Soltei a fumaça que estava presa na minha boca, em uma grande baforada. Um péssimo hábito, ela sempre dizia, esse de fumar. Mas era tudo por um grande motivo.
Fazia meses que eu não trabalhava, e a casa estava uma grande bagunça, como se um furacão tivesse passado por ali: garrafas, cinzeiro sujo, roupa suja e cartas não lidas. Mas a verdade é que fazia meses que o furacão tinha partido.
Me levantei e caminhei até a cozinha, com o cobertor vermelho ainda envolvendo meus ombros. Minha barba por fazer me incomodava, mas o que era o incômodo? Meu cabelo estava despenteado à uns cinco dias, mas eu não ligo mais. Apenas ela ligava.
Ela era a animação da nossa casa, era ela que fazia tudo feliz: ela insistiu em colocar plantas na varanda e me fez acabar com o hábito do vinho. Ela quem trouxe aquele cachorro para a nossa casa, e também foi ela quem o deu o nome de Happy.
Ela era tudo o que eu conhecia, tudo o que eu amava, toda a verdade. Ela quem me dava forças e quem lutava minhas batalhas ao meu lado. Mas agora ela já não está mais aqui.
Me deixou sozinho com toda a minha fraqueza, meus maus hábitos e minha tristeza. Abri a geladeira e peguei outra garrafa de vinho, mas só porque ela não estava vendo. Bebi dois ou três goles, sem me dar ao trabalho de colocar em um copo.
O tempo passava, passa e ainda vai passar. Mas eu ainda não consigo superá-la.
O tempo passa, mas eu ainda estou preso nela.
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Imagine a Song
RandomImagines inspirados em músicas, porque a vida não é nada sem música. Apenas one shots. Pedidos abertos.