Epílogo

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Primavera de 2003,

Seoul Sanatorium, Coreia do Sul.




JongDae encontrava-se em silêncio, assim como a outra figura, enquanto preocupava-se em reler mais uma vez a ficha de seu novo paciente, em busca de respostas que pudessem auxiliá-lo na tarefa de dialogar com o mesmo.

Estavam naquela sala fria – a qual resguardava apenas uma mesa e duas cadeiras para consultas – já faziam alguns bons minutos, mas o Kim possuía toda a paciência do mundo, afinal, fora contratado exclusivamente para o atendimento daquele rapaz. Estava disposto a conversar abertamente com ele de qualquer forma, ainda que aquilo exigisse muita de calma e cautela.

O Kim fechou a pasta que tinha em mãos e acomodou-a em seu lado, direcionando um olhar e sorriso simpáticos para a figura que sentava-se diante de si ao outro lado da mesa.

O homem tinha seus pulsos aprisionados por um par de algemas rígidas e o olhar do mesmo estava fixo no ato de arrancar a pele dos próprios dígitos, os quais sangravam incessantemente.

Afinal, não conseguia alcançar devidamente seus pulsos.

-Pode responder minha pergunta? - JongDae indagou, tentando passar segurança em seu tom.

-Eu já respondi. - O rapaz replicou de imediato, cansado de receber sempre as mesmas questões.

-Mas ChanYeol, como posso acreditar que o responsável por tudo aquilo foi um ¨monstro¨? - Questionou o psiquiatra, negando-se a aceitar aquela resposta mais uma vez.

ChanYeool houvera sido encontrado no hospital psiquiátrico como o único sobrevivente, mas foi designado como culpado no momento em que suas digitais foram encontradas na arma do crime responsável pela maior parte das mortes. Tanto anos haviam se passado e a justiça nunca conseguira fazer com que Park admitisse o crime cometido e explicasse exatamente o que houve na noite do massacre de Chilyohada.

O que eles não compreendiam, era que seu depoimento era um. Era aquele depoimento sincero de alguém que tentava mais do que tudo apontar a verdade, mesmo que seus lábios não fossem capazes de sibilar aquele nome, submisso de seu próprio trauma.

Submisso de seu próprio monstro.

-Vocês nunca acreditaram em mim... - Respondeu ChanYeol num tom baixo, segurando as lágrimas nos olhos enquanto tentava ignorar a maldita voz que sussurrava ao pé de seu ouvido:

-Eles nunca vão nos entender.

-ChanYeol, eu estou aqui para ajudar, você entende?

-Você sabe que é mentira, não sabe?

-Pode ao menos me dizer com que frequência você o vê?

Park sentiu cada músculo de seu corpo tensionado ao ouvir aquela questão.

-Vamos, não seja tímido, diga a ele.

O rapaz não queria, mas não pode evitar o impulso inconsciente de subir os olhos assustados até a figura detrás do psiquiatra, encontrando a imagem de Minseok, seu torvo homem torto, o fantasma de seu passado que habitava em seu encalço, ali, olhando-o com a cabeça tombada enquanto possuía um sorriso horrendamente gentil nos lábios, como se não estivesse banhado no sangue dos inocentes assassinados naquela noite gélida e errônea de 1992.

-Conte a ele. - Disse o Kim, afável, envolvendo maliciosamente os dígitos ao redor do pescoço do doutor, de forma quase tão palpável quanto seu próprio medo. -Conte que eu sempre estou aqui, cuidando do meu pequeno.

O Homem TortoOnde histórias criam vida. Descubra agora