Capítulo VI - Arado

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Capítulo VI – Arado 

Antes mesmo de chegar à sua sala, Hector diz: 

- Eu preciso fazer isto de uma maneira mais humana.

- O quê? – Pergunta Claire, sem entender.

- Preciso dar a notícia de uma maneira mais ampla, para que todos saibam de uma vez o que acontece. Depois os líderes de cada área resolvem cada caso isoladamente, de acordo com a necessidade de cada um. Além disso, acho que não possuo estrutura emocional para repetir essa mensagem diversas vezes.

 - Ah, claro! Concordo com você. Que tal um evento? Pedimos para o RH enviar ao e-mail de cada um, um comunicado.

- Sim, é melhor, mas avisem-nos que o comunicado deve ser neutro, sem muito alarde, simples. Algo do tipo: “Amanhã, no auditório ‘Einstein’, evento com a presença da presidência e diretoria. É obrigatória a presença de todos. Atenciosamente: Recursos Humanos”, ok?

- Sim, imaginava algo assim. E quanto às nossas unidades ao redor do mundo?

- Peça um comunicado para as outras unidades também, marcando uma videoconferência pela tarde. Vou fazer tudo que devo fazer amanhã mesmo.

- Certo. – Finaliza Claire, retirando o celular da bolsa para efetuar a ligação.

Ao chegar à sua sala, Hector enche dois copos d’agua enquanto Claire se senta na cadeira e fala com alguém responsável pelo RH da empresa. Assim que termina de enchê-los, Claire termina sua ligação, e Hector pega um copo para si e entrega outro à Claire:

- Hoje é um dia que eu sequer imaginava que seria assim. Pensei que chegaria aqui e trabalharia as minhas tão amadas 16 horas. Depois seguiria para casa, cansado, mas feliz de ainda ter com o que me preocupar. E agora? Tenho o que? O único trabalho que tenho é ter que pensar numa maneira de dizer a todos que estamos afundando. – Diz Hector enquanto olha pela janela.

- Você é pessimista demais.

- Pessimismo não é um fator de desequilíbrio para alguém tão cético quanto eu. Sou realista, querida.

- Não, Hector. Pessimismo influencia, sim! Claro que não tem a ver com essa ideia de “atrair coisas ruins”, mas pensar negativamente te impede de ser realista e ver as possibilidades que existem. Por exemplo: você está pensando que só tem uma notícia má para dar; eu estou pensando que temos muito trabalho para fazer.

- Sei aonde quer chegar. O fato é que nossos dois pensamentos estão corretos. Temos a má notícia e temos muito trabalho. Inexoravelmente os dois acontecerão. Eu estou preocupado com o resultado disso tudo. Assim como eu, você sabe que a chance disso tudo dar errado é grande.

- Probabilidades, querido. Isso é tudo. Vamos fazer a porcentagem do “dará certo” aumentar com o nosso trabalho, ok?

- É o que resta. - Finaliza Hector.

Claire levanta-se, dá um beijo tímido em seu marido e sai da sala, deixando-o com algumas pendências que ele possui, assim como ela também as tem. Os dois nem se falaram mais pelo resto do dia, pois estavam muito atarefados. Parece que Hector está errado: ainda há muito para ser feito além de dar uma notícia ruim.

As horas passam e o final do dia chega. É hora de ir para casa, descansar e preparar-se para o dia que está por vir.

Pela primeira vez, Claire abre a porta de casa e encontra Hector. Surpresa, diz:

 - Olha! Mudanças já estão acontecendo! Você em casa antes de mim é uma novidade, hein?

- Acredite, amor: para mim, isto não é um bom sinal... – Diz Hector, meio cabisbaixo.

- E com você, chegou o “Senhor ‘Nada vai dar certo’”.

Ambos riram.

- Só você para me fazer rir. Na verdade, eu saí um pouco antes, pois não estava me sentindo bem.

- O que aconteceu? – Preocupou-se Claire.

- Não sei. Tive uma dor de cabeça repentina, tontura e náuseas. Deve ser estresse, mas estou bem. Eu gostaria que me ajudasse a elaborar um bom discurso para amanhã.

- Claro que sim, mesmo que não me pedisse, eu iria opinar. Sabe como é mulher, né? Ainda mais a sua mulher!

- Sei muito bem. – Respondeu Hector rindo.

Os dois decidem pedir uma pizza e gastam algumas horas pensando em maneiras eficazes e gentis de passar uma mensagem desse nível, se é que isto é possível.

Deitados na cama, mais cedo do que o comum, ambos olham para o teto, presos em seus próprios pensamentos. Um silêncio perturbador faz companhia a eles. Quando, então, Claire quebra aquele clima pesado:

- Obrigada!

- O que foi, amor?

- Obrigada por ser este marido maravilhoso. De proporcionar desafios e aventuras que nenhuma outra pessoa conseguiria me proporcionar.

- Não precisa me agradecer. Eu vejo a mesma coisa em você. Somos a melhor dupla de super-heróis que existe! – Disse Hector dando –lhe um beijo no rosto e abraçando-a calorosamente.

Agora, os dois sentem-se bem mais confortáveis e seguros. O sono logo chega e ambos dormem rapidamente. Talvez essa paz alcançada por eles só dure até ao próximo despertar.

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