Capítulo 9: Foreigner's God

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"Ainda meu coração está pesado;
Com o ódio da crença de outros homens; (...)
Gritando o nome de um deus estrangeiro;
Gritando o nome de um deus estrangeiro;
A mais pura expressão de pesar."

– Foreigner's God, Hozier.


Nunca os sonhos foram tão brutais com Alexis quanto foram naquela noite. Os anjos voltaram, imponentes e majestosos, prontos para trazer guerra um ao outro, a diferença era que, desta vez, Lexi podia reconhecer o homem de asas negras. Ainda que seu rosto fosse encoberto por névoa e pela sombra que pairava sobre sua cabeça, estava óbvio que o anjo era Michael, uma besta tão divina quanto infernal, que pouco atrás, se lhe fosse apresentado nesta forma, ela teria cultuado como um deus. O conteúdo do sonho, no entanto, não era capaz de lembrar, mas devido ao estado em que acordou, tinha certeza de que não foi bonito.

Despertou no quarto de seu hotel em Los Angeles, o cabelo grudado na testa pelo suor, a garganta seca, as palmas que mutilou com as próprias unhas cobertas por esparadrapos, e o travesseiro molhado de lágrimas. A perfeita imagem do caos.

— Lexi! – Madison foi ao seu encontro ao vê-la sentar-se na cama, envolvendo-a num abraço que ela nem teve forças para retribuir. — Você está bem? Ficamos todas tão preocupadas!

— O que houve? – ela perguntou fungando, evitando olhar para o espelho acoplado ao guarda-roupa para não ver seu rosto inchado de sono e o nariz vermelho do choro.

— Você desmaiou após o encontro com Papa Legba. – a atriz contou. — Tiveram que carrega-la até aqui. Você chorou e gritou a noite toda, foi horrível.

— Gritei? O que?

Madison ficou apreensiva com a pergunta, mas jurou nunca mais mentir para Alexis, então, contou:

— O meu nome, e o de Michael também. – havia um pouco de ressentimento em sua voz. Se Alexis andava sonhando com Michael, esperava-se que fossem pesadelos, ainda que vê-la gritar e chorar por conta deles fosse uma cena dolorosa. — Mas principalmente, gritou por sua mãe.

— Minha mãe? – a confusão apoderou-se de Alexis, por quem ela teria chamado? — Fiona?

— Não, você não falou o nome de ninguém, falava mãe. – explicou. — Não sei se estava chamando por Fiona, Cordelia, ou uma daquelas deusas para quem você reza...

Madison parou de falar ao perceber que tocou na ferida, achando que Alexis fosse voltar a chorar e espernear como em seu sono, mas isso não aconteceu.

Ainda sofria com as revelações da noite anterior, mas sentia que não tinha como externar aquela dor mais do que já havia feito. Se chamou por uma mãe, esperava ter se referido a Fiona, ou até mesmo a Cordelia. Não mais pediria pela intervenção de quem não podia lhe ouvir.

— Tudo parece mais simples agora, mas também mais triste. – falou cabisbaixa. A complexidade cinza de seu mundo antes de Michael se fora, assim como seus mistérios sagrados, dando lugar a uma dualidade e oposição entre bem e mal, certo e errado, preto e branco, sem lugar para uma terceira cor. Era deprimente. — Mas sei que ficar me lamentando não vai mudar nada, as coisas são como são e me resta aceitar. Então me diga, o que aconteceu enquanto eu estava apagada e delirando? Sinto que foi uma noite agitada para todos.

A melancolia contida nas palavras de Alexis era evidente, e Madison, percebendo isso, chegou a pensar que era melhor se ela voltasse a chorar, seria mais fácil consolá-la. Mas se Lexi preferia sofrer conformada, que assim fosse.

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