Como seria se do dia para a noite toda a sua vida terminasse ?
Como seria adaptar-se a uma nova cidade, uma nova vida, permitindo-se ter um recomeço ?
Como seria ter de superar as dores e arrependimentos do seu passado ?
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Eu encaro o lugar sujo e desabitado pela milésima vez e tento concentrar as minhas forças em qualquer outra coisa que não seja a raiva que estou sentindo. Marcelo deixou claro que só daqui a uma semana nós iremos embora.
Eu já passei por muita coisa para saber que ficar me lamentando não vai mudar nada. Eu só consigo pensar no loiro que estou deixando para trás e na mãe que tive nos últimos três anos. Eu os amo com todo o meu coração e espero que eles fiquem bem.
A fita que me cobre os lábios já começa a incomodar e causa-me uma coceira que não posso aliviar graças às cordas que me prendem os pulsos. Maldito Marcelo. Eu não sei quanto tempo passou desde que fui jogada aqui mas já lá foram algumas horas.
Pelo pequeno orifício na parte superior de uma das paredes eu consigo ver o quão escuro está, tanto que acredito que já seja madrugada. Meus olhos estão pesados, tanto pelo choro que demorou a cessar quanto pelo cansaço emocional. Eu quero fechá-los mas sei o que isso pode significar para mim. Marcelo é um maníaco e só Deus sabe o que teria coragem de fazer comigo.
Num minuto de inconsciência rápido meus olhos caem e eu sei que se passaram alguns minutos até que eu os abrisse por conta do alto grito que ouvi. Por alguns segundos eu achei estar a sonhar mas Maria está mesmo aqui, parada olhando para mim depois de gritar o meu nome.
- O que fizeram com você, minha filha ? - Ela pergunta e aproxima-se cautelosamente enquanto eu só sei chorar.
Assim que o maldito corpo magro toma meu campo de visão eu movo a cabeça de um lado para o outro dizendo não para a Maria mas ela está tão assustada que mal me percebe. Tão rápido quanto ela acordou-me Marcelo espeta uma seringa em seu braço e logo a seguir segura no seu corpo inconsciente.
Ele coloca-a sentada ao meu lado e rapidamente prende seus bracos, pernas e tapa seus lábios com a maldita fita cinzenta. Ele olha para nós duas e solta uma risada coberta e escárnio e desprezo. Ele julga-se no direito de desprezar-nos ? Maldito.
Com uma brutalidade desnecessária ele tira a fita dos meus lábios fazendo-me grunhir de dor e desespero. Eu olho para ele praticamente implorando que não faça nada com Maria.
- Que castigo você acha que essa velha merece ? Ahm ? - Ele pergunta aparentemente divertido e acaricia-me a bochecha.
- Marcelo, ela está voltando a ficar consciente. - Murmuro quando olho para o corpo mole da Maria. - Deixe-me, por favor, falar com ela. Eu vou mandá-la embora, não a machuque.
- Não sei que merda ela fez para encontrar você mas acredito que vá gostar da estadia aqui connosco. Daqui a seis dias nós dois iremos embora e ela vai ficar aqui, amarrada e desacordada à própria sorte. Talvez o tal Deus a ajude. - Com desprezo ele decreta e sorri mais uma vez.
