Capítulo 2

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BOA LEITURA !!

MARIANA SCOTT...

1 ANO DEPOIS...

Como as coisas podem mudar em um ano. Mas só para algumas pessoas porque para mim continuaram iguais. Iguais não, piores.

Eu estou viva mas não estou vivendo. Eu como, bebo, respiro e sirvo de boneca sexual para o Marcelo. As empresas do meu pai estão todas com as contas no zero e sinceramente, nada me prende mais a Portugal. Eu vou embora da Europa.

Há três semanas eu completei dezoito anos e desde então tenho pensado em como proceder. Agora Marcelo não é mais o meu tutor e tudo o que me restou foi esta mansão, porém eu não quero viver aqui, não quero estar num sítio que me causa tantas más recordações.

Existe algo que ninguém sabe, nem os funcionários que já trabalharam aqui. No quarto dos meus pais, na casa de banho existe uma peça de azulejo solta. Lá meu pai deixou uma grande quantia de dinheiro, só esperando que algum dia ele tivesse alguma utilidade.

Assim que a respiração de Marcelo fica menos pesada levanto-me calmamente e vou até ao quarto dos meus pais.

Com facilidade acho a peça solta e tiro o dinheiro, que não é pouco, de lá. Coloco tudo na bolsa para contar depois e pego a mala em baixo da cama. Minhas roupas estão nesta mala há mais de uma semana, só esperando que o dia certo chegasse.

Com a pequena mala na mão dou uma olhada no quarto pela última vez e saio do cômodo.

Vestida só por um pijama desço as escadas e é inevitável que as lágrimas caiam. Eu estou deixando o meu eu para trás. A casa onde nasci e cresci, o lar no qual minha mãe viveu comigo e meu pai educou-me, mas não posso ficar. Meu coração está machucado demais e minha alma está suja de rancor e ódio. Ficar aqui seria igual a continuar me matando aos poucos.

Marcelo abateu até os meus cães então deixar a casa pelo pequeno portão para pessoas não foi uma tarefa difícil. Depois de ligar para o taxista fico do outro lado da rua esperando.

Conto cinco minutos antes de ver o carro tingido de amarelo e verde estacionando perto de mim. Limpo as lágrimas e olho para o velhinho que sorri simpático.

Recuso sua ajuda com a mala e entro no banco traseiro.

- Para o cemitério, por favor. - O senhor assente e sai dali acelerado.

Meu coração fica pequenininho ao ver a casa do meu pai, a minha casa, e todo o Cais de Sobré ficando para trás.

[...]

- Chegámos. - A voz do senhor desperta-me do mundo paralelo no qual eu estava. - Tem certeza de que quer entrar aí a essa hora ? - Ele pergunta preocupado e eu assinto.

- O senhor poderia, por favor, esperar por mim ? Será rápido. - Peço e ele sorri.

- Claro filha. Leve o tempo que precisar.

Sorrio e passo pelo portão do cemitério. Graças a Deus a campa dos meus pais, que passou a ser compartilhada, não fica no meio do cemitério.

Com facilidade localizo as lápides de mármore. Ajoelho-me em cima das folhas secas e com a cabeça no mármore deixo que minha alma sangre em forma de lágrimas.

- Oh meus amados pais. Mamãe, olha como eu estou agora. Crescida, tal e qual eu dizia que queria ser. Eu só não sabia que crescer implicaria sofrer tanto, minha alma está sangrando de tanta dor e saudade da senhora. Mesmo assim sei que tem cuidado de mim aí de cima, e sei que vai ajudar-me para que as coisas fiquem bem para mim. Obrigada por ter me ensinado tantas coisas em tão pouco tempo, eu amo muito a senhora, sempre amarei. - Beijo a minha mão e depois encosto-a na campa. - Papai, onde quer que o senhor esteja, espero que saiba que o meu muito obrigada é dirigido a você. O senhor foi o meu pilar por anos e deu-me a melhor das educações. Você é o amor da minha vida porque cuidou de mim como mais ninguém fez. Sei que o senhor olha por mim e quero que saiba que nada do que aconteceu nos últimos anos foi sua culpa. A culpa foi minha por deixar que Marcelo entrasse em nossas vidas e por confiar nele. Hoje eu estou deixando vocês e Lisboa para trás, mas acima de tudo estou deixando a dor e a tristeza que sinto dentro de mim. Viver em Cais de Sobré, viver com vocês foi mais do que um sonho. Espero que me perdoem por deixar vocês dois aqui. Vocês são o que eu mais tenho de precioso e espero que as fotos que levei comigo sejam suficientes para tê-los por perto do outro lado do mundo. Obrigada por tudo o que fizeram por mim meus heróis. Eu amo aos dois, para sempre. - Enxugo minhas lágrimas levanto-me sorrindo.

Entregando-me A Paixão - Livro III (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora