seu comentário.

     Olhei para você e sorri, perguntando-me porque você iria a pé até a minha casa. Mas, no meu íntimo, desejei que aquilo acontecesse e virasse rotina.

     Depois dessa conversa, fomos para a aula de desenho, aula que fazíamos juntos. Durante a aula, trocamos olhares e sorrisos muitas vezes. Em um determinado momento, o professor Tiago fez um comentário x e eu revirei os olhos. Você viu, sorriu para mim e, de longe, sussurrou um: "tu tinha razão". Eu respondi um "você viu?! Eu falei!!!". Estávamos nos referindo a reclamação que fiz sobre o professor Tiago. Ele pegava no meu pé.

     Quando a aula acabou, você me esperou guardar todo o meu material e saímos juntos da sala. Você fez questão de abrir a porta da sala para mim, o que mais tarde eu percebi ser um costume seu. Você era muito cavalheiro.

     Íamos embora pela mesma saída, então fomos o caminho inteiro conversando, quer dizer, eu fui o caminho inteiro reclamando do professor Tiago.

—É muito bonitinho te ver brava.

     Você falou sorrindo e me deixou sem graça. Aquela era a segunda vez que conversávamos e eu já estava despejando meus problemas em cima de ti.

     Não tivemos tempo de mudar de assunto, logo chegamos na saída da faculdade e nos separamos. Na hora de nos despedirmos, vi que você queria se despedir com um beijo na bochecha, mas estávamos os dois nervosos, então nos despedimos de uma forma atrapalhada.

     Naquele momento eu soube que nada mais seria como antes. E eu estava certa.

     À noite você me seguiu no Instagram.


CONTINUA...

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