Primavera de 2001,
Centro de custódia e tratamento psiquiátrico de Seul.
JongDae não esperava se arrepender tão amargamente de ter dispensado uma dose alcoólica antes de sair de casa naquela manhã.
Tensionado sobre um dos assentos da ala de espera, o homem observou com algum incômodo a forte iluminação que refletia densa sobre todo o branco que compunha o ambiente o qual, agora, poderia referir-se como trabalho.
Não havia dúvidas de que estava orgulhoso e contente com sua admissão naquela vaga de emprego. Como psiquiatra forense, havia estudado e se esforçado muito durante anos de sua vida em busca do momento em que teria seu trabalho reconhecido a fim de que fosse considerado competente o bastante para exercer sua profissão dentro de um lugar como aquele. Um tipo de sonho, se fosse para ser sincero — mas uma ambição um tanto jovem demais para sua idade, caso o perguntassem.
Contudo, ali estava ele: com os punhos fechados, de nós pálidos pela tensão, e um frio intrínseco rastejando por sua espinha como se sussurrasse um mau presságio ao pé de sua orelha, fazendo com que todos os poros de seu corpo se colocassem em alerta; o estômago se revirando e fazendo a saliva tornar-se espessa, ao tempo que ele tentava manter a compostura para não deixar que seus olhos luzissem o semblante perturbado que trabalhava duro para tomar conta de si completamente.
Jamais em sua vida esperaria que a tão sonhada oportunidade surgiria sob um contexto tão conturbado quanto aquele. A verdade, no fim das contas, era que suas olheiras entregavam com facilidade a ansiedade que encontrara refúgio em seu âmago nos últimos dias, enxotando qualquer sono de qualidade de suas noites. Não podia nem mesmo ligar a TV ou ler algum dos jornais que atiravam em sua varanda religiosamente todas as manhãs — sua esposa se recusava a cancelar aquela assinatura —, pois sabia que fazê-los significava alimentar o monstrinho vivendo dentro de si.
Mesmo depois de tanto tempo, a pressão que a mídia dispunha sobre o caso ainda era imensa, e ter consciência de que seu desempenho enquanto profissional estaria sendo monitorado e avaliado pelo país inteiro fazia com que algo corroesse seus pulmões e o deixasse sem ar. As pessoas esperavam por respostas, e o psiquiatra sabia que precisava fornecê-las. Haviam se passado anos e explicações ainda não tinham sido entregues à população e, agora, a responsabilidade do caso houvera sido passada às suas mãos, e ele precisava ser diferente.
Para o bem dos fatos, era como se as expectativas externas estivessem-no preenchendo com algum tipo de mania de perseguição e uma necessidade de provar competência a cada tragada de ar. Quase podia sentir como se até mesmo a balconista logo mais a frente o estivesse ajuizando com aqueles olhos fundos que escondia por detrás da armação pesada, popular na década passada, e, percebendo os delírios infiltrando-se como ratos famintos em sua mente, obrigou-se a admitir: com 28 anos de carreira pesando-lhe os ombros, ele sentia que não passava de um mero residente outra vez.
JongDae teve de encobrir um sobressalto com um rearranjo de postura ao ser arrancado de seus devaneios pelo chamado que chegou de forma repentina:
— Dr. Kim, eu suponho — JongDae prontamente se levantou para recepcionar a mão que era estendida em sua direção com sua própria, curvando-se em um cumprimento breve — Kim JunMyeon, diretor do centro.
— Fico feliz em poder conhecê-lo pessoalmente, diretor. É um prazer estar aqui.
O olhar que analisou-o dos pés à cabeça não passou despercebido.
— Ansioso para o primeiro dia?
— Arrisco dizer que essa pode não ser exatamente a palavra que eu escolheria. — Cuspiu com mais honestidade do que planejara em sua mente, preocupando-se por um instante com a feição séria do homem mais velho, a qual perdurou por alguns estranhos segundos de silêncio.
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O Homem Torto
Fanfic[REESCREVENDO - 1/6 ✅] "O homem torto". Assim era intitulada a historieta que a ChanYeol fora contada em meio a um dia qualquer sob o teto do sanatório onde era mantido. E, com certeza, o pequeno conto de horror não teria feito serpentear tamanho me...