─✧ 𝑇ℎ𝑟𝑒𝑒'-

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𝓜𝓱𝓪𝓻𝓮𝓼𝓼𝓪 𝓗𝓾𝓷𝓽𝓲𝓷𝓰𝓽𝓸𝓷

—— Droga Mharessa, fala baixo –– Resmunga —— Aliás, me trás alguma coisa pra eu tomar e aliviar a dor, por favor.

—— Que tal vergonha na cara?

—— Vai tomar naquele lugar que não bate sol.

Reviro os olhos e saio de seu quarto batendo a porta de propósito. Escuto minha amiga reclamar e rio baixinho. Caminho até a cozinha e pego um banquinho para alcançar a última prateleira, na qual guardamos uma caixinha cheia de remédios. Subo em cima do banquinho e mesmo assim não alcanço a dita caixa, fico na ponta dos pés e começo a me esticar. Quando finalmente alcanço a caixinha, me desiquilibro em cima do banquinho e caio no chão. Ótimo! Me levanto massageando minha bunda e minha cabeça que sofreram com o impacto. Junto os remédios espalhados pelo chão e deixo a caixa em cima da bancada. Levo o remédio e um copo d'água para Karolinne.

—— O embuste, tá aqui ó.

—— Obrigada —— Ela sorri de um jeito cínico.

—— Obrigada nada, quero cinquentinha.

—— Cala boca, senão eu te dou cinquentinha na cara.

Reviro os olhos e escuto meu celular tocar. Karolinne me encara com um olhar mortífero enquanto engole a água em sua boca.

—— Vai atender aquela desgraça.

Rio e saio novamente de seu quarto, mas dessa vez deixo a porta aberta. Só pra incomodar mesmo. Vou até a sala e pego o meu celular. Meu coração começa a bater forte ao ver o nome na tela do mesmo.

—— ATENDE LOGO ESSA MERDA ANTES QUE EU JOGUE PELA JANELA. E TU ESQUECEU O RABO AQUI, FECHA ESSA PORTA!

Suspiro fundo e atendo o telefone.

—— Alô, Mharessa?

—— Justin?

—— Vejo que ainda reconhece minha voz. Isso é bom —— Sua voz tem um tom de malícia que me faz estremecer, não de um jeito bom.

—— É o Justin? —— Karolinne aparece na sala enrolada em um cobertor. Assinto —— Me dá isso aqui...

Ela caminha até mim com uma cara emburrada e toma o celular de minha mão.

—— Justin, é o seguinte, eu quero que... VOCÊ VA TOMAR NO MEIO DO SEU CU. Se você ligar para a trouxa da Mharessa de novo eu te caço até no inferno e arranco suas bolas com uma faca cega e enferrujada.

Ela desliga a ligação e me entrega o celular com um sorriso diabólico nos lábios.

—— Tomara que ele te ligue novamente.

—— Acho que o remédio fez efeito, a dor de cabeça pelo visto evaporou —— Digo com ironia recebendo um dedo do meio como resposta.

—— Isso se chama "força do ódio". Quem disse que ele não te leva a lugar algum?

—— Hum... você? Da última vez que a gente brigou, quando você comeu quase a travessa de pudim inteira e deixou menos da metade de uma fatia pra não ter que lavar.

—— Calma lá, cada caso um caso. E isso já faz uma semana.

Rio me jogando no sofá. Pego o controle e ligo a televisão. Não demora muito até que algo pesado se joga em cima de mim. Algo não. Alguém.

—— Karolinne sai de cima de mim, você está muito gorda —— Empurro minha amiga que cai de cara no chão.

—— Mharessa sua uva passa, eu vou te matar e jogar seu corpo no mar.

—— Faça isso e você terá que se virar para voltar da balada bêbada e procurar remédio para a dor de cabeça no dia seguinte, sozinha —— Provoco-a recebendo um olhar de puro ódio.

—– Tá bom —— Suspira se jogando ao meu lado no sofá —— Talvez eu não te mate. Mas só porque você é muito útil para mim —— Gargalho alto e volto a minha atenção a televisão.

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—— Não! Por favor não morre. Eu sei que seu irmão e seus pais morreram... mas você ainda tem tanta coisa pra viver, você ainda pode ser feliz! —— Grito para a televisão.

—— Isso mesmo, pode ir. Viver é uma merda.

Encaro minha melhor amiga que se mantém passiva e controlada enquanto eu estou com o rosto vermelho e inchado de tanto chorar.

—— Você é muito insensível, não tem coração —— Acuso e limpo o meu rosto.

—— Ei! Isso não é verdade. Eu tenho sim um coração. Só que ao contrário do seu, o meu bombeia o sangue.

Olho para a mesma com a cara fechada e taco uma almofada na cara dela. Me levanto na vã tentativa de fugir das almofadas que ela me atacou.

—— Tá louca menina!? Não é justo —— Olho para a mesma fingindo irritação.

—— Mas você me atacou com uma almofada primeiro.

—— Exato! Eu só ataquei uma almofada, você me atacou duas —— Pontuo.

—— Que seja! Eu vou dormir, amanhã tenho que trabalhar. Você deveria fazer o mesmo.

Olho em meu relógio de pulso e percebo que são 23:38. Ou eu tomo um banho rápido e durmo agora, ou eu finjo que estou doente e falto no trabalho amanhã.

—— Vai dormir! Nada de fingir doença para faltar amanhã —— Karolinne grita do quarto.

—— Como você sabia que eu estava pensando nisso?

—— Você demorou demais para ir pro seu quarto e eu senti o cheiro dos seus neurônios queimando —— Reviro os olhos ao escutar sua resposta.

—— Espero que você tenha pesadelos!

—— Pesadelos pra você também!

Apago a luz e vou correndo para o meu quarto. Quem foi que disse que a gente perde o medo de andar no escuro depois dos 20? Pois eu estou aqui, em plenos 23 anos de idade correndo de um suposto espírito que pode me pegar se eu andar no escuro.

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Acordo como de costume as 6:35 da manhã. Era para eu acordar às 6:00, mas eu vou adiando o meu despertador de 10 a 5 minutinhos, até perceber que vou me atrasar. Me levanto correndo e visto uma saia lápis preta, uma camiseta de mangas 3/4 branca e um salto bem baixinho preto. Arrumo meu cabelo e jogo o sobretudo de Liam por cima. Ninguém mandou ele deixar comigo.

Saio de casa as pressas e antes de entrar na empresa, decido passar em uma lanchonete perto do prédio para comprar um café.

Assim que finalmente o meu café e o de meu chefe ficam prontos - eu preciso acalmar a fera - pago pelo pedido e quando me viro sou surpreendida com um par de olhos castanhos me olhando atentos. Meu coração bate celerado, igual a 6 anos atrás.

—— Eu conheço esse sobretudo... —— ele me encara com um sorriso divertido nos lábios.

𝙺𝚒𝚜𝚜 𝚖𝚎, ʟᴘOnde histórias criam vida. Descubra agora