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Donna estava inquieta. Tinha voltado pra casa, depois de negar a carona de Harvey pela décima quarta vez – ele fora surpreendentemente insistente –, e não sabia como olharia para Matthew.

Apesar do adiantado da hora, o noivo ainda não havia aparecido e, se por um lado a ruiva ficava preocupada, por outro, ela agradecia.

Como encararia o noivo depois de ter passado todo o jantar com a mão entrelaçada com a de Harvey? Como o beijaria, quando tinha passado a noite inteira desejando que Harvey tivesse cruzado a linha?

Ela quase aceitou a carona, mas sabia que se o tivesse feito, agora ela estaria bem encrencada. Muito provavelmente, ela não voltaria pra casa. Ou, se voltasse, não estaria sozinha.

Por mais que o pensamento fosse bem agradável, teria sido um erro. Ela não pode deixar se levar outra vez, não pode desistir da sua vida de novo. Harvey não é o tipo de cara que casa, que se apaixona, que forma uma família... Mas é disso que Donna precisa.

E Matthew é!

Ele ajudou tanto durante a transição de Donna, a ajudou com a empresa quando seu pai ainda estava no hospital, a apoiou quando estava dando tudo errado... Ela ainda lembra da noite em que ela estava sozinha, bêbada no tapete da sala e Matthew apareceu, apitando a campainha insistentemente. Donna o atendeu e ele disse que estava preocupado com ela, porque ela tinha sumido.

E, de fato, tinha. Rachel havia ligado pra ela mais cedo e lhe contado sobre Scottie, que havia reaparecido na empresa. Harvey, obviamente, saíra com a morena e Donna teve a certeza de que havia perdido o advogado pra sempre. Ela ainda esperava que ele aparecesse na cidade algum dia, dizendo que a amava. Mas, naquele dia, ela soube que isso nunca aconteceria.

No entanto, Matthew apareceu. Já quase de madrugada, ofegante e preocupado. E ali, ela soube que precisava seguir em frente. Ele era um ótimo amigo e tão bonito, com seus ombros largos e seu sorriso torto. Assim, Donna contou pra ele toda a sua história – agora, ao contrário da primeira vez que tiveram uma conversa séria, quando tomavam um café na empresa, ela incluiu o não-relacionamento com Harvey. Matthew deu apoio, disse que adoraria ajuda-la com a superação e, no outro dia, combinaram de almoçar juntos.

Era o início de uma linda história. E, depois do fracasso do casamento da irmã, Donna soube que não poderia deixar Matthew ir embora. Ele era especial demais. E provavelmente a última chance que Donna teria de ser feliz com alguém.

- Você realmente não vai falar comigo? – Donna se assustou com a voz do noivo, que estava parado em sua frente. Ela se perdeu entre tantas lembranças e não percebeu que ele estava ali até que ele estalou os dedos em sua frente.

- Eu sinto muito.

- Como foi o jantar? – Matthew perguntou, abraçando Donna pela cintura e lhe beijando os lábios.

- Foi... Bom. – Donna respondeu nervosa. – Nada demais, apenas revi os amigos...

- Que bom! Eu precisei resolver umas pendências, falar com alguns conhecidos sobre o novo curso que estamos pensando em lançar. Você sabe como é, fazia tempo que não nos víamos e fomos tomar alguma coisa. – Ele falava apressado, como se estivesse nervoso, mas Donna apenas sorriu. – Eu juro que não bebi muito.

Donna deu de ombros, não estava em posição de reclamar de nada. Mesmo que ele tivesse bebido quatro caixas de cerveja, por exemplo, ela não poderia dizer um ai. Havia feito coisa pior...

Ela respirou fundo e puxou o noivo pela mão. A sensação fria do toque de uma mão na outra deixou uma sensação de vazio, como se aquela fosse a mão errada. Donna sacudiu a cabeça e decidiu que não se abalaria com aquilo. Era a mão de seu noivo, a única mão possível.

- Harvey estava lá. – A ruiva disse de uma vez, antes de perder o fôlego e a coragem, assim que os dois sentaram no sofá. – Rachel me disse ainda de tarde, mas eu não quis te falar nada.

- Harvey o seu ex-chefe?

- O próprio.

