O Coveiro

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De coveiro fui chamado. Em meu cemitério, lá estavam os que mais altos do que eu já foram. Inúmeras tumbas, tamanhos diversos, mas nenhuma tão grande quanto a minha.

Vagando pelo hotel, a procura dos maiores que eu. A estes, apenas duas opções: Os pés cortados, a medida que coubessem nas covas, ou o pisoteamento, levando-os ao esgotamento, fazendo-os cortar seus próprios pés, para que mesmo forçados coubessem nas covas. Das duas a segunda, o prazer em vê-los se automutilando era maior que qualquer coisa. Minha lâmina, sempre coberta do sangue do qual me alimentava. Desgraçados os que eram calçados, tendo botas invulneráveis a lâmina. Para meu conforto, esquartejava em dobro os descalços, precisava me balancear.

Agora vejo-me aqui, em meu cemitério cheio dos descalços sem mais pés, todos em suas tumbas. Olho para o lado, vejo minha lâmina sem sangue, pois desse, eu já consumi todo o que eu podia, pois só os de bota restaram. Faminto, levanto de meu trono, abro minha tumba e lá fico em pé. Observo. Todos os que eu pude, eu mutilei , ninguém me restou. Tumbas ocupadas, com exceção da minha. Levo a lâmina aos meus pulsos, e o corte é limpo. Gotejava do meu sangue em minha cova. Do meu sangue bebi, sendo minha única opção. Logo veio o enjoo, o sabor da inveja e ego não me agradavam. Empunho a lâmina, e rasgo meu peito. Caio na cova, junto da lâmina empalada em meu peito. Antes o suicídio, do que morrer da fome do que não posso mais caçar.

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