Capítulo 13: Baby Came Home

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"Meu amor veio para casa hoje, disse-me para ficar longe;
Ela me disse que o homem dela está com medo;
Falou que é melhor eu me comportar;
Meu amor voltou, disse-me que está deixando a cidade;
Disse que precisa de tempo para explorar, que eu não posso mais amá-la;
Pensando nela, ela está longe o tempo inteiro;
Acho que se você a encontrasse, também ia perceber."

– Baby Came Home, The Neighbourhood.


A noite na casa de Madelyn pareceu uma eternidade para Alexis. Incapaz de aquietar seu coração e sua mente, passou horas virando de um lado para o outro na cama, pensando naquele que foi um dos dias mais intensos de sua vida. Cumpriu seus objetivos com louvor, estabelecendo a trégua entre Michael e o Coven, e entendendo de uma vez por todas qual era o seu papel naquela história toda. Mas a despeito do sucesso de sua missão, sentia-se usada. Tinha certeza ter feito parte de uma maquinação tramada por Mallory e Cordelia, que certamente já sabiam de tudo, para coloca-la no caminho de Michael, pois se ela tivesse descoberto a verdade através delas era provável que não se desse ao trabalho de ir atrás dele.

No entanto, quando seus pensamentos se voltavam para o garoto dormindo no quarto ao lado, imaginava se ele não tinha mesmo razão ao dizer que tudo aconteceu como o destino decretou. E como se revoltar contra o destino – porque ela se recusava a pôr aquela série de acontecimentos na conta de Deus ou Satanás – se ele dizia que seu lugar era ao lado de Michael? Se em seu âmago, ela sabia que o acordo que fez com o anticristo não era a única razão pela qual aceitou voltar para ele de tempos em tempos, era também a incapacidade de rejeitar o olhar pedinte daquela criatura divina que a tratava com tanta dedicação mesmo conhecendo-a tão pouco?

Tais pensamentos tornaram-se pesados demais para que Alexis alimentasse qualquer esperança de que ainda conseguiria dormir naquela noite. Levantou-se e foi ocupar a cabeça de outras coisas.

Começou indo para a cozinha, procurando qualquer bebida que lhe entorpecesse os sentidos – já que os cigarros de Madelyn não eram de seu gosto – e contentou-se com um vinho mexido na geladeira. Depois, foi até a lavanderia, onde horas antes havia pendurado as roupas de Michael após lavá-las, e pegou o lenço de seda vermelha que estava rasgado em dois lugares diferentes. Por fim, usando a Adivinhação, encontrou linha e agulha em uma das gavetas da sala de estar, e pôs-se a trabalhar para concertar o tecido.

Era difícil costurar a seda, especialmente à mão, mas Alexis conhecia o ofício desde pequena. Quando abraçou os antigos deuses, decidiu que também gostaria de ser como as antigas bruxas que os adoravam, e isso implicava em viver como elas. Suas ancestrais não deixavam terceiros preparar a comida que alimentava seu Coven e família, ou arar os campos de onde tiravam seu sustento, tecer as roupas que vestiam e muito menos que empregados criassem seus filhos, como era comum à época. Para elas, servos eram para a limpeza e nada mais. Com o tempo, Alexis percebeu que não fazia o menor sentido aplicar regras tão arcaicas em uma vida moderna, mas a obstinação do final de sua infância e pré-adolescência a ensinaram como se virar sozinha, embora, com todo o dinheiro que herdou, tinha o luxo de exercer aquelas funções como passatempo e quando queria, como era o caso agora.

Uma hora e duas taças de vinho depois, o lenço estava tão novo como se tivesse acabado de sair da loja. Ainda era cedo e os primeiros raios de sol surgiam no horizonte, mas Alexis decidiu que já podia ir embora. Antes, porém, por pura força do hábito, passou pela cozinha de Madelyn mais uma vez e fez o café, deixando uma garrafa cheia em cima da mesa, junto com um bilhete de agradecimento à anfitriã e o lenço de Michael.

Chegou ao hotel perto das sete da manhã, com a cabeça latejando por conta do vinho barato e da falta de uma noite bem dormida. Estava exausta, e sentiu-se estranhamente confortada ao entrar em sua suíte e ver Madison dormindo serenamente na cama que dividiram por noites a fio.

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