Portia já estava cansada de andar, as pernas lhe doíam. Ela não sabia o que estava procurando, mas sabia que ainda não o havia encontrado. Por uma tarde inteira, ela poderia dizer que já havia conhecido maior parte de Busan. Ela disse que iria resolver algumas coisas apenas para parecer sério, mas a verdade é que ela gostaria mesmo é de fugir de tudo aquilo. Precisava de um momento solitário e reflexivo, sem ninguém a lhe perturbar. Finalmente, ela chegou próximo a praia. Jogou um moletom no chão e sentou-se ali. Com as pernas cruzadas e os braços lhe apoiando. Pegou o celular e notou algumas chamadas perdidas de Eros, Choi e Uno, mas as ignorou.
Ela contemplou o mar, o sol que estava prestes a se por. Haviam poucas pessoas ali e, as que restaram, se esvaiam pouco a pouco conforme a noite ia caindo.
_É perigoso para uma moça ficar aqui a está hora. _Uma voz masculina surgiu atrás de si.
Ela virou-se rapidamente e contemplou um homem de estatura mediana a seu gosto, cabelos loiros e um sorriso doce. Ele tinha os lábios perfeitamente desenhados e olhos que praticamente se fechavam ao sorrir._Eu o conheço? _Ela indagou estupefata.
_Eu sou o Jimin, e trabalho no bar aqui a frente. Notei que você ficou aqui o dia todo, talvez estivesse querendo uma companhia.
_Obrigada. Estou bem. _Ela desviou o olhar para o mar .
_Você não é daqui. _Ele sentou-se ao lado dela, ignorando completamente o fato de que Portia havia recusado sua proposta de uma companhia.
_Não. Mas moro aqui há algum tempo. _Ela permaneceu seu olhar vago.
_Você está triste?
_Jimin... em primeiro lugar, eu não te conheço. Em segundo, eu não aceitei a sua companhia, caso não tenha entendido.
_Eu sei que não. E também sei que não te conheço. Mas sei que está precisando jogar algumas coisas fora.
_Não posso falar da minha vida para alguém que mal conheço! _Ela revidou.
_Se você me disser o seu nome, não seremos mais desconhecidos. _Ele abriu um sorriso doce novamente, derretendo cada célula que compunha o coração de Portia. Ela sabia que ele poderia ser um maníaco e que não era normal conversar sobre sua vida com alguém que acabou de conhecer, mas, afinal, o que era normal na vida dela?
_Eu sou Portia. _Ela finalmente se rendeu a um sorriso.
_Prazer em conhecê-la.
_Eu não posso lhe dizer tudo da minha vida porque eu sofri um acidente e perdi minhas memórias. Sei o que me contaram e o pouco que me lembrei durante as sessões de terapia. _Ela riu fraco. Como se sentisse derrotada.
_Bem trágico! _Ele cravou seus olhos no mar.
_Tudo basicamente começou quando eu fui abandonada pelo meu noivo e vim para a Coreia. Eu conheci o Uno e me apaixonei. Uno me deixou para seguir a carreira de saxofonista e eu fui trabalhar na cada de um tal de Eros, que, por alguma razão, era obcecado por mim e nos apaixonamos. Enquanto tudo isso acontecia, eu estava grávida de Uno que foi embora e só descobri isso quando tive um aborto espontâneo.
_Espera! _Jimin a encarou. _O que?
_Pois é. _Ela riu. _Por causa do aborto, Eros teve que contratar uma mulher para trabalhar no meu lugar e, advinha? Ela era apaixonada por ele. Depois de muito brigarmos, ela foi embora e Eros me pediu em casamento. Enquanto estávamos nos preparativos finais do casamento, essa tal apareceu grávida dizendo que o bebê era dele e nós dois nos separamos por alguma razão que eu não me lembro. _Portia deu uma pequena pausa. _Fui morar em algum lugar e trabalhar em alguma coisa que não faço ideia do que seja - acho que era uma cafeteria - nisso, Uno voltou e voltamos a namorar. Eros foi parar machucado no hospital e eu fui cuidar dele, já que a outra mulher estava com um bebê recém nascido. No meio disso, nós descobrimos que o bebê não era dele e que tudo não havia passado de uma trama para nos separar.
_Você só pode estar brincando comigo... _Jimin balançou o pescoço em negativo.
_Eros ficou revolto, separou-se da mulher, mas eu continuei com Uno. _Ela ignorou os comentários feitos por Jimin. _Uma certa noite, Eros pediu que eu fosse até sua casa para conversarmos e, eu não sei bem o que aconteceu, mas eu sofri um acidente e perdi a minha memória. Uno e Eros fizeram um plano de nunca contarem sobre o que houve entre nós dois e tentaram reformular uma vida perfeita, mas eu acabei me lembrando da maioria das coisas. Inclusive, que eu amava Eros. Um certo dia, eu ia para algum lugar com Eros e nós fomos sequestrados pela louca que mentiu sobre ter um filho com ele. Durante o sequestro, eu descobri que ela havia manipulado o meu carro no dia do meu acidente e que era para eu ter morrido. Ficamos cerca de um mês sumidos e a polícia havia dado nosso caso como perdido.
_Portia! _Jimin a interrompeu. _Como assim? Você foi sequestrada? Você está tirando com a minha cara?
_Eu estou falando a verdade! Poder perguntar e pesquisar nos jornais sobre o sequestro do CEO da Eros!
_O que? Era você naquele sequestro?
_Sim! O Eros a quem me refiro é o Eros da Eros.
_O Eros da Eros? _Ele interrogou atônito.
_Sim! Posso terminar?
_Céus... eu não posso acreditar...
_Você que pediu que eu falasse da minha vida!
_Tudo bem. Perdoe-me.
_Certo. _Ela coçou a garganta e prosseguiu. _Quando finalmente fomos resgatados, passamos por uma bateria de exames e eu descobri que estava grávida de Uno, obviamente, já que ele era meu namorado na época. Fiquei muito feliz e ansiosa para contar a notícia a ele. Porém, quando cheguei em Busan, fui informada de que ele havia ido embora com uma banda de músicos para Nova York. Meus pais vieram e tentaram me convencer a tirar o bebê, mas Eros, como me amava e ansiava um filho, prometeu que cuidaria de mim e do bebê. Tudo estava realmente perfeito, até Uno aparecer semana passada para tocar em uma festa com uma noiva e Eros finalmente me contar ontem à noite que se sente incomodado com o fato do bebê não ser dele.
_Portia...
_Eu coloquei uma bolsa em meu ombro e sai caminhando sem rumo até chegar... aqui.
_Eu... eu sinto muito. _Jimin lhe encarava atônito. _O que você vai fazer?
_Eu não faço ideia, Jimin... eu não faço ideia...