Capítulo quatro

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Theo

Consegui convencer a mulher a passar ao menos mais aquela noite com a menina e voltei com Milena para o hotel. Não trocamos mais uma única palavra a partir de então, e no dia seguinte, segunda-feira, fomos cedo para o conselho tutelar. Enviei uma mensagem a Taís pedindo para cancelar todos os meus compromissos do dia, sem dar maiores explicações, mas como ela sabia da morte da minha irmã – e da forma como tudo aconteceu – ela também não insistiu em perguntas. Também precisei que ela enviasse para mim fotos de alguns documentos.

Tudo foi resolvido no Conselho Tutelar mais rápido do que eu esperava, e até mesmo do que imaginava que fosse o padrão. Minha teoria de que todo mundo tinha o seu preço seguia funcionando bem. O homem que tinha ido nos procurar no hotel no dia anterior, pela má vontade explícita demonstrada em seu trabalho, havia me dado a impressão de ser uma pessoa facilmente subornável. E eu não estava enganado com relação a isso.

Fomos então para a casa da Marcela, onde a vizinha nos esperava já com as malas da menina prontas. Esta, inclusive, estava acordada, com os grandes e expressivos olhos azuis a nos analisar com curiosidade. Foi Milena quem a pegou no colo e incrivelmente demonstrava mais habilidade com isso do que eu poderia imaginar.

Aproveitei um momento em que Milena se afastou com a menina para fazer algumas perguntas à vizinha e compreender um pouco melhor o que acontecera à Marcela. Descobri que ela passou mais de um ano em um relacionamento extremamente abusivo, e como imaginei tinha sido essa a causa de seu afastamento de Milena. O filho da puta teve a coragem de ameaçar tentar algo contra nossa irmã caçula, o que fez com que Marcela tivesse que afastá-la para evitar que ela fosse até lá e encontrasse o infeliz. Isso foi dias antes de descobrir a gravidez, o que a tornou ainda mais vulnerável às ameaças e chantagens emocionais do maldito. Ele chegou a forçar uma mudança para a casa dela e apenas se afastou quando minha irmã reuniu coragem para denunciá-lo após uma agressão. Ele tinha uma ordem judicial proibindo-o de se aproximar dela.

Mas, infelizmente, isso não o impediu de matá-la.

Logo Milena voltou a se aproximar e achei melhor encerrar o assunto. Ela já estava sofrendo demais e não precisava de mais detalhes da situação. Instalei a tal cadeirinha de segurança no carro dela e deixei que levasse a menina durante a viagem. Chegamos em casa cerca de uma hora e meia depois. Minha intenção era comer alguma coisa e seguir para o escritório para tentar salvar parte do meu dia, mas vi que a coisa não seria tão simples assim quando, ainda na garagem, Milena simplesmente jogou a menina no meu colo. Segurei-a sem qualquer jeito, surpreso pela ação.

— Não posso ficar com ela, tenho um compromisso.

— Compromisso? Milena, foi você quem insistiu que tínhamos que trazer a menina.

— Para de chamá-la de 'menina', irmãozinho. O nome dela é Gabriela.

O bebê no meu colo riu, como se estivesse atendendo ao chamado pelo seu nome. Ou como se estivesse se divertindo com o meu desespero.

Parecia fortemente que a segunda opção era a correta.

— Ela não é uma gracinha? — Milena comentou, sorrindo e curvando-se em direção ao rosto do bebê.

— É uma gracinha que precisa ser limpa, alimentada, posta pra dormir... E eu não posso fazer nada disso, preciso trabalhar.

— E eu tenho um compromisso, já disse. Cuido dela de noite, tudo bem? Todas as noites, prometo. Ah, tirando sexta-feira da semana que vem, porque já tenho entradas para uma festa imperdível, estou esperando por ela há mais de um mês.

As Leis do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora