Capítulo 15: Hurricane

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"Bem-vindo ao funcionamento interno da minha mente;
Tão escura e imunda, eu não posso disfarçar;
Não consigo disfarçar;
Noites como essa, eu fico com medo;
Da escuridão em meu coração;
Um furacão."
– Hurricane, Ms Mr.


No dia seguinte, Alexis chegou cedo à casa de Madelyn, com dores nas costas pela noite dormida no chão e uma mala cheia de roupas em mãos. Para ser sincera consigo mesma, a bruxa sentiu-se constrangida em pedir asilo à Madelyn, ainda que a mulher se mostrasse radiante com a ideia – e com qualquer coisa que agradasse Michael – era estranho para Lexi abrir mão de sua autonomia só porque a solidão andava lhe perturbando, e o sorriso vitorioso nos lábios do anticristo a fazia sentir uma imbecil por acatar as vontades dele.

— Desmanche essa carinha convencida antes que eu me arrependa de ter vindo. – Alexis falou no momento em que pôs os olhos nele, mas a sentença acabou saindo mais descontraída do que ela planejou. — Leve minhas coisas para o quarto de hóspedes vago. – ela empurrou a mala para cima dele, ditando regras como se mandasse no garoto. — E vamos ficar na sala hoje, minhas costas estão me matando e não vão aguentar aquela cadeira dura da cozinha.

Michael riu-se com a postura autoritária de Alexis, satisfeito demais consigo mesmo para desacata-la.

— Como a minha senhora desejar. – Michael fez uma mesura na intenção de provoca-la, mas saiu antes que ela pudesse responder.

Alexis suspirou frustrada, incapaz de repreender o garoto pela insolência de fazer suas bochechas rosarem de vergonha. Ela sentou-se no sofá e esticou as pernas, esperando Michael voltar.

— O que temos para hoje? – Michael perguntou ao retornar para a sala, sentando-se na oura extremidade do sofá, visto que as pernas compridas de Alexis ocupavam a maior parte do móvel.

— Gênesis 2. Adão, Eva e a injustiçada Lilith. – ela respondeu, indicando a página em que ele deveria abrir.

A manhã e tarde daquele dia foi dedicado ao estudo dos pais da humanidade, da primeira mulher, Lilith, que muitos também acreditavam ser a primeira bruxa, e do Grande Concílio de Nicéia que a excluiu dos cânones bíblicos. Michael já tinha conhecimento prévio sobre a história, Constance adorava usar o exemplo do casal do Éden para ilustrar como os homens que se deixam levar pelas mulheres tornam-se pecadores, mas até então, não tinha noção de que o demônio Lilith fora criado do barro pelas mãos de Deus.

— Se ela é originalmente humana, como pode ser tão poderosa? – Michael indagou, confuso.

— Eu não tenho a menor ideia, Michael, pergunte ao seu pai quando falar com ele. – Alexis deu de ombros, aquela pauta não era importante. — O ponto aqui é que Lilith hoje é celebrada como uma grande inspiração para as mulheres insubmissas, ela fugiu do Éden e se aliou à Lucifer, provando que nenhum deus e nenhum marido lhe diriam o que fazer.

Eles continuaram a debater sobre a corajosa Lilith, Adão, Eva, a serpente e a maçã. Foi um dia produtivo, e ao fim dele, Alexis passou um tempo na varanda fumando com Madelyn, se forçando a ouvir a mulher falar do quão honrada estava com a presença dela e de Michael em sua casa, enquanto esperavam pela entrega de uma pizza, visto que nenhuma das duas estava com vontade de cozinhar naquela noite.

Depois da janta e do banho, quando Alexis estava sonolenta e pronta para dormir, seu celular vibrou em cima da mesa de cabeceira, e o nome do contato que brilhou na tela a alarmou ao ponto de despertá-la por completo: Cordelia.

— Delia? – a jovem atendeu preocupada. — Está tudo bem?

Eu é que te pergunto, Alexis. – a voz da Suprema soava diferente quando falada através do telefone. — O aviso do cancelamento de sua hospedagem foi enviado ao meu e-mail hoje, onde você está?

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