Capítulo 1 - Lua Crescente

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Encantos, 1933

Eram 18:57 da noite, enquanto Gael observava Belle em passos suaves, de um lado ao outro do teatro. Ele havia saído a pouco da aula de magia, ambos eram muito jovens. Belle possuía longos cabelos pretos e a pele escura, próxima ao marrom. Era mulher de poucos adereços e talvez por isso fosse tão bonita. Possuía um rosto arredondado, olhos pequenos e marcantes. Seu batom era cor de rosa bem claro, assim como seu tutu. Gael, era esguio, tinha olhos grandes e sua barba estava no início, raros pelos eram vistos em sua pele branca. Seus olhos eram verdes, como folhas novas.


— Você está sempre tão bonita, Belle. — Ele diz, enquanto ela tira a agulha da vitrola e desce as escadas, indo ao seu encontro.


Eles passaram a infância correndo pela fazenda dos avós de Gael. Quando a tarde chegava ao fim, costumavam deitar na grama para esperar a lua e as estrelas.


— São seus olhos, Gael. — A menina reponde, sentindo as bochechas formigarem. Mesmo que os elogios fossem frequentes, ela ainda não se acostumara.


— Veja o que trouxe para você. — Gael coloca a mão direita em sua frente e faz brotar um buquê de rosas da cor de seu batom. Ela sorri.


— Você está cada dia melhor, obrigada! — Percebendo o encantamento por seu feito, o menino decide ser esse o momento ideal para seu pedido.


— Belle, sei que somos amigos há muito tempo. Mas eu sinto algo maior por você, gostaria que fôssemos mais. Você aceita ser minha namorada? — A pergunta pegou a moça desprevenida, o sentimento não era recíproco.


— Ora, Gael, eu...— A bailarina tentou escolher as melhores palavras — Eu amo você, mas só te vejo como amigo.


O rapaz tomou aquelas palavras como a maior das ofensas. Dedicava-se a ela com todo o seu coração desde que a viu dar passos desengonçados com um tutu grande demais para o seu tamanho, herdado da avó. Sentiu o rosto se avermelhar, as lágrimas caírem e a fúria nas mãos. Sua mão direita carregava partículas vermelhas que só apareciam em treinos mais pesados. Foi quando ele teve a pior ideia, possibilitada pelo poder da magia que possuía. Enquanto as lágrimas caíam vorazes, recitou:


— Se a mim não for confiado o teu amor, teus dias eternos serão de dor. A profecia que agora vou recitar, permanecerá até o momento que alguém por ti não se apaixonar... — Belle sentiu os pelos arrepiarem.


— O que você está fazendo, Gael? Pare com isso, vamos conversar.


— A música que te deu a vida, será a mesma que a tirará. Tua liberdade só acontecerá, se em lua crescente, como hoje, alguém a fizer virar gente. — Ele terminou e feixes de luzes vermelhas foram vistos ao longe. Gael fugiu. Desde então, Belle nunca mais foi encontrada, foi feita miniatura e agora estava presa em cima de sua vitrola, em uma pirueta arabesque.

A Bailarina da Lua CrescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora