03. Orgulho

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It's gonna sting a little 'cause nobody likes moving on

(Vai doer um pouco poque ninguém gosta de seguir em frente)

Nobody likes moving on - SHY Martin

Nobody likes moving on - SHY Martin

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ᴇᴜ ᴇsᴛᴀᴠᴀ ɪɴᴅᴏ ʙᴇᴍ.

Um passo de cada vez, estava sendo capaz de me encontrar.

A cada dia descobria algo novo sobre mim, sendo coisas que já sabia ou que eu não fazia ideia de que poderiam me interessar. Meus momentos sozinha em uma caminhada, observando o céu ou tomando um sorvete, se tornaram minhas memórias mais preciosas.

Acontece que, depois de muito analisar, percebi que os últimos meses do nosso namoro haviam se tornado desgastantes. Não chegávamos a muitos acordos, estávamos mesclados demais, não tínhamos tempo para nós mesmos e nos perdemos no que um dia foi amor e se transformou em convivência confusa.

Eu entendi que Victor não queria meu mal e que nossa história só recebeu um ponto final.

Apesar de meu cérebro saber de tudo isso, meu coração não processou na mesma velocidade. E era isso que me tornava humana. Eu ainda sentia saudades. Eu ainda amava.

Por isso que, quando achei que estava pronta e decidi fazer uma faxina no meu quarto e tirar de lá as lembranças que ainda tinha de Victor, eu não aguentei. Meu peito explodiu.

Foto atrás de foto em um álbum que montamos para o aniversário de namoro de um ano. As fitas dos presentes que ele havia me dado, junto de seus bilhetes. O pen drive com músicas que trocamos.

— Droga.. — suspirei, mordendo o lábio.

Eu não estava pronta.

Com a respiração entrecortada, deixei as coisas de lado. Dois dias depois, eu ainda não havia voltado a mexer nas lembranças, mas estava leve novamente.

Decidi comprar algumas coisas no mercado do bairro, aproveitando para sair sozinha, já que Ester havia ido visitar uma prima sua. Andar na rua sempre me fez bem, observar as pessoas e o céu enquanto vagava pela calçada.

Um sorriso leve surgiu em meus lábios e um pequeno encanto dominou meus olhos. Inspirei, sentindo o ar dilatar meus pulmões enquanto minha pele era banhada pelo sol. Naquele ínfimo instante, eu estava em paz.

Atravessei a rua e ia entrar em um novo mercado que havia ali e fora muito elogiado, porém, uma visão me fez congelar. Bem ali, conversando com a moça do outro lado do balcão, estava Victor.

Era a primeira vez que o via após dois meses.

— O que eu faço? — sussurrei para o vento, correndo o olhar pela cena que se desdobrava a alguns metros de mim, torcendo para que eles não me vissem.

O sorriso de Victor era doce e como um refresco depois de tanto tempo, seu cabelo caía sobre o rosto e suas íris negras reluziam. Ele tinha uma pose despreocupada e estava apoiado sobre o granito.

Hesitei, arregalando os olhos e me sentindo ser perfurada por facas ao ver a forma que a funcionária do mercado o encarava. Ela tinha um semblante apaixonado, ansiando pela correspondência daquele que foi meu namorado.

Com um impulso de coragem, girei nos calcanhares, sentindo toda a paz que me embalou há pouco evaporar.

Se na ida eu havia aproveitado a caminhada, na volta fiz questão de correr para o apartamento. Não esperei o elevador e subi as escadas correndo, abrindo a porta e seguindo para o banheiro.

Em alguns segundos me enfiei debaixo do chuveiro, vendo os fios loiros ficarem escuros com a água. Respirei com dificuldade, percebendo a dor se espalhar por meus músculos e veias como veneno.

Eu já sabia que o banho era um bom meio de deixar as lágrimas saírem, ao mesmo tempo que distraía com a tarefa de cuidar do cabelo. Assim, deixei a água quente levar junto minhas lágrimas e abafar meus soluços.

Talvez eu estivesse chorando demais, mas o fato de ver Victor ali, foi como se nem uma hora tivesse se passado ao mesmo tempo que uma eternidade se formou entre nós. Porém, o que mais me assustou não foi isso.

Em seu jeito despojado, eu consegui reconhecer o que via em mim. Estranhamente, eu notei nele as mesmas dúvidas que via refletidas no espelho, sobre quem eu era, juntamente de uma postura suave que escondia uma tempestade por dentro.

Ele sentia o mesmo que eu naquele momento, mas com causas diferentes. Eu sofria pelo amor perdido, ele por ter quebrado meu coração.

Com a conclusão de que estávamos vivendo buscando coisas diferentes, terminei o banho o mais rápido que pude e coloquei uma roupa confortável. Olhei para um ponto em específico do quarto e respirei fundo.

Comecei a faxina assim que reuni coragem suficiente. Separei para doação as roupas que Victor havia me dado nos últimos três anos, e fiz o mesmo com os bichinhos de pelúcia. Guardei as fotos e os álbuns em um pequeno baú e o enfiei em um local no fundo do guarda-roupa, não queria jogá-las fora porque eram lembranças que faziam parte da minha trajetória.

Segui assim até chegar a noite e não ter mais nada fora de sacolas ou de armários que me lembrassem Victor. Percebi que tinha muito espaço vazio de decorações, mas seria muito promissor para mim bolar meios criativos de ocupá-lo.

Sorri revigorada, e olhei para aquele dia triste, agora sendo tomada por uma percepção: por cada lágrima que eu derramasse, um sorriso surgiria em meus lábios no futuro.

Sendo sincera, eu estava indo bem.

Um passo de cada vez, estava sendo capaz de me encontrar.

E eu sentia um conceito novo: orgulho de mim mesma.

Orgulho por todos os pequenos passos que eu tinha dado desde o término, orgulho por ter escolhido caminhos que fizeram melhor para mim, orgulho por ter a coragem de voltar a conhecer a mim mesma, orgulho por simplesmente não ter desistido. Orgulho de ser quem eu era, com cada detalhe e pormenor que não pertencia a mais ninguém além de mim.

Orgulho de ser eu

Palavras: 955

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