II

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Gustav Serbian olhava os dois idiotas na sua frente com a cara de poucos amigos.

— Eu vou fingir que não ouvi isso.

— A-a gente não sabia, Gustav, como íamos saber que aquela gostosa era policial? — Matão perguntou gaguejando.

— Porque eu disse, seu imbecil. — quase grunhiu a resposta.

— Mas ela jurou que não era.

Gustav massageou as têmporas. Isso era um teste, certeza.

— E o desmanche?

— Eles se mandaram, chefe. —  Pigmeu, o outro idiota, respondeu numa voz grossa que decerto não combinava com o tamanho dele.

O jovem apertou os olhos com força.

— Saiam da minha frente e só voltem quando convencerem eles a voltar ou eu arranco o pau de vocês e enfio cada um no rabo do outro. — ameaçou olhando-os como se pudesse fazer aquilo mesmo. Pelo menos a cara de assustados deles era impagável.

Os dois idiotas tropeçaram nos próprios pés e neles mesmos antes de conseguirem alcançar a porta do esconderijo.

— É cada um que me aparece. — murmurou dando a volta na mesa de madeira, mas nem conseguiu alcançar a cadeira quando a porta foi aberta novamente e o loiro já estava pronto pra xingar os imbecis quando percebeu quem era. — Ah, Detetive Arcos. — e seu humor mudou da água pro vinho, um sorriso malicioso se instaurou nos seus lábios a medida que o homem se aproximava. Os olhos de Gustav não escondiam que devoravam o policial. Como sempre Matteo Arcos usava um sobretudo cinza sobre a calça preta, a blusa social e os suspensórios. A luz amarelada que atravessava a janela atrás de Gustav tornava a configuração de cores interessante. O jovem sentou-se de pernas abertas na mesa, agora ignorando a cadeira. — A que devo a honra da sua presença? Veio para o chá da tarde? — perguntou presunçoso. A bem verdade ele tinha uma ideia.

— Sem rodeios, Gustav. — parou a três metros do outro. — Preciso de informações. — disse daquele jeito dele de parecer durão, mas o outro sabia como dobrá-lo.

— Tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar a justiça. — disse irônico, falando tão lento quanto o ventilador do teto girava.

Matteo franziu o cenho.

— Já ouviu falar dos Barões das Armas, presumo.

Ah, Gustav acertara em cheio.

— Me é familiar. — voltou a provocar. É claro que os conhecia. Os Barões eram uma facção em ascensão lá pelo Bairro Baixo e eles estavam chamando atenção principalmente por conseguirem contrabandear as armas do exército com uma facilidade assustadora.

O Detetive suspirou. Ele não era tão mais velho que Gustav, talvez seis ou sete anos, mas as vezes agia como um idoso. Bem, nem sempre.

— A polícia recebeu uma denúncia. — começou e Gustav teve que fingir interesse. — Uma carga de armas está para atravessar a fronteira. Ou talvez já tenha atravessado. — pela primeira vez naquele dia o detetive demonstrou preocupação.

— Hmm. — o jovem balançou a perna lentamente.

Matteo franziu o cenho.

— O que você sabe sobre isso?

— O que te faz pensar que eu sei algo, Detetive? — sorriu inocente, gostava de como Matteo prestava seu papel de policial belamente quase como num fetiche.

— Eu disse sem rodeios, Gustav.

— Não está calor com toda essa roupa? — deslizou os olhos sobre o detetive. — Além disso, isso não é competência da polícia federal?

— Não preciso que me explique como a polícia funciona. — Matteo já estava começando a ficar irritado, mas não pôde evitar olhar para as próprias vestimentas. Gustav segurou um riso. — Não tenho tempo para ficar de papo com você. Sei que está de olho nas fronteiras ultimamente. Me diga o que sabe ou eu o levo pra interrogação.

— Ah, Detetive, gostaria de vê-lo tentar. — sorriu mordendo o lábio inferior.

— Você não dirá nada, mas talvez os dois idiotas que passaram por mim deixem alguma coisa escapar. — era presunção aquilo na voz do policial?

O sorriso de Gustav quase vacilou.

— Talvez. — tirou seu próprio casaco e o jogou na cadeira atrás de si, observando que o detetive seguia seus movimentos com os olhos. — Mas até que eles falem alguma coisa coerente as armas já sumiram.

— Então você sabe alguma coisa. — aproximou-se.

— Talvez. — tombou a cabeça para o lado. — A minha memória está tão confusa nos últimos dias. — suspirou falsamente.

O detetive voltou a franzir o cenho.

— Vidas correm perigo com essas armas circulando por aí. — pressionou como se isso fizesse alguma diferença para o jovem. Era tão fofo como ele tentava apelar para a empatia do outro.

— Ah, Detetive, você sabe como é. — desceu a mesa e foi ao encontro do outro. — Nada me agrada mais que ajudar a combater o crime. — rodeou o outro sentindo o perfume amadeirado. — Mas o que eu posso fazer? Não tenho culpa se eu sou desmemoriado.

— Não tenho tempo para isso. — Matteo se virou pronto para ir embora.

— Agora que você falou... — o jovem começou quando o detetive já estava com a mão na maçaneta. — Acho que eu ouvi alguma coisa sobre umas semiautomáticas do exército... — Gustav soltou e viu o detetive se virar lentamente. Uma informação nova para ele então.

— Semiautomáticas?

Gustav voltou a sentar-se na mesa.

— Ou algo assim.

o informanteOnde histórias criam vida. Descubra agora