Capítulo V - A queda como impulso

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Capítulo V - A queda como impulso

Após alguns minutos, a sala de reunião estava completa, com aproximadamente 60 pessoas. Claire se levanta e começa a falar: 

- Bom, quero começar dizendo que trago notícias boas e más. Como é de costume quando a situação é assim, eu deveria perguntar: “Quais vocês preferem que sejam ditas antes?”, mas não farei isso, pois as boas e as más estão intercaladas.

Em primeiro lugar: não conseguimos, nem conseguiremos, produzir as novas placas para o TSC no tempo estipulado. Temos menos tempo do que imaginamos: somente três semanas. Motivo: não existem instrumentos suficientes que possam tornar esse nosso projeto em realidade. Temos a ideia, o conceito, mas sempre temos que “trocar esse por este”, “aquilo por isto” e é por causa destes detalhes que não temos o resultado esperado. Os três alicerces do nosso projeto são: a química, a engenharia e a física. Esses três não estão em harmonia. Por quê? Pois falta algo. Algo que é inerente à somente um destes alicerces, mas que vai mudar completamente os outros dois restantes: um novo elemento químico.

Com certeza alguns estão se perguntando: “É a única opção?” Não sei, mas é a única que vejo como saída, após testes e mais testes em vão.  Já tentamos de tudo, assim como várias ligações metálicas, fusão etc. Precisamos de algo mais duradouro que ferro, mais resistente que aço, que consiga resistir às altíssimas temperaturas. É isso que os nossos investidores querem. É o que queremos. É o que a humanidade precisa.

 - Como pretende fazer isso? – Pergunta um dos Engenheiros.

- Precisaremos de dinheiro e tempo. Hoje temos dinheiro, tempo não. Para termos tempo, vamos perder dinheiro, ou seja, não vamos conseguir ter os dois.

- Qual o plano? – indaga outro Engenheiro.

- Começar o quanto antes a reestruturação da empresa para focar totalmente nessa descoberta. Isso implica na aceitação do fato que perderemos nossos investidores para a Kwaad, não só os maiores, pois os menores os seguirão, o que nos faz ter menos dinheiro. Devido a isso, teremos que reduzir drasticamente nosso quadro de colaboradores.

Todos começam a falar desordenadamente na sala, criando uma pequena confusão.

 - Atenção! Silêncio! – Berra Hector – Assim como para vocês, estou surpreendido com as notícias dadas pela nossa fundadora. Eu não tinha conhecimento disso e sinto-me honrado por saber que ela consegue conciliar família e trabalho de forma tão humana. O fato é que eu fico de mãos atadas e sou obrigado a concordar com ela. Assim como sei que vocês concordam. Todos aqui sabem que nenhum de vocês vai sair da empresa, pois são essenciais, senão não estariam aqui. Aliás, cada pessoa que trabalha aqui é essencial para a Sortt Solutions. Eu não tenho coragem de dizer o contrário. Cada membro tem sua importância aqui dentro, mas devido às circunstâncias, somente os que tomam as decisões poderão e deverão ficar. Todos de acordo?
Por favor, levante a mão quem estará nessa jornada.

Timidamente, um a um foi levantando a mão.

- Ficamos feliz por isso! – Disse Hector – as mudanças começam a partir da semana quem vem. Por favor, planejem-se.

- Ainda existe a possibilidade dos investidores desistirem da ideia de mudar para a Kwaad? – Indagou um dos pesquisadores da equipe de Claire.

- Não. Por algum motivo, eles rebatem a minha proposta sobre o preço. Eu digo que farei um preço baixo, assim como a Kwaad fará, mas eles dizem que isso é impossível. Irei reunir-me com eles daqui a três dias. Eles nem imaginam, mas já darei a notícia que é impossível entregar o que eles desejam. Tentarei persuadi-los, mas acho improvável. Não contem com isso. Precisamos disso de qualquer maneira, pois mesmo que eles aceitem ficar conosco, duvido que aguentem muito tempo. Uma hora ou outra, cairemos. E melhor que essa queda seja por vontade nossa do que por vontade deles. Assim como estamos planejando, nós iremos cair para que possamos nos levantar mais fortes.

- É assim que se fala! Mãos à obra! – finalizou Claire, enquanto todos se levantavam de seus lugares.

Hector continuou sentado e observou todos saindo da sala, menos Claire. Os dois ficam a sós. 

- Meu amor, erga essa cabeça! – disse Claire.

- Uma paulada dessa logo pela manhã derruba qualquer um.

- Eu sei. Estou tão preocupada quanto você.

- Podemos gastar uma fortuna, tudo que temos, e mesmo assim não dar certo, né?

- Sim...

- Essa resposta que eu temia. – Disse Hector se levantando da cadeira.

- Mas também podemos gastar uma fortuna, tudo que temos, e mesmo assim dar certo!

- A garantia é mínima. Eu sei disso! Só a ideia do projeto já é descomunal: “Criar um elemento químico”. O quê? Agora vamos brincar de “Mãe-Natureza”? – Exalta-se Hector.

- Não! Nós vamos mostrar que somos tão bons quanto ela! Que conseguimos usufruir dela e ser seres humanos bons que a ajuda a dar uma vida boa e confortável a todos os seres vivos, sem atacá-la ou destruí-la. - Diz Claire, sendo, mais uma vez,aos racional que Hector, que volta seu olhar à Claire, a abraça e diz:

- É verdade, meu amor. Você tem razão. Nós temos capacidade para isso. Como sempre você me dizendo as palavras certas na hora certa. É que o fato de saber que prejudicarei pessoas, famílias, seres humanos que dependem da Sortt para sobreviver... É como se uma faca rasgasse meu peito. Sinto como se eu fosse o responsável pelo sofrimento delas, mas o que eu quero é somente o bem de toda humanidade. Por isso fiz o que fiz, faço o que faço e farei o que irei fazer.

- Eu sei. Todos sabem disso. Até mesmo as pessoas que agora passarão por momentos ruins. A humanidade deve muito a nós. Não vamos nos culpar. Venha, vamos começar as mudanças agora e fazer tudo acontecer da melhor maneira possível. Vamos renascer como uma Fênix: melhor e mais forte. – Finalizou Claire.

Claire e Hector saíram da sala de reunião e dirigiram-se aos setores da empresa para dar suporte aos líderes a repassar a notícia aos colaboradores. A proximidade de Hector e Claire com todos os funcionários sempre foi algo essencial ao bom funcionamento da empresa.

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