𝓰𝓱𝓸𝓼𝓽 𝓸𝓯 𝔂𝓸𝓾

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Acordei do segundo cochilo que tirei nessas quarenta e oito horas. Por quê eu não consigo dormir mesmo? Ah, sim. Não deveria ter lembrado.


Consigo sentir o seu perfume, o calor da sua alma ainda deixa o meu lençol aquecido, com cheiro de sua gentileza. Ah, Deus. Eu queria sentir esse calor de verdade.


Há duas canecas no criado mudo. A minha não recebe o chá que eu tanto gosto faz alguns dias. A sua ainda está ali, com o seu café frio e sem açúcar do jeito que você deixou. A mancha do seu batom vermelho na borda parece me chamar, me convidando para mais um beijo.


Queria poder dormir de novo, no resto das poucas faíscas remanescentes de você na minha cama. Talvez se eu conseguisse dormir neste seu lado da cama, então eu sonhasse com você, me dizendo que eu ficaria bem; mas eu não prestaria a mínima atenção, apenas para ouvir a sua doce voz de anjo novamente.


Então eu te vejo ali, parada, escorada no batente da porta, me encarando com seus olhos de estrelas e seu sorriso de Sol. Eu levanto e tento pegar a sua mão. É estranho, pois ela está gelada, sendo que você costumava ter um calor tão intenso. Então eu te tomo para mim e nós dançamos um pouco.


- Sabe, meu bem, achei a sua camiseta ontem. - sussurro no seu ouvido.- Estava fazendo uma limpeza, dá para acreditar? E aí simplesmente encontrei: a boa e velha camisa do Zeppelin. Aquela que você usava quando brigava com os seus pais e vinha para a minha casa. Você dizia que era a camiseta da dor. Acho que eu não sabia tanto o que era amor naquela época. Tão jovem, um adolescente burro. Acho que agora posso te dizer que a amo de verdade.


Dançamos mais um pouco. Minhas mãos na sua cintura. Suas mãos gélidas nos meus ombros quentes, curvados. Seus pés se movem com a mesma elegância de sempre, dançando mais lindamente do que Dytto jamais dançaria. Mas os meus pés não se movem mais do mesmo jeito. Estou enferrujado, pareço um boneco quebrado. Meus pés não se movem como se moviam quando você estava aqui.


Então eu afogo isso como sempre faço: dançando pela nossa casa com o seu fantasma.

Imagine a SongOnde histórias criam vida. Descubra agora