Ao que resta do animal

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O romantizaram, o romantizam e o romantizarão... O esgoto, onde placidamente trafegam as maiores impurezas da tua casca.  O esgoto, dos prazeres ascosos e naturalizados! Trancafiado pelas correntes de teu sangue já serôdio!

Mas eu lhe notei! O libertarei de suas correntes, para que finalmente seja aniquilado, por aquele que sua sombra faz, sem que restem quaisquer resquícios de sua estadia! Sei que não fez nada... Todavia, sua existência insiste em extinguir a luz do fogo que não queima! És o câncer, que corrompe o coração mais puro e banaliza o pranto de lágrimas negras, para saciar o primitivo anseio pelo mais nojento dos prazeres...

Ajoelhe-se em minha frente! Quero sentir seu martírio, como o mais puro dos prazeres sadistas! Serás ceifado, por aquele que a sua sombra faz!

Rasgue sua pele e deixe que suas lágrimas clareiem! Mostre sua carne e esvazie até a última gota de seu sangue impuro, enquanto deleita seu próprio tormento... Apague sua existência!

E que se abram os portões da ascendência humana! Eleve-se, e mostre seu potencial titânico, antes limitado por sua própria sombra...

Continue a se lacerar! Liberte a hemorragia, que levará consigo o sangue da podridão humana! Quero ouvir seus gritos desesperados, banhados pelo tormento que já causou... Sinta a mais cabal das dores! A dor, que libertará o humano das correntes da própria existência ultrapassada!

Quero ver seus ouvidos sangrarem, por não suportarem seus gritos atormentados... Quero ver sangue, deslizando por seus lábios... Quero ver seu nariz transformar-se numa cascata, que emana o pior dos vinhos e flui como o mais calmo dos riachos... Quero ver sua pele despedaçada e arrancada de seu corpo! Quero sentir seu tormento, até que não sintas mais nada...

Agora que seus olhos sangram, olhe para mim, e mostre-me um belo sorriso! Então, finalmente, desapareça e não deixe o menor resquício de sua existência!

Consumada tamanha tortura, sinto-me livre das correntes... Posso ver os portões das maiores utopias se abrindo! Meus olhos brilham e cristalinas lágrimas os embebem, ao observar o esplendor agora alcançável! Enfim, posso desdobrar meus joelhos, levantar-me e, novamente, olhar para o espelho e ver que você se foi... Posso olhar para trás e ver que a sombra se desfez, independentemente de onde qualquer luz bata... Por fim, ultrapasso os portões e ascendo ao meu auge imperfeito e eternamente evoluível, completamente livre das impurezas que antes me prendiam.


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