Santarém, 2025
Belle nem acreditava que estava indo para a casa de seu admirador. Ao mesmo tempo, sentia medo. Se ele estava a levando, ele deixaria de ser seu amigo. Aquela foi a única relação que teve desde então. Quanto mais se aproximava do dia em que Kauê e Luzia (agora ela sabia), haviam combinado de colocá-la para tocar, mais triste ela ficava. A noite finalmente chegou, ela fora colocada no carpete cor de creme da sala dele. Eles estavam sentados um ao lado do outro.
— Você está pronta? — Ele perguntou a mulher de batom escuro, que tremia.
— Vai logo! — Luzia pediu e ele assim o fez. Girou a manivela amarela e teve uma grande surpresa.
Os mesmos feixes de luzes vermelhas que Gael fez surgir naquela lua, naquele teatro, preencheram o cômodo enquanto a mais triste melodia tocava. Flutuava sobre eles a construção de uma mulher, vestida exatamente como a boneca. Ao seu lado, uma vitrola também era feita. Luzia e Kauê não sabiam o que sentir, ele chorava de felicidade e Belle ficou sem entender. Se ele a admirara por tanto tempo, ele não estava apaixonado?
Terminada a transformação, os dois quiseram saber o que havia acontecido. Belle contou tudo, desde o início, em lágrimas de alívio. Até que chegou ao ponto crucial: como você não se apaixonou?
— Porque eu amei, Belle. — Kauê respondeu prontamente à bailarina confusa.
— O que você quer dizer com isso? — ela perguntou, enquanto se punha de pé e arriscava alguns passos pela sala. Finalmente, ela não mais fazia a pirueta arabesque. E não mais ouvia aquela música.
— A paixão pode ser avassaladora, mas é efêmera. O amor, não. Quando Kauê se pôs à frente da vitrine para observá-la por tanto tempo, ele zelou sua existência. Se ele estivesse apenas apaixonado, logo passaria e você nunca mais o veria. Amor, Belle, é cuidar da pessoa a qualquer custo, mesmo que ela não esteja com você. — Luzia respondeu entre lágrimas.
— Gael te transformou nisso, porque ele não a amava. Eu sinto muito. — Kauê respondeu, concordando com a amiga.
— Então, eu finalmente posso ficar em paz? — Belle chorou, não conseguia acreditar que não era mais um objeto inanimado. Estava viva. E, ao contrário do que Gael pensara, não odiava a música. Quem lhe tirou a vida foi ele, não foi a música.
Kauê e Luzia assentiram em lágrimas, observando Belle desaparecer em direção à lua.
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A Bailarina da Lua Crescente
Short StoryA cidade de Encantos recebeu esse nome por conta das inúmeras lendas que a cercam. Uma delas, é a da bailarina da lua crescente. Uma dançarina chamada Belle, há muito tempo, foi enfeitiçada por Gael, em uma noite de início de ciclo lunar. Ele não co...