2. Linha de Frente

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Eu tenho absoluta certeza de que atingi meu ápice de desgaste mental.

Não existe outra explicação para o que estou vendo, só posso estar alucinando, e sinceramente, seria tudo muito mais fácil se realmente fosse isso. Penso que talvez eu não esteja enxergando muito bem, o que seria uma justificativa muito lógica depois do dia que tive... ou alguém cometeu um grave erro de digitação ao enviar tal código. No entanto, as peças do quebra-cabeças começam a se encaixar e eu consigo ver que não estou alucinando e ninguém cometeu erro algum, é a apenas a realidade.

Estou em uma zona de alto risco.

— Tudo bem? — a mulher pergunta, tirando-me do transe. — Você está pálido... parece até que viu um fantasma. — Apesar de ser uma frase cômica, suas palavras não carregam tal sentimento.

— Muito pior que isso. — Respondo, enfiando o pager e meu bolso. — Precisamos sair daqui, acho que estamos em uma bela encrenca.

— Como assim? — ela pergunta, receosa.

Não dou atenção ou resposta, sequer consigo compreender suas palavras, pois minha mente está em outro lugar. Agarro-a pelo pulso sem me importar de ela vai gostar ou não da ação — obviamente que não — e caminho pelo corredor, quase correndo, e levando-a junto comigo.

— O que está fazendo? Ficou louco? — grita, tentando se soltar e eu a seguro com mais força, puxando-a para ficar em minha frente e encostada contra a porta da escada de emergência.

Encaro-a os olhos enquanto ela tenta recuar ou soltar-se.

— Ouça, nós estamos em perigo e precisamos nos esconder! — digo, impertinente e abro a porta, empurrando-a junto comigo para dentro do local completamente escuro.

É claro que ela não aceita bem.

— Está maluco? — Maia vocifera, se afastando de mim. O som de sua voz ressoa tanto quanto o de seus saltos se chocando firmes contra o piso. — Não é correto arrastar uma mulher para um lugar escuro, doutor. Acha que só porquê me resgatou pode...

Minha paciência se esgota pela centésima vez desde que a encontrei, o que poucas coisas no mundo são capazes de fazer, visto que sempre fui um homem calmo. Não é possível manter calma ao lado dessa mulher, e é por isso cubro seus lábios com a mão, obrigando-a a calar a maldita boca.

Respiro com cautela e me aproximo do ouvido dela.

— Não pretendo fazer nada com você, mulher, mas você precisa parar de gritar ou estaremos mais encrencados. — Tento manter minha voz baixa e moderada. Engulo seco, fechando meus olhos ao passar a mão livre sobre meu ombro dolorido. — Vou te explicar tudo, mas você não pode continuar chamando atenção. Irei me afastar e você tem que me prometer que vai fazer tudo que eu disser, está bem?

Maia hesita, mas murmura em concordância.

Me afasto e nem sei por onde começar.

— Eu... — me calo antes mesmo de começar, me afastando um pouco mais e indo em direção à porta. — Eu preciso verificar algo antes, está bem? Pode ser um mal-entendido, e que seja um pro nosso próprio bem. Você não pode sair daqui até que eu volte, certo?

— Espere! Você não está pensando em me deixar aqui sozinha, né? — Maia indaga, furiosa e desesperada. Não consigo vê-la, está completamente escuro, mas consigo sentir os sentimentos se expelirem pelo seu tom de voz.

— Não saia daqui.

É tudo que eu digo antes de atravessar a porta e voltar para o corredor iluminado pela luz de emergência, o que torna tudo muito mais sombrio. O silêncio absoluto faz meu coração disparar, pois minha cabeça está rodando com mil e uma possibilidades e isso me deixa extremamente ansioso. Faço questão de esvaziar minha mente e expulsar todos esses pesadelos antes que eu acabe perdendo a cabeça, e sigo meu caminho de volta à ala cirúrgica.

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