Homem com H

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Estava atordoada com o que tinha acontecido na noite passada, lembrava do rosto deles ao nós ver abrindo a porta, as lagrimas de Tom e a feição de desespero de Dudu ao correr atrás dele. Aquilo tudo era... Uau. Muita coisa pra assimilar.

Chico quis ir atrás deles no momento que aquilo aconteceu, mas eu falei que era melhor dar um tempo pra eles respirarem, deve ser muita coisa pra assimilar ter alguém descobrindo seu segredo tão assim de repente.

Mas tinha essa parte boa de ontem pelo menos, Chico. Finalmente as coisas estavam boas entre a gente novamente (melhor que nunca, eu diria) e eu não parava de sorrir enquanto caminhava na pracinha ali com ele. Nossas mãos entrelaçavam-se e íamos por ali jogando conversa fora.

— Gostei da roupa. — ele apontou com a cabeça, estava com uma regata preta, um short jeans azul escuro bem curtinho e um casaco vermelho amarrado na minha cintura, combinando com meu All Star vermelho e as listrinhas de minha meia branca. — Só não entendi esse blusão amarrado ai.

Dei uma risadinha.

— É só pelo chame. — Falei.

Ele deu um estalinho com a boca. 

— Toma vergonha, menina. — ele reclamou, rindo. — toda de preto e de casaco amarrado nesse calor.

Dei uma risadinha e me virei pra ele, estávamos embaixo de uma arvore que tinha sombra, resolvi parar meu passo ali.

— O que foi que 'tu ta com essa cara? — questionou, rindo meio malicioso.

Nada. — sorri de volta, o pegando pela cintura e o puxando pra perto, ele levantou as sobrancelhas sugestivamente, meio surpreso. — O que foi?! Rápido demais?!

Não senhora. — ele negou terminando de me encostar no tronco daquela arvore, ele passou uma mecha de meu cabelo por trás de minha orelha e me beijou, me segurei pra não suspirar ao sentir seus lábios macios de encontro aos meus. 

Passei meus braços por seu pescoço, seu bigodinho meio mal crescido fazia cocegas, mas eu até que gostava. Ficamos ali aos beijos, ele se afastou um pouquinho pra olhar meu rosto e me deu três beijinhos rápidos, e dessa vez não segurei minha cara de boba e o abracei-o forte. 

— Você é tão fofooo... — falei, a voz meio fina e arrastada. — Desculpa ser besta. 

— Pede desculpa não. — ele declarou, se sentando ali na grama. — Eu gosto. 

Ficamos abraçados ali por um tempo, encostados no tronco da árvore. Me afastei pra ver seu rosto, ele parecia um pouco distante.

— O que foi? — perguntei.

— Nada, é que... — Ele começou, olhando pra algum lugar longe. — Ainda to pensando sobre ontem. Eu conheço eles a tanto tempo...

— Eu sei. — respondi, acariciando seu braço.

— Eu deveria ter sabido... — Chico resmungou, meio chateado. — Esse tempo todo eu fui melhor amigo dele, e mesmo assim ele não me contou. Por que ele não me contou?!

— Essas coisas são mais difíceis do que parece. — expliquei. — Eu não consigo nem imaginar o quanto que ele deve ta sofrendo agora, essas coisas são difíceis de admitir pra si mesmo, quem dirá pros outros...

— Mas eu não sou homofóbico! — ele rebateu. — Eu não ligo se ele é bicha, só quero saber por que ele escondeu isso de mim. — reclamou, chateado — Eu não ia julgar ele!

Olhei pra ele por um segundo, peguei em sua mão.

— As vezes, nem sempre tudo é sobre a gente. — expliquei. — É fácil olhar pra situação em uma perspectiva de traição, mas entenda como deve ter sido pra ele... — continuei, ele me encarava, os olhos brilhando. — 'Cê viu como ele saiu correndo chorando, imagina como ele não 'ta agora!

Xote de ItaperãOnde histórias criam vida. Descubra agora