Matthew suspirou. Ele soltou as mãos de Donna e apoiou as costas no sofá.

- Como foi?

- Foi... Esquisito. – Donna decidiu ser sincera, mas evitou olhar para o noivo. Ficou encarando as mãos. – Ele parecia diferente, estava todo sorridente e cheio de carinho, não saía de perto de mim. Ele disse algo sobre estar arrependido e... – Donna respirou fundo, nervosa. – Me pediu um jantar.

- Um o quê? – Matthew se endireitou, tocando os ombros da noiva. – Um jantar?

- Matt...

- Não, espera. Eu sei que a história de vocês dois é complicada, sei que você o amou muito e entendo que queira retomar a amizade. Mas você não acha isso demais? Um jantar, como nos velhos tempos? Donna, eu tenho medo que não haja espaço pra um noivo no meio de vocês dois.

- Ele é meu amigo, Matt. Eu não falava com ele desde quando fui embora. Eu sinto saudade... – Donna murmurou, um pouco envergonhada. Ela sabia que estava arriscando perder o que tinha com Matthew, mas Harvey estava tão diferente...

- Eu sei que sim, Don. E eu não quero que você me entenda mal. Não quero que você nunca mais fale com ele, nem que evite estar nos lugares que ele estiver. Eu só... acho que a configuração da amizade de vocês vai precisar mudar. Não dá pra você estar noiva de mim e sair pra jantar com esse cara. Ele nunca foi seu namorado, mas você o amou demais. Talvez até

- Não. – Donna o interrompeu. – Não continue. Não diga isso. – A ruiva se levantou e virou as costas para o noivo, que percebeu que havia dito bobagem. – Eu não passei os últimos dois anos provando que gosto de você pra ouvir esse tipo de coisa.

- Você nunca disse que me ama. – Matthew acusou, encostando novamente as costas no sofá.

- Isso não quer dizer que ainda ame o Harvey.

- Ah não?

- Não. – Donna disse firme, se virando novamente para o noivo. – Eu não amo ele, mas não acho que seja capaz de amar você como o amei um dia. O sentimento foi forte demais, eu fiquei presa a ele por uns doze anos. – Matthew balançou a cabeça, concordando, e Donna sorriu. – Estou presa a você por somente dois. – Brincou.

Matthew, sorrindo, levantou do sofá e se aproximou da noiva, puxando suas mãos.

- Escuta, eu não quero que pense que sou um ciumento possessivo e inseguro, porque eu não sou. E você sabe. Eu só... Fico com medo que você se deixe levar por uma sensação boa, por essa saudade toda que você sente, e acabe se afastando de mim. Lá, em Seattle, éramos nós e a sua família e alguns amigos em comum. Aqui, somos nós e os seus – ele enfatizou – amigos.

- Foi você que quis voltar. – Donna acusou.

- Porque fazia mais sentido.

- Matt, eu...

- Escuta. – Ele pediu, acariciando as mãos de Donna. – Tá tudo bem você sair com seus amigos, voltar a viver um pouco como antigamente. Eu realmente não me importo. Eu só não quero que você se afaste, que eu te perca pra eles. Hoje iríamos jantar todos juntos e acabou que você jantou com eles, sozinha. É isso que eu não quero.

- Foi você quem não pôde ir, Matthew.

- Eu sei. E eu já pedi desculpas por isso. Antes e agora, também. Não estou dizendo que a culpa foi tua, eu só lamento que tenha sido assim.

- Eu queria que você tivesse ido. De verdade.

- Eu sei. E eu também. – Matthew sorriu e Donna quis beijá-lo. – Eu prometo que não vou ficar chateado com esse jantar com Harvey SE pra cada jantar com ele, eu ganhe o dobro de atenção.

Donna riu e encostou seus lábios nos do noivo, sorrindo. Era tudo tão fácil com ele...

- Eu prometo. – Ela respondeu, beijando-o novamente.

- Então vá. Saia com ele, se divirta e depois volte pra mim.

- Eu tive muita sorte de te conhecer... – A ruiva murmurou os lábios encostados nos de Matthew.

- Eu tive muito mais.

Os dois se beijaram –e o homem decidiu encerrar a noite dentro do quarto, nos braços da ruiva.

Ela foi emboraOnde histórias criam vida. Descubra agora