Capítulo 12- O Calabouço

484 47 1
                                    


Lucy acordou com a luz do sol batendo em seu rosto. Pela posição, ela calculou que deveria ser próximo das duas horas da tarde. Não havia ninguém na cama, fora ela. Ela se lembrou da noite anterior e cobriu o rosto. Aquilo precisava acabar. Por mais que soubesse que não havia nada do que se envergonhar, pois ela não causara nenhum mal a ninguém, Lucy sabia que estava numa trilha perigosa, em que exigiria cada vez mais prazer. Chegaria uma hora em que para aplacar seu desejo, ela recorreria a coisas ruins? Como a mãe de Kiernan fizera séculos atrás?

Pelo menos ela tinha tempo até que Kiernan acordasse, então poderia organizar melhor seus pensamentos. Lucy se levantou e lavou-se rapidamente. Procurou roupas para vestir, sem encontrar nenhuma. Então passeou pelo castelo.

Por pura curiosidade, passou a explorar salas e câmaras que não conhecia, percebendo que nunca soube ao certo onde Kiernan dormia. Com frio, ela mexeu em baús até que encontrasse roupas. Um vestido de algodão, que deveria ter pertencido a alguma mulher simples, serviu nela. Vestida, ela passou a explorar o castelo com uma nova e específica intenção: descobrir onde Kiernan estava.

Enquanto andava, ela lembrou-se da sensação do vestido da Condessa Bathory em seu corpo. Pensou na câmara de tortura que encontraram no castelo Bathory quando a condessa foi presa. Nas gaiolas onde ela mantinha moças. Nas correntes. Nos métodos de tortura, que variavam, desde banhar as mulheres em mel e amarrá-las em árvores para atrair abelhas, até fazer as moças caminharem nuas na neve, encharcando-as com água até que congelassem.

Se Kiernan ainda visse a mãe como apenas uma vítima, se ele não fosse capaz de reconhecer a maldade necessária para torturar mais de seiscentas mulheres, como podia Lucy passar o resto de sua vida com ele?

Então ela parou de andar, ao pensar numa coisa. Kiernan havia dito que a tempestade não era culpa dele, e sim uma nevasca natural da região. Mas se ele tinha o poder de controlar o tempo, ele também poderia ter interrompido a tempestade para que Lucy pudesse ir ver sua família.

Dizer que ela não era prisioneira, mas ao mesmo tempo impossibilitar sua fuga, não era um gesto honesto. A cada passo que dava, ela sentia-se mais manipulada e traída por Kiernan.

Foi quando Lucy se deparou com uma escadaria que levava para baixo – para algo no subsolo. Ela procurou ao redor por uma vela, que tirou de um candelabro, e segurando a saia do vestido para não tropeçar, desceu os degraus em círculo, até chegar a uma porta de madeira velha, com trancas de metal enferrujado.



Drake olhou para cima. O sol indicava que tinham menos de duas horas para chegar ao castelo. Ele parou o cavalo e virou-se, olhando para os homens que cavalgavam atrás dele.

— Não podemos mais perder tempo.

Asper assentiu.

— Os cavalos conseguem subir a montanha?

Embora não nevasse mais, a encosta ainda estava coberta pela neve recente, e muito escorregadia.

Os outros homens trocaram olhares, apreensivos. Então John Whitechapel trotou do fim da linha até Drake. — Vamos conversar ou vamos matar o desgraçado? — vapor saiu da boca dele ao falar.

Asper e Drake assentiram um para o outro.

Cutucaram os cavalos com as esporas, soltaram as rédeas e os incentivaram com berros, trotando montanha acima.




O calabouço era frio, úmido e tinha um cheiro mineral de musgo. Devagar, Lucy desceu as escadas e olhou ao redor. Armas metálicas enferrujavam, largadas próximas às paredes. Havia excremento de animais pequenos, como ratos e morcegos, por toda a parte. Como os morcegos entravam ali? Deveria haver alguma saída para a montanha.

Prometida para o CondeOnde histórias criam vida. Descubra agora