6. Como o canto de todos os pássaros

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Não importava tudo que tivesse acontecido antes, nem mesmo a sensação péssima que tentara assolar o príncipe pela manhã logo após sua madrugada bizarra por aquele sonho, - cujas dúvidas ele havia conseguido obliterar pelo resto das horas seguintes- aquele dia havia sido único. (Em um bom sentido, e ele podia contar nos dedos quantos desses dias já havia tido em seus dezenove anos de vida).

Chegou aos adros salpicados por anciãs e luzes solares que rodeavam o Castelo, com um caprichado café da manhã em mãos.

Sumi e Taka, que terminavam de dispor seu pequeno arsenal na grama, se voltaram para o que Adrian segurava como se fosse um banquete real.

- Isso é perfeito! - Sumi exclamou olhando para o simples doce, quando os três, antes de darem início ao treino se sentaram abaixo de uma das árvores.

- Nunca comi nada assim, pelo menos não que eu me lembre - O irmão adicionou.

- Não podia alimentar os dois apenas com vinho. - Respondeu Adrian - Consigo imaginar mil desculpas que arranjariam por isso.

Eles riram timidamente.

- Isso é... Doce? - Disse um dos dois, com a voz anormalmente abafada para descobrir qual era.

Doce... A palavra fez Alucard se afastar instintiva e não naturalmente. O cheiro deles era doce. Do sangue tenro fluindo através de seus corpos jovens.

Para qualquer vampiro seria uma tentação insuportável ficar tão perto de humanos que pareciam ser tochas ambulantes. Agradeceu ao céu límpido daquela manhã por esse não ser um problema para si; Dampiros podiam sentir o sangue humano, seu aroma, seu calor e ouvir o coração bombeando o líquido pelo corpo humano como qualquer imortal. Podiam até bebê-lo e ter o mesmo prazer que seu familiar - pelo menos culinariamente - mas felizmente não o desejavam com tamanha intensidade. Quase nada na maioria das vezes - e os vinhos mélicos e requintados da corte sempre supriram qualquer curiosidade que já pudera ter tido antes.

Hoje, aliado a sua repugnância do ato a simples ideia o causava uma ânsia violenta.

Contudo ainda era algo interessante: tinha todos os sentidos apurados para obter, toda a capacidade bestial em relação a força, mas não tinha a sede.

Quanto mais tempo levavam para começar, mais ele descobria o quanto estava ansioso para lhes transmitir todos esses conhecimentos. Como sua mãe e seu pai há muito tempo haviam-no feito. Recordou as lições de medicina, história, artes, geografia - até às enfadonhas lições de etiqueta que por seu título foram necessárias - com Lisa e os tutores cheios de aprendizados de lugares distantes; e claro os treinos combatentes que tivera com o pai tão cedo e pelo que parecia ter sido tão pouco tempo.

Era como se tudo isso se achasse preso dentro de si, pedindo para se libertar. Então pensou numa possibilidade maravilhosa: a de que pudesse manter vivas as melhores coisas sobre os pais por meio da difusão; as quais ele tinha conhecido intimamente...

- Ainda está aí? - Sumi o perguntou balançando a mão próxima de sua face e tirando-o do devaneio.

Ele se levantou finalmente e os disse:

- Vamos.

Passaram toda a manhã juntos e fora do Castelo. Uma manhã tão agitada para o príncipe soldado quanto antigamente; em meio a simples combates que envolviam desde técnicas de defesa á tentativas de ataque. Com as flechas os gêmeos eram exímios, lépidos e mais violentos que qualquer arqueiro que Alucard já tivesse visto.

Mas ele em si era um espadachim; Desde que começara a mover as mãos. Porém ao entregar a arma a Taka o garoto sequer conseguiu empunha-la direito.

Golden Tears - O príncipe AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora