Ética

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Eis que nasce o cordeiro. Era inofensivo, pacífico, empático, justo, era próspero de exuberância. Mesmo assim, era compreensivo e nada arrogante, considerava-se no mesmo patamar de seus diferentes e semelhantes. O povo começa a acaricia-lo. Depois, o alimentam. Algumas de suas vontades, começam a ser cumpridas. Com lento ritmo de progressão, o colocaram em um altar. Agora, o cordeiro tinha um trono, que não fora concebido por sua própria vontade. Estava desconfortável, seu patamar havia sido elevado, por todos, menos por ele.

De uma minoria do povo, o Demônio se apodera. Presenteia-os com um leão enjaulado. Impor ama minoria, pensamentos aproveitadores e egocêntricos. A minoria, já cega por tais pensamentos, abre a jaula do leão. A fera rugia, a maioria se assustava. Os cegos, diziam ser inofensivo. A fera faminta, avista o cordeiro. Com sua incomparável força, o leão sobe no altar e devora o cordeiro. Por conta do conforto inegável, logo se acomoda no altar.

O povo em fúria, brada e amaldiçoa o leão e os responsáveis por sua soltura. A cega minoria, pede calma; o povo para; o leão levanta-se, e a convincente voz de sua dona começa a fluir: ''Acalmem-se, o cordeiro não se fora, só entrou no corpo do leão. Meu mascote, dirá o que o cordeiro diz a ele, e para mim será repassado, e logo o mesmo para vocês''. O povo respira aliviado, a voz os convenceu. Logo, a fera e sua dona começam a ser aplaudidos. O leão, agora se passava por cordeiro. As serventias antes do cordeiro, agora eram da fera.

Pouco a pouco, o leão ia crescendo, com a confiança e esperança que o povo nele depositavam. Na mesma proporção que seu corpo crescia, sua sede e fome também cresciam.

Agora de tamanho colossal, o leão se sentia-se superior aos que o alimentaram. Tinha mais poder e força do que qualquer outro e do que qualquer outra coisa. O povo estava cansado, seus estoques de esperança estavam se esgotando. O leão, tomado pelos pensamentos do Demônio, devora sua dona, sem mesmo ela perceber. Sem dona, o leão mandava em si próprio. O leão, consumira toda a esperança do povo, estava mais forte do que nunca, era seu auge máximo.

A fera, criada pelo Demônio, levanta-se do altar feito pelo povo. Com imponência jamais antes vista do leão, o povo para e o mira. Os sorrisos de adoração pelo leão, se transformaram em lágrimas de medo, sensação de traição, e no final, um mar de lágrimas de arrependimento foi derramado ao chão. O leão, bebeu das lágrimas. Seu último banquete, não fora de esperança alheia, mas sim do medo alheio. De suas patas, saltaram as garras, que rasgaram a todos que o alimentaram. Ondas colossais de sangue se formaram, e a essas, a fera admirava. Encantado por sua força, e pelo que havia feito, a fera se descuidou, e se afogou no sangue derramado por suas garras. Neste mundo, só restou a herança do Demônio, e o sangue, que um dia já representou esperança.

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