Capítulo Final

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(Justin’s P.O.V)

Acomodei-me melhor sobre a poltrona que eu fiz questão de arrastar para o lado de sua cama. Curvei-me sobre seu corpo já marcado pelo tempo e agarrei sua mão sentindo-a fria. Ela apertou suavemente minha mão em resposta, dizendo-me que estava acordada e que notará a minha presença. Levantei o olhar e não pude conter um suspiro. Como eu a amo, Deus, eu a amo muito.

Seus olhos azuis cristalinos agora estavam opacos e cansados contornados por rugas expressivas. Seus cabelos que outrora fora castanhos hoje estavam grisalhos e sem vida. Como ela. E ainda assim eu a amo.

- Como se sente? – deixei minha voz escapar e preencher os quatro cantos daquele quarto claro e sem graça.

- Bem, até – tentou me convencer. E posso dizer que, pela sua expressão, ela falhou terrivelmente.

Levantei-me calmamente e deitei ao seu lado, envolvendo-a em meus braços. Depositei um beijo no topo de sua cabeça e apertei ainda mais seu corpo contra o meu, apoderando-me de cada centímetro seu. Ela não protestou, apenas suspirou pesadamente.  Devolveu-me o abraço sentindo, como eu, que provavelmente aquele seria o último.

Lola desenvolveu um câncer cerebral, terminal, e como não há cura tudo o que pude fazer foi aceitar que, uma hora ou outra, eu haveria de deixa-la partir.

Fechei os olhos tomando todo o cuidado do mundo para não perder nossos últimos segundos ali. Deixei que as lembranças me invadissem.

Flashback On:

50 anos atrás – 23 de Setembro.

Eu estava em pé, parado no meio do Central Park, enfiado num traje negro feito sob medida, acompanhado de uma gravata seda num tom roxo. Talvez ela me matasse quando notasse que eu troquei os sapatos sociais pelos meus fiéis supras. Ri mentalmente pela sua futura reclamação. Eu estava pronto. Pronto para uma cerimônia intimista. A minha cerimônia intimista.

As folhas secas num tom amarelo-alaranjado caiam à medida que o vento as tocava no topo das árvores. Era um outono gélido em New York, mas eu não me importava, eu estava nervoso demais, empolgado demais para deixar que qualquer coisa estragasse o momento mais importante da minha vida.

Do meu lado esquerdo estava em pé Ryan, Chaz e o meu pai. Ao meu lado direito estava Serena, Caitlin e a minha mãe. Meus padrinhos de casamento.

Não havia muitas pessoas, apenas nossos amigos mais chegados e alguns dos parentes mais presentes nas nossas vidas.

Senti meu estomago se contrair quando a marcha nupcial soou.

Ela estava tão linda. Eu me deixei observar cada detalhe enquanto, em minha mente, ela caminhava lentamente ao meu encontro. Era um vestido branco de baile, sem mangas e com um decote namorada delicado, sua cintura era ressaltada com uma faixa cintilante prateada. Seus cabelos castanhos soltos e ondulados. Tão linda. E, em poucos minutos, seria tão minha.

Ela caminhava com o braço entrelaçado ao de Arlow, carregando, rente ao seu colo, um buque de rosas roxas. Senti meus olhos marejarem. Ela estava perfeita. Estava tudo perfeito. Nós seriamos perfeitos.

Dei dois passos para frente para encontra-la. Arlow soltou seu braço e agarrou a minha mão nos desejando, num tom baixo, felicidades e, me lembrando pela centésima vez, para cuidar bem da mulher a minha frente.

Num gesto rápido agarrei a sua mão e a beijei. Ela sorria graciosamente, seus lábios tinham um tom vermelho sangue que eu mal podia esperar para fundir aos meus. Ela sussurrou um “eu te amo” enquanto a guiava para defronte ao padre que nos aguardava.

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