Capítulo VI

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A mesa se reuniu hoje, e desde o momento em que cheguei em casa não ouvi meus pais falarem nada sobre o que foi tratado, nem de como foi o dia deles, o que é muito comum em nossos jantares.

- Como foi o dia de vocês? – encarei minha mãe. Um suspiro longo.

- Cansativo, o número de enfermos tem aumentado cada vez mais.

- Imagino que sim, o número de furtos a remédios também tem aumentado. Alguma epidemia?

- Não, são casos isolados e comuns. Nada com que se preocupar.

- E a reunião? – senti uma tensão no ar enquanto mamãe encarava meu pai.

- O de sempre. Levaram o assunto dos furtos, vimos que suas propostas serão implantadas. Parabéns, filha – um sorriso de orgulho.

- Obrigada, mãe. Mas não é nada demais, coisas bem simples, qualquer um poderia pensar isso – e era verdade.

- Mas não foi qualquer um que propôs, foi você, e você deve se orgulhar.

- Ela tem razão, qualquer um poderia propor aquilo. Até eu, que não entendo muito sobre essas estratégias poderia pensar nisso.

- Mas não foi você, fui eu – uma coisa é eu achar que não foi nada demais, outra coisa é meu pai, como sempre, querer usar disso para me humilhar.

- A cada dia que passa, você fica mais abusada. Não acha, Veronica?

- Não. Acho que você não deixa a menina em paz, Heitor. Podemos ter um jantar em harmonia, por favor?

O silêncio voltou a tomar conta da mesa.

- Soube que os gênios estão mais perto de encontrar um novo lar, é verdade?

- Ah, o senhor Mbembe abriu a boca grande?- falou se referindo a Filipe - Realmente não podemos confiar 100% em ninguém da mesa, das equipes… - opa.

- Quando se está no poder é realmente difícil saber em quem confiar, não é mesmo? - se está desconfiando dos seus pares, pai, por favor me dê uma dica.

- Não cheguei até aqui por confiar nas pessoas, muito menos naqueles que têm a linhagem podre - imagino que esteja se referindo a Paulo Diderot, o gênio responsável pela Ala da agricultura e representante na mesa, isso porque o seu irmão Thomas Diderot, era um dos revolucionários que foram mortos. Não é uma associação muito difícil.

- Imagino que aqueles que têm a linhagem podre pensem o mesmo - falei em tom sério e recebi um olhar muito frio. - ainda assim, é uma notícia muito feliz.

- Claro, todos ficamos muito felizes – falou minha mãe com alívio em sua expressão.

- Falaram sobre isso hoje? Pretendem falar para todos?- A qualquer momento meu pai vai surtar e falar que estou muito “abelhuda”.

- Falamos sim. Mas…

- Mas não vamos falar para todos. Eles precisam de mais tempo, e não queremos dar esperança sem termos alguma prova – terminou meu pai, provavelmente com medo que mamãe falasse demais.

- Enquanto isso pretendem fazer o quê?

- Novas políticas estão sendo pensadas, para que possamos acalmar os ânimos. Esses furtos aumentando, mais e mais pessoas ficando doentes, as pessoas precisam de um limite.

- Precisam acalmar os ânimos ou colocar mais limites?

- Não venha com suas filosofias, Sara.

- Não é filosofia. Eu só quero entender o que vão fazer com as pessoas que estão ficando doentes, por exemplo, porque eu acho, apenas acho né, que elas não ficam doentes porque querem. E aí vocês querem impor limites para que, exatamente?

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