NÃO QUERO ACORDAR

encontros & despedidas

"Eu sempre quebro a cara. Não sei aprender de outra forma..."

— Filho, se você não prestar atenção, não vai aprender a fazer o arroz — Sra. Taylor dizia, incomodada porque Jake não parecia estar entendendo nada que ela fazia, só assentia e dizia:

— Isso eu já sei, mãe, relaxa. Não lembra que eu já morei sozinho? — Jake ria do esforço da mãe em deixar tudo perfeito na nova casa dele.

— Você morou numa república cheia de garotos porcos. Era pizza todo dia. Duvido que um dia entraram naquela cozinha... — Sra. Taylor disse, desistindo de ensiná-lo a fazer arroz.

— A gente entrava, sim... — Jake sorria, nostálgico — para guardar o resto da pizza na geladeira.

Jake havia conseguido uma proposta irrecusável de trabalho na cidade de Glasgow, tendo que deixar a casa de seus avós em Edimburgo e também dar um adeus definitivo aos Estados Unidos. Seus pais estariam voltando naquele dia para ficar permanentemente em North Adams, na direção da igreja que seu pai pastoreava. Seu irmão mais novo, Thomas, havia se casado há menos de um ano e estava morando em Edimburgo com a esposa, Grace.

Isso queria dizer que, definitivamente, cada casal da família estava tomando rumos completamente diferentes; a família se reuniria nas férias, ou em feriados prolongados, mas nunca mais seria a mesma coisa. Jake sabia que tudo estava mudado, tudo estava se encaminhando na vida de todos, mas ele se questionava se qualquer coisa havia mudado na sua própria vida. Não. Parecia que estava estagnado na mesma. Ele ainda era aquele garoto infantil de 25 anos, que se frustrara tanto em sua vida amorosa que acreditou que deixar tudo aquilo de lado e focar no trabalho seria a melhor opção.

Havia se iludido algumas vezes. Sua família tinha o costume antigo de inspecionar algumas possíveis candidatas para seus filhos, desde crianças. Não era nada forçado, Jake gostava da ideia. Sabia que eles poderiam fazer uma escolha muito melhor do que ele, pois confiava em seu bom senso. Até que eles lhe apresentaram Gwen, uma escocesa loira, filha de amigos de seus avós. Tudo estava muito bem encaminhado, não estava tão loucamente apaixonado por ela, mas sabia que ela seria uma boa mulher para se escolher amar.

Estava considerando se casar com ela até, mas o que menos esperava aconteceu. Ela não estava tão disposta a se entregar como ele estava. Ela tinha um amante, alguém com quem namorava escondido de seus pais. Os avós de Jake descobriram que Gwen estava traindo o compromisso que havia feito quando a viram de mãos dadas com um rapaz num café da cidade de Edimburgo. Isso foi a gota d'água. Tudo foi cancelado, até mesmo as esperanças de Jake em encontrar alguém.

Jake, diferente de seu irmão mais novo, nunca havia frequentado a escola. Havia sido educado por sua mãe em Plymouth, antes de se mudarem para North Adams, e optou por estudar sozinho, com suas apostilas e livros. Ele, de fato, era um autodidata. Aprendeu coisas que a escola nunca lhe ensinaria, como desmontar e montar bicicletas, motos e equipamentos de carro.

Aos dezesseis anos arranjou um emprego numa grande oficina da cidade, pois tinha a prodigiosa capacidade de consertar grandes tratores, retroescavadeiras, caminhões-prancha e patrois. Isso foi suficiente para ele se encontrar: queria produzir coisas novas, coisas mecânicas, coisas inovadoras, tecnológicas.

Assim, logo que se julgou preparado física e intelectualmente para ingressar na faculdade, foi morar em Boston, escolhendo engenharia mecatrônica como seu mais novo objetivo de vida. E aquele foi seu objetivo de vida até o fim, até encontrar o emprego perfeito em sua área numa grande empresa britânica de engenharia mecatrônica que se encontrava em Glasgow, na Escócia.

Durante o tempo em que esteve na faculdade, reuniu-se com alguns garotos numa república, todos bem animados como ele, a princípio. Jake se lembrava com muito carinho de como se tornara amigo de dois deles.