Ela já foi.

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Por Gizelly.

– Gizelly, você tem certeza de que está bem?

– Tenho.

Já era muito tarde e ela tinha uma expressão exausta.

Expressão exausta de advogada medíocre subalterna. Meu coração estava apertado. A profissão que eu tinha era o ápice do que eu jamais tinha almejado alcançar. Talvez não o ápice absoluto… Mas bem perto. Mas para Rafaella… Para ela, aquilo era tão menor do que o que ela podia ser.

Se fosse presidente da Baxter não estaria trabalhando até tarde em um Domingo para acordar cedo na segunda e ganhar dez vezes menos que seus chefes por trabalhar três vezes mais.

Ela teria uma vida mais tranquila, mais luxuosa, sem dúvidas… Talvez mais feliz.

Pelo que tinha me contado, sempre se deu bem com sua avó. E se aquele fosse apenas um período de rebeldia?

– Ainda não usamos o chantilly – sorriu no meu ouvido.

– Agora não, Kalimann. Estou cansada.

Ela hesitou, decidindo se eu estaria realmente cansada ou se havia algo errado.

Virei no travesseiro para impedi-la de continuar me encarando até perceber que a minha falta de desejo tinha uma explicação desagradável. Faça uma lista, Gizelly. Prós e contras.

Se eu fosse embora teria meu emprego seguro. Meu futuro. Tudo pelo que tinha trabalhado a vida inteira.

Rafaella, aos poucos, voltaria para a sua vida de antes. Ela se dava bem com a avó, ia encontrar um meio-termo para viver assim de novo. Moraria naquela cidade, perto da mãe, e teria a chance de decidir se queria se aproximar dela ou não. Ia ser uma mulher de sucesso, nunca ia precisar de nada.

O contra é que eu teria que viver sem Rafaella.

Espremi o rosto contra o travesseiro. Se alguém me dissesse há duas semanas que “viver sem Rafaella” seria o maior problema e a maior dor da minha vida, eu gargalharia até passar mal.

Acho que, às vezes, quando você ama, você tem que deixar a pessoa livre.

É o último nível de altruísmo… E eu nunca fui muito altruísta.

O que Scarlett faria?

Scarlett seria capaz de ver o que era melhor para ela e para o homem que ela amava.

Scarlett seria capaz de deixá-lo ir.

Talvez eu tivesse que fazer a mesma coisa.

Talvez eu só tivesse que respirar fundo e deixar Rafaella ir.

Se ela levasse uma vida medíocre por minha culpa, eu… não… eu não podia.

Deixar Kalimann bem tinha que ser o Plano A.

Eu teria que me conformar em ser o Plano B.






🍀





– Gi? O que aconteceu? Você está estranha desde ontem à noite.

Eu não podia deixá-la decidir. Simplesmente não podia. Era gentil demais. Ia dizer que estava apaixonada e ia me pedir para ficar. E, se ela pedisse, eu não ia conseguir dizer não. A decisão ia ter que ser minha, e eu tinha resolvido priorizar o Plano A.

– Saudades do trabalho – menti.

– A gente vai ter que conversar sobre isso – sorriu e apertou minha bochecha. – Sobre para onde a gente vai. Se você preferir ficar, temos que conseguir um emprego para você. Isso se você não quiser trabalhar para Andrew. Ele já deixou claro que, se você quiser, tem uma vaga lá.

Sexy Lawyer (Readaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora