And this truth cuts not through one, but both of us
But it's deeper if I hold on
(E essa verdade corta, não por um, mas por nós dois. Mas é pior se eu insistir)
Breathe - Lauv
ᴠɪᴄᴛᴏʀ
ᴇᴜ ᴄᴏɴʜᴇᴄɪ ᴇʟʟɪᴇ em um dos trotes para os calouros na faculdade. Estava distraído, conversando com alguns colegas, até que seus olhos perspicazes me chamaram a atenção.
Eles eram de um azul brilhante e eu fui cativado. Começamos a conversar ali mesmo e não paramos pelos próximos dois meses para enfim o momento do nosso primeiro beijo chegar. Então, os encontros começaram e logo estávamos nos apresentando como namorados.
Eu testemunhei aqueles olhos azuis perspicazes e curiosos com uma doçura ainda presente da adolescência se desenvolverem na mulher determinada. Elena era como uma leoa, observava bem para poder atacar, e toda sua força me conquistou.
Ela me ensinou o que era o amor e eu nunca aprendi tanto ao conviver com alguém. No entanto, eu me notei perdido.
Entrei fundo demais nos olhos de oceano dela e estava começando a me afogar, porque toda a escuridão dos meus olhos não estava mais a vista. Eu estava circundado de azul e ela, de um negro intenso.
Nos despejamos tanto um dentro do outro que nos abandonamos, soltos e sem volta. Eu já não sabia respirar por mim mesmo.
Os últimos meses do nosso namoro foram como uma tempestade sem fim, uma guerra inacabável dentro da minha própria cabeça. A cada dia que se passava eu me sentia um pouco mais sufocado, e procurava por soluções que não fossem a que mais piscava como um farol: terminar.
Porém, não as encontrei. Eu sabia que só estava desperdiçando o tempo de Elena e, por mais que não quisesse machucá-la, precisei lhe contar a verdade. E finalmente entendi o porquê de dizerem que a verdade dói.
Depois de sair do parque, me senti como se estivesse vazio, completamente sem nenhum conteúdo, apenas uma existência confusa. Percebi que teria de aprender a respirar novamente, por mim.
Sem mais ninguém para ser meu suporte de oxigênio.
Aos poucos, pequenas inspiradas se tornaram mais fáceis. Em algum momento fui capaz de respirar longamente e voltei a tomar fôlego.
Concluí que o maior ensinamento o qual Ellie me deixou foi a partir do momento em que não estávamos mais juntos. Eu teria de cuidar de mim caso quisesse fazer algum futuro relacionamento funcionar.
Então, quando estava respirando normalmente pela primeira vez, eu conheci Carine. Ela trabalhava em um mercado novo que ficava perto da casa de um amigo meu. Passei a não me preocupar tanto com o que aquilo significaria no futuro e foquei em mim — mas confesso que as visitas à casa do meu amigo aumentaram desde que a havia encontrado.
À medida que Carine e eu nos aproximamos, apliquei o que havia aprendido com Elena e mantive uma porção de minha essência intacta, com tempos dedicados a mim e incentivando Carine a fazer o mesmo. Porém, o peso de imaginar como Ellie estaria depois de tudo me assombrava às vezes.
Por isso que, quando a encontrei de novo naquele parque, onde tudo havia acabado há oito meses, lendo embaixo de uma árvore, o que me formou foi felicidade. Vê-la radiante daquela maneira foi apaziguador, e perceber que não havia ressentimento de nenhum dos lados trouxe paz ao meu coração.
Eu me orgulhava de Elena por ter se tornado aquela pessoa.
E eu me orgulhava de mim pelo mesmo motivo.
Palavras: 528
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Não Se Abandone ✓
Short StoryVictor decidiu colocar um ponto final em seu relacionamento com Elena. Agora sozinha, ela se percebe carregando um enorme vazio além da dor que o término deixou. Ellie estava abandonada. Porém, ela não poderia acusar ninguém por estar à deriva além...