[1]. sweater

1.8K 155 211
                                    

Estava um ar dolorosamente frio quando caminhei até a calçada em frente a casa em que estava há poucos minutos.
O barulho alto da música ainda incomodava meus ouvidos, mesmo que caminhasse mais rápido procurando por algum silêncio.
Sentei no chão e meus olhos varreram o tumulto cheio de risadas, melodia eletrônica, gritos de êxtase e até um coro de vozes que incentivava alguém a beber a maior quantidade de álcool em menos tempo.

Naquele instante eu me senti sujo.
Percebi que não fazia parte daquilo, era tolice tentar me encaixar.
Havia bebido alguns copos de cerveja por inventivo de pessoas que me mandaram relaxar e aproveitar a festa, estava meio tonto e sonolento.
Queria desesperadamente ir pra casa, mas não poderia ir a pé, tinha que esperar por Heather.

Se ela soubesse o que passei lá dentro, me pediria perdão de joelhos.
Foi a ocasião mais humilhante de toda a minha vida.

Ao lembrar do ocorrido, me levantei da calçada e uma força de vontade me invadiu.
Não iria esperar por carona, estava cansado, humilhado e precisava de um longo banho, ir para casa a pé me pareceu moleza, ainda que estivesse muito longe do meu bairro.

Caminhei alguns passos e meu corpo inteiro tremeu.
Estava garoando e eu nem tinha notado, achei que o frio fosse apenas uma reação aos meus braços nus.
Heather me obrigou a usar apenas uma camiseta e jeans, não esperávamos que o tempo fosse mudar.
Xinguei mentalmente e apertei o passo, tentando fugir do frio e da música abafada.

Quando virei a primeira esquina, notei que havia um único carro na rua deserta, vindo lentamente em minha direção.
Pânico.
Estava sozinho, meio alcoolizado e totalmente gelado de frio, o alvo mais fácil que um assassino poderia querer encontrar às 2 da manhã.
Apertei o passo e estava prestes a correr quando ouvi meu nome ser chamado.

Aquela voz.

Eu reconheceria aquela voz mesmo que estivesse totalmente bêbado ou até se estivesse em um coma prestes a morrer.
Aquela voz era incomparável. Inesquecível.
Ouvi-la foi como sentir uma onda de calor me percorrer dos meus pés a cabeça, aliviando um pouco o frio e o medo.

Parei e virei a cabeça mas não foi preciso, o carro repentinamente parou ao meu lado e a porta do carona abriu.

ㅡ Eu vou te levar pra casa.

Eu não consegui dizer nada, apenas entrei e sentei no banco quentinho, praguejando mentalmente por estar meio molhado pela chuva fraca que caiu sobre mim outrora.
Meus cabelos pareciam um ninho de passarinhos, totalmente despenteados e úmidos, estava tremendo pelo frio mesmo que o aquecedor do carro fizesse seu trabalho e ainda me sentia meio tonto.

ㅡ Eu te entendo por fugir daquele lugar, mas não esperava chegar em casa hoje, esperava? Tipo, sua casa fica bem longe daqui... ㅡ Felix puxou assunto primeiro, quebrando o silêncio que havia reinado no ambiente.

Deixei o olhar sobre as mãos dele no volante, firmes, e praguejei ainda mais, tornando a olhar para a janela.
Era desconfortável e algo novo estar sozinho com ele no carro.
Sempre que saíamos juntos, Heather ficava no banco do carona, eu ia atrás. Totalmente esquecido, ouvindo conversas aleatórias entre eles e a forma como Lee sempre dirigia com uma só mão para segurar a mão da namorada com a outra.

Ele estava com as duas mãos no volante naquela vez.
Olhos fixos na estrada, postura correta.
Incrivelmente bonito.

ㅡ Eu não gostei da experiência. ㅡ Balbuciei. Não pensei em uma resposta melhor, não queria pensar. Queria ficar em silêncio até chegar em casa e me livrar daquela tensão.

ㅡ A Rosé viu você correndo pra fora após sair de um dos quartos do segundo andar, o que aconteceu? ㅡ A voz dele tornou-se calma e terna. Ele usava aquele tom quando queria transmitir segurança e apoio. O vi fazer aquilo diversas vezes quando Heather fazia algo suspeito e ele tentava entender o porquê.

i wish i were heather.Onde histórias criam vida. Descubra agora