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Paloma

Como sempre acordo cedo. Dom está praticamente em cima de mim, todo desajeitado. Sorrio passando a mão no cabelo dele. Quando estamos brigados essa cama parece tão grande, mas quando estamos bem, dormimos um em cima do outro como se faltasse espaço.

Paloma: não vai trabalhar não? Acorda.

Ele se remexe, mas não acorda. Larga meu corpo e vai para o outro lado da cama me dando as costas.

Querendo irritar ele dou tapinhas na sua cabeça e ele murmura sem parar.
Rio e levanto indo para o banheiro.

Me higienizo e quando volto para o quarto Dom ainda está dormindo. Dou de ombros e saio.
Minha rotina é meio entediante, como de qualquer dona de casa que não tem um emprego, que é literalmente uma dona de casa.
Começo arrumando a casa. Preparo o café da manhã e levo o Enzo na escolinha que é na rua de baixo, bem pertinho. Geralmente quando dou por mim já está na hora de preparar o almoço, Dom vem almoçar comigo quase sempre, o resto da tarde passo com a Bruna ou com o meu irmão.

Abro a porta do quarto do Enzo e ele, tal como o pai, está dormindo como uma pedra. Me aproximo sorrindo e abraço ele o levantando. Beijo seu rosto sem parar e ele finalmente abre os olhos.  Rio da sua carinha.

Paloma: acorda. Ou quer faltar na escolinha?

Em outras ocasiões ele com certeza preferiria faltar. Mas, ele e o Dom fizeram um acordo. O Enzo se porta bem durante o resto do mês e ele vai poder finalmente ir para a escolinha de futebol.
Meu filho é doido por futebol. E Dom, mesmo também sendo, não gosta muito da ideia dele frequentar a escolinha porque é no asfalto.
Mas pô? Não podemos viver como se fôssemos prisioneiros. O moleque quer muito ser jogador, e não vai conseguir vivendo enfurnado nesse morro.

Dom é procurado pela polícia, então não pode descer o morro, mas eu já disse que posso levar e buscar  o Enzo todo dia. Além de ser bom para ele, será ótimo para mim poder sair um pouco desse morro de vez em quanto.

(•••)

Tomamos o café da manhã juntos. Dom diz que vai sair um pouco mais tarde, então mando o Enzo subir e terminar de se arrumar enquanto eu guardo a louça suja na pia para lavar quando voltar.

Dom: vai levar o menino assim? — ele me olha de cima para baixo analisando minha roupa.

Paloma: assim como? — dou de ombros mas ele continua me encarando sério.

Não vejo nada demais na minha roupa, um short e uma blusa larga cobre quase todo o short, nada demais. Mas parece que o todo poderoso não acha o mesmo.
Ele me olha e eu devolvo o olhar erguendo uma das sobrancelhas. Ficamos assim até ouvir os passos de Enzo que já está pronto.

Dom: eu levo ele. Você fica aqui. E se for sair vê se coloca algo decente.

Não digo nada. Estou evitando brigas. Me abaixo e beijo a bochecha do Enzo. Me despeço dele e quando me viro para ir para cozinha Dom segura meu braço me puxando para ele.

Dom: não vai se despedir de mim não?

Paloma: tchau — digo indiferente.

Mulher De Traficante [LIVRO 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora