Primeira parte

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Outono de 1992,

Chilyohada State Hospital, Coreia do Sul.

A brisa gélida do outono soava contra as grandes janelas, fazendo com que seus sussurros glaciais percorressem cortantes por todo o espaçamento pertencente ao refeitório meramente deserto. Apenas uma voz era ouvida no ambiente – tão sussurrante quanto a brisa sofrega da estação, mas, ainda assim, era nitidamente sentida pelos ouvidos alheios graças ao silêncio habitualmente excessivo que bailava nas dependências do sanatório. Ao menos, durante o dia.

-Você sabe, não sabe, Park? - Questionou Zitao, sentando – de maneira intrusiva - na mesa em que outros dois rapazes estavam.

ChanYeol direcionou seu olhar avantajado, antes, fixado nos alimentos nada convidativos presentes em sua bandeja, até o rosto do rapaz alto, de fios desbotadamente loiros e olheiras profundas sob seus olhos, em uma aparente curiosidade pela fala do maior, ainda que com certo temor sob a própria questão.

-Não foram suicídios. - Soltou o loiro, como se nada fosse. Frase essa que eriçou totalmente os pelos do de cabelos castanhos, que prontamente teve seus músculos enrijecidos. -Foi ele.

-Q-quem...? - Indagou o de madeixas achocolatadas num único e trêmulo fio de voz, com sua corpulência bamba.

-O homem Torto. - Falou o mais alto, direcionando seu olhar soturno aos olhos acanhados do Park. -Todos sabem. Foi ele quem causou todas as mortes. - O chinês arrancou nos dentes um pedaço generoso do pão que portava em mãos. -Não foram suicídios de verdade.

-Como assim? - Nesse ponto, ChanYeol arranhava-se nos pulsos com as próprias unhas; habito que houvera adquirido a algum tempo, o qual se manifestava toda vez em que o rapaz sentia medo ou punha-se nervoso diante de alguma situação.

-A história diz que, o homem torto morava em uma pequena casa torta. Depois de muito tempo vivendo daquela maneira, ele se pôs a pensar: porque torto ele era, e os outros ao seu redor não? - O Huang mantinha o olhar fixo na paisagem cerrada que se apresentava ao lado de fora. - ¨De encontro a uma grande corda ele foi e amarrou-a ao teto. Em cima de uma cadeira parado ele ficou. Seus olhos, mortos e vazios estavam. Sem outro pensamento, a cabeça ele pendurou e até a morte ele sufocou¨. - O loiro observou os pulsos do coreano que já ardiam em pele viva, e voltou seu olhar a face pavorosa do outro diante a si. -Dizem que, ao dizer esse texto, você o convida a entrar. E então, ele faz de sua vida tão infernal até um ponto que não resta saída, se não a própria morte.

Os olhos de ChanYeol reluziam sob lágrimas temerosas que ameaçavam escapar. Estava paralisado.

-Alguém o convidou. E então, ele entrou.

-Já chega, Zitao! - A voz do enfermeiro MinSeok, que se aproximava, reverberou em advertência.

-Ninguém aqui está a salvo.

-Eu disse já chega!

-Aqui, nós somos todos tortos!

-Fora daqui Zitao!

-E ele está nos caçando... um por um.

-BaekHyun! Tira ele daqui!

Mesmo com toda a repreensão, o chinês, com seriedade no rosto, do castanho se aproximou, colando seus lábios no ouvido do mesmo.

-Irá matar todos nós.

Então, o loiro foi arrancado de seu assento de maneira rude pelo enfermeiro Byun, o qual arrastou o paciente para fora do ambiente de alimentação, visto que o único que estava a fazer era atormentar.

O Homem TortoOnde histórias criam vida. Descubra agora