A Tenente Bishop abaixou os papéis quase que delicadamente na mesa a sua frente antes de soltar um longo suspiro.
— Detetives. — começou encarando-os com os olhos de coruja. — Achei que tivesse sido bem clara quando expressei a urgência desse caso.
Os detetives Matteo Arcos e Aura Seas prenderam a respiração ao mesmo tempo.
— Nós estamos perto de uma pista. — Aura disse por fim.
— “Perto” não é estar com a pista, não é, Detetive Seas? — a Tenente ressaltou e apertou a ponta do nariz com o indicador e o polegar. — E você, Matteo? — virou-se abruptamente para o outro — Onde estão seus informantes quando mais precisamos deles?
Ela é Detetive Seas e eu sou só Matteo? Que coisa.
— Err... eles estão... — como poderia explicar? — inacessíveis no momento.
— Pois trate de acessá-los! — a Tenente Bishop, a Coruja, levantou-se. — Esse traficante é dos grandes e não queremos entregar esse caso para os federais, ou queremos?
— Não, senhora. — os dois responderam ao mesmo tempo.
— Não, Tenente. — ela os corrigiu.
— Não, Tenente. — repetiram.
— Ótimo. — voltou a se sentar. — Agora investiguem isso melhor. Preciso entregar um relatório decente pro Capitão. Dispensados.
Aura Seas saiu do escritório da Tenente de penas bambas.
— Caramba, que mulher assustadora! — disse a novata.
— Aposto que se arrepende da sua transferência, não é? — Matteo brincou se aproximando da cafeteira.
— Na verdade não, pelo menos nessa delegacia vocês fazem alguma coisa. — disse retirando café para ela também. — Mas, escuta, ela está certa, precisamos de uma pista logo.
Matteo coçou a nuca.
— Eu não sei mais para onde ir. — suspirou derrotado. — Já seguimos duas pistas falsas. Eles com certeza pensaram cada passo.
Aura encostou-se no balcão e encarou sua xícara.
— O dono da loja de penhores com certeza sabe mais do que está falando. — murmurou pensativa.
Matteo cruzou os braços.
— É, mas ele está acostumado a ser interrogado pela polícia, duvido que deixe escapar qualquer coisa. — o homem já estava ficando com dor de cabeça. Coçou a barba. — Além disso, a nossa primeira pista está esfriando. Sabemos que nosso traficante vai querer mudar as armas de lugar. E logo.
Aura assentiu e prendeu os cabelos castanhos com um elástico. Ela mordeu os lábios. Nem tocara no seu café ainda.
— O que... a Tenente disse sobre os seus informantes? — perguntou com os olhos amendoados cheios de uma curiosidade quase infantil — Eu também já ouvi algo assim antes...
Pelos corredores, imagino. Matteo evitou olhá-la nos olhos, a verdade era que ele estava esquivando-se desses questionamentos há um bom tempo.
— Err... as vezes eu dou sorte em conseguir informações. Mas não é o caso dessa investigação. — tratou logo de afastar aquela possibilidade. Escondeu as mãos nos bolsos.
— Ah, sim... — ela abaixou os olhos. — Eu cheguei a pensar que... não sei, talvez... foi muito idiota da minha parte, acho. — moveu os dedos pela borda da xícara quente. — Achei que daria certo a minha primeira investigação nessa delegacia.
Ah, não.
— Eu nunca tive uma chefe mulher, sabe, — fungou. — e achei que se me saísse bem logo de primeira a Tenente Bishop poderia ser minha mentora. Aposto que agora ela pensa que eu sou incompetente...
Não, não, não.
— Bom, — ela limpou algo nos olhos marejados e Matteo arregalou os olhos. — você não tem que ficar ouvindo essas baboseiras. — deu a ele um sorriso amarelo. — É melhor entregarmos logo o caso para os federais, não é bom ficar retendo informações. — abaixou a xícara com o café intocado — Vou avisar a Tenente... — a voz dela foi diminuindo até sumir. A detetive encarou o piso por alguns segundos. — É isso, não há nada que possamos fazer.
Matteo soltou um pesado suspiro e segurou a detetive pelo braço. Não acredito que estou fazendo isso.
— Talvez... eu não chequei uma fonte ainda. — forçou-se a dizer. — Converse de novo com o dono da loja de penho-
— Sério? — os olhos da detetive brilharam. E Matteo não resistia a empolgação dos mais jovens. Pelo menos de alguns deles. — Vou fazer isso agora mesmo.
E saiu como um foguete da delegacia quase deixando um rastro de fumaça atrás.
O detetive ainda suspirou três vezes antes de pegar seu sobretudo na cadeira do seu compartimento e sair para o estacionamento. Entrou no carro balançando a cabeça negativamente a trajetória toda.
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o informante
RomanceO Detetive Arcos precisa urgentemente de informações sobre um novo caso e ele sabe onde consegui-las, mas não sabe se quer pagar o preço por elas